"Floresta Vermelha" - Conto

"Floresta Vermelha"

Estas são as passagens de um diário que foi encontrado em uma cabana abandonada, localizada ao norte da Floresta Vermelha, perto da cidade de Pripyat, Ucrânia. Sua existência teria sido mantida em segredo pelo governo da URSS (antiga União Soviética) e somente agora está sendo divulgado ao público, graças a uma fonte anônima.

Seu conteúdo narra alguns fatos que ocorreram logo depois do grande desastre na Usina Nuclear de Chernobyl, no ano de 1986. Os relatos são extremamente perturbadores e seu autor é desconhecido.

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26 de abril de 1986.

          Muito bem, acho que eu devo ser sincero logo no começo e dizer que eu não faço ideia de como esse negócio de "Diário" funciona. Eu não sou um homem do tipo poético, nem sou muito bom com as palavras. Sou apenas um homem de 40 anos que vive sozinho em uma cabana no meio da floresta, e nada realmente interessante acontece por aqui. No entanto, acho que os fatos que ocorreram durante essa madrugada talvez sejam dignos de nota.

          Acordei por volta de uma hora da manhã, assustado e confuso. Quando o susto inicial passou, percebi que o que havia me acordado tinha sido um gigantesco estrondo, um barulho tão alto que fez as paredes da minha humilde cabana vibrarem. Como se uma bomba houvesse explodido não muito longe de onde eu estava.

          Não me orgulho em dizer que nessa hora eu entrei em pânico.

          Me levantei, coloquei minhas botas velhas, meu casaco, abri a porta e saí da cabana para ver o que havia acontecido, levando meu rifle comigo. Agora, não sou paranóico nem nada disso, mas o rádio não pára de falar sobre como os americanos podem nos atacar a qualquer momento. Além disso, um homem que vive sozinho no meio da floresta tem que estar sempre prevenido.

          Assim que coloquei o pé para fora da cabana, olhei de um lado para o outro, tentando ver o que tinha provocado aquele barulho tão alto, mas não vi nada. Olhei então para o alto e eu pude ver um clarão no céu, lá longe. Esse clarão parecia refletir nas nuvens, deixando-as coloridas, como as auroras boreais que vemos no céu dos estados mais ao norte. Achei tudo isso muito entranho e decidi que seria melhor voltar para dentro da cabana.

          Não faço ideia do que causou aquele estrondo, muito menos sei o porquê de o céu estar colorido daquele jeito. Talvez não tenha sido nada e eu esteja aqui falando (escrevendo) bobagens. De qualquer forma, eu duvido que eu volte a escrever nesse diário.

27 de abril de 1986.

           Aparentemente eu estava errado, olhem só. Tenho mais algumas coisinhas para escrever nesse diário.

          Como eu moro no meio da floresta, minha única forma de comunicação é um rádio transmissor, uma bugiganga velha da época da guerra, que nem deveria estar funcionando mais. De alguma forma eu consegui pegar uma palavra ou duas de uma conversa em uma frequência fechada e acho que estou finalmente entendendo o que aconteceu.

          Aquele barulho que havia me acordado duas noites atrás tinha sido realmente uma explosão. Aquela usina gigante em Chernobyl foi pelos ares. Desde ontem de manhã tenho ouvido helicópteros do exército sobrevoando a floresta e indo em direção a usina. Eles estão tentando apagar o fogo ainda, então o estrago deve ter sido enorme.

          Espero que o fogo não se alastre pela floresta. Não gosto da ideia de bombeiros ou do exército andando por aqui. Acho que ficarei quietinho aqui em minha cabana e vou esperar para ver o que acontece.