Capítulo 1

77 10 69
                                    

— Eu só espero que esse verão seja melhor que o último — digo pensativa, assim que Matteo estaciona em frente a nossa casa de praia

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

— Eu só espero que esse verão seja melhor que o último — digo pensativa, assim que Matteo estaciona em frente a nossa casa de praia.
    Continuo parada no veículo por alguns segundos, enquanto meu irmão desce do carro e, Maria Júlia, Laura e Samuel que estão nos bancos de trás, fazem o mesmo.
— Amiga, eu juro, esse vai ser o melhor de todos! — Maju exclama toda empolgada, pendurando os óculos de sol no topo da cabeça.
    Suspiro, pronta para descer do carro.
    Antes que eu pegue na maçaneta, Samuel aparece em minha porta e a abre. Ele me dá um sorriso tímido e eu retribuo, colocando minhas pernas para fora.
— Obrigada.
— Não há de quê.
— Ai gente, vamos entrar. O sol está me matando — reclama, Laura.
     Reviro os olhos, sabendo que vou ter que aguentá-la durante dez dias.
    A pessoa decide passar as férias na praia e reclama do sol.
    Ela sai marchando com seus saltos finos pela fachada do casarão.
— Aff, a gente vai ter que aturar esse pedaço de estrume — cochicha Maju em meu ouvido e eu dou uma risadinha.
— Eu ouvi isso! — repreende meu irmão, batendo a porta do porta-malas depois que ele e Samuel tiram todas as nossas bagagens.
— Não temos culpa se sua namorada é um pé no saco — retruco, puxando minha mala preta de rodinhas e ajeitando a mochila nas costas. — Por que trouxe ela, hein?
— Por quê ela é minha namorada? — responde, como se fosse óbvio.
    Reviro os olhos mais uma vez e vou andando na frente com Maju, deixando meu irmão se virar com as três malas de Laura e as suas.
— Andem logo, eu quero entrar! — ela grita da porta.
    Que Deus nos ajude!
    O casarão pelo lado de fora continua do mesmo jeito de quase três anos atrás quando vim pela última vez com nossos pais, mas sei que dentro está tudo diferente graças a minha mãe. Este ano, eles decidiram estarmos maduros o suficiente para passarmos dez dias sozinhos sem supervisão, enquanto os mesmos iam passar mais uma lua de mel em Buenos Aires; cada ano eles têm uma em um lugar diferente.
    A casa era de nossos avós (agora passada para mim e Matteo, que somos os únicos netos) por parte de pai, que hoje em dia não estão mais entre nós e desde que me entendo por gente, passamos todos os verões e as épocas mais felizes da minha infância e adolescência aqui.
    Encaro a construção de três andares na cor amarelo-claro com várias sacadinhas brancas viradas para a praia e depois observo o jardim bem cuidado ao redor. O caseiro já deixou tudo preparado para nós, casa limpa, geladeira abastecida e agora é só curtir.
    Matteo destranca a porta e Laura é a primeira a entrar.
— Ah, não acredito! — Ela se abana com uma das mãos enquanto a outra segura seu cabelo castanho acobreado em um rabo de cavalo, afastando-os de suas costas nuas. — Aqui não tem ar-condicionado?
    Juro, se eu continuar perto dela, é capaz de meus olhos nunca mais voltarem para o lugar de tanto que serão revirados.
— Não, meu amor, mas eu vou abrir as janelas. — Matteo caminha até as grandes janelas de vidro com madeiras brancas em volta e abre uma a uma. — Aqui venta bastante, você vai ver como é gostoso.
     Meu irmão e eu sempre nos demos muito bem. Ele sempre foi muito protetor e amoroso comigo. Até Laura chegar há um ano em nossas vidas. Talvez seja por isso que não vou muito com a cara dela, mas o maior motivo é que ela faz meu irmão de seu cachorrinho de estimação. Matteo faz absolutamente tudo que Laura quer e isso me dá nos nervos, pois é nítido o quanto ela aproveita de sua bondade.
    Quando Matteo termina de abrir as janelas, subo com Maju para os quartos. Neste corredor tem cinco quartos. Maju irá ficar num quarto de hóspedes ao lado do meu, Samuel no da frente, meu irmão e Laura resolveram ficar com o quarto do terceiro andar. Já imaginamos o porquê.
    Desfaço a mala de uma vez para ficar livre dela e coloco as roupas penduradas e dobradas no armário branco. Depois me jogo no colchão macio da cama king. Confesso que gosto mais desse quarto do que do meu na cidade grande. O quarto está com a pintura azul-claro em dia, cheio de decorações que remetem a praia, como o porta-copos em formato de concha que está na mesinha de apoio, o abajur tem cor de areia e na parede onde fica a TV, tem vários adesivos de estrela-do-mar, peixinhos e polvos. Foi minha mãe quem redecorou a casa inteira e ficou tudo impecável. Ela é designer de interiores e tem extremamente bom gosto. Ela sabe conciliar chiqueza e luxo num ambiente sem parecer esnobe.
    Respiro fundo para sentir o cheiro da maresia e o barulho das ondas se quebrando. Ajeito mais a minha cabeça no travesseiro. São quase duas horas da tarde e tudo que eu queria era poder tirar um cochilo depois de oito horas de viagem, mas assim que fecho os olhos, alguém bate à porta.
— Vamos para a praia pra curar a alma... — Maria Júlia entra em meu quarto, cantarolando.
    Ela já está com um biquíni amarelo fluorescente, óculos de sol, bolsa e saída de praia enrolada na cintura.
— Ah não, Maju! Eu quero dormir — choramingo, enfiando a cabeça debaixo do travesseiro.
    Sinto algo grudar em meus cabelos. Sento-me depressa, puxando o que quer que seja preso em meus fios e quando consigo tirar, encontro uma pulseira prata cheia de berloques que ganhei de Ravi em meu aniversário de quinze anos.
    Meu coração idiota acelera. Porque não importa quanto tempo fico sem vê-lo ou sem pensar nele, é só chegar aqui que todos os sentimentos brotam em mim novamente.
    Não vou mentir, imaginei e recriei a cena do nosso reencontro várias vezes em minha cabeça quando Matteo disse que passaríamos o verão aqui. Não o vejo e nem nos falamos há quase três anos. Sem contato em redes sociais, Whatsapp e nem nada. No Instagram, sua conta é privada e ele recusou as solicitações até dos perfis fakes que criei. Minhas solicitações de mensagens foram igualmente ignoradas.
— Que linda! — Maju admira a pulseira assim como eu, brincando com o pingente de sol. — Por quê deixou ela aqui?
— Pra falar a verdade eu nem me lembrava dela.
    Aquele dia foi tudo tão conturbado que achei que tinha a perdido na praia após ter saído correndo atrás de Ravi. Não me lembro de ter a colocado debaixo do travesseiro.
— Foi o Ravi quem me deu.
— Tá preparada para reencontrá-lo?
    Eu nego com a cabeça.
   Se Ravi continuar como era, sei que fará de tudo para que eu ainda continue me sentindo culpada pelo que aconteceu.
— Ele é um pouco rancoroso, não sei exatamente como vai reagir.
    Maju ainda não o conhece pessoalmente. É o primeiro verão que ela vem com a gente; apesar de sermos amigas desde os dez anos. Seus pais sempre foram muito protetores e apesar de minha mãe ter tentado diversas vezes convencer a sua sobre a viagem, ela nunca a liberou.
    Ela puxa a pulseira da minha mão e vira o meu braço, encaixando-a ao redor do meu pulso.
    Não sei se quero estar com ela quando encontrar Ravi, mas também nem sei se vai lembrar que foi ele quem me deu.
— A gente não veio aqui pra você voltar a sofrer por sua paixonite adolescente. Vamos para a praia procurar uns surfistas. — Ela faz um movimento que faz com que os óculos que está no topo de sua cabeça caia e se encaixe perfeitamente entre a curva do seu nariz. — Bora!
    Não vai ter quase ninguém na praia e muito menos gatinhos, mas deixo que ela tenha esperança.
    Maju me obriga a levantar da cama, vou até a gaveta do armário e pego o primeiro biquíni que vejo e corro para me trocar no banheiro do corredor, já que no meu quarto não tem um.
    Laura decide ir com a gente e para chegar até lá, só precisamos atravessar o quintal e já estamos na areia, pois é uma praia privativa. Maju é a empolgação em pessoa, porque nunca viajou para a praia. Tenho que segurá-la para que a mesma não saia correndo para a água feito criança, enquanto montamos o guarda-sol e as cadeiras. A namorada do meu irmão logo se enfia debaixo da sombra e fica branca de tanto protetor que passa.
    Ela diz ter alergia ao sol, mas não sei se é verdade ou só frescura.
— Vamos dar um mergulho, quer ir? — pergunto a ela, enquanto tiro o short jeans, os óculos e desprendo meu cabelo preto, sentindo as leves ondulações se esparramarem por minhas costas.
— Sim, sim! — é Maju quem responde.
— Não obrigada, o sal estraga meus cabelos. — Ela dá de ombros, se espreguiçando na cadeira e fechando os olhos, me ignorando.
Matteo pediu que eu pegasse leve com ela e fosse simpática, mas é muito, muito difícil.
     Ignoro-a e Maju sai me puxando pela areia em direção ao mar, enquanto conserto o biquíni rosa em meu corpo.
    Ela para de correr quando uma onda quebra em seus pés e solta um gritinho. Achei que ela teria ao menos um pouco de medo do mar, mas parece que não.
    A água está extremamente gelada quando bate em meus pés, mas está tanto calor que ela rapidamente esquenta.
    Quando menos espero, Maju dá um mergulho submergindo lá na frente onde a água bate em seu pescoço. Eu me junto a ela.
    Não fazia ideia do quanto sentia saudade deste lugar. Foi três longos anos sem pisar sequer em uma areia de praia desde a última vez que estivemos aqui.
    Aqui é minha segunda casa e se eu pudesse moraria aqui para sempre.
— Essa praia é muito vazia — comenta Maju, olhando de um lado para o outro.
    Posso ver algumas pessoas sentadas na areia, mas bem, bem distantes de onde estamos.
— É uma área privativa — explico, vendo uma pontinha de decepção em seus olhos.
    Maju sempre gostou de estar rodeada de pessoas, de lugares lotados, de sentir o olhar dos outros nela. Eu sempre fui o oposto disso. Não que eu seja tímida, na maior parte do tempo não sou, mas evito o máximo conviver com pessoas. Meu ciclo de amizade é bem pequeno. A não ser quando se trata de garotos, mas vamos deixar esse assunto mais para frente.
— Então quer dizer que nós não vamos ver gente?
    Rio de sua cara quando a mesma torce os lábios de uma maneira engraçada.
— Matteo provavelmente vai trazer um monte de garotos para cá, você vai ver. Ele é meio que popular aqui. — Dou de ombros e mergulho, sabendo que ela ficou feliz com a notícia.
    Ficamos mais de dez minutos mergulhando, dando cambalhotas e conversando sobre tudo que Maju deseja fazer aqui nesses dez dias de viagem. As expectativas dela são extremamente altas e aqui é uma cidade tecnicamente pequena, não há muito o que fazer, mas penso em vários lugares em que posso levá-la e não estragar sua primeira viagem ao litoral.
— Amiga, será que aqui tem tubarão? — pergunta Maju de repente, parecendo se dar conta só agora de quão longe estamos da areia.
    Sorrio para ela, desembaraçando meu cabelo com ajuda da água.
    Ela está boiando quando digo:
— Bom, aqui, aqui, eu acho que não, mas não posso te garantir. — Ela sorri, dando mais um mergulho. Quando ela ressurge, digo: — Mas sabe, aconteceu uma vez de uma menina estar surfando, um tubarão vir e comer o braço dela.
    Ela arregala os olhos.
— Sério?
     Balanço a cabeça em concordância, tentando segurar o riso.
   Uma onda grande nos pega e quando ela passa, Maju começa a gritar, tentando sair do mar correndo.
    Ela tenta correr dentro d'água. Solto uma gargalhada, notando seu desespero, que a faz tomar alguns caldos.
— Maju, é brincadeira! — grito, nadando até ela. — Qual é, você nunca assistiu Soul Surfer?
    Maju sai do mar e corre pela areia. Mergulho mais uma vez jogando meu cabelo todo para trás, antes de sair da água e ajeito meu biquíni que está pequeno demais em meus seios que cresceram exageradamente nos últimos anos.
— Era brincadeira — justifico, quando vejo sua carranca.
    Ela não responde.
— Temos que ir — diz Laura, se levantando e jogando o celular dentro de sua bolsa amarela de plástico. — Seu irmão vai dar uma festa e quer que a gente ajude a organizar a casa enquanto ele vai ao mercado.
— Mas a gente acabou de chegar! — rebate Maju.
— Você vai ter tempo para isso, Maria Júlia. Agora vamos.
    Laura se vai, carregando apenas sua bolsa. Faço uma careta para suas costas e desarmo o guarda-sol enquanto Maju fecha as cadeiras.
— Você me paga — rosna, pisando duro pela areia.
    Quando chegamos a casa, Maju deixa as cadeiras jogadas no jardim e eu guardo o guarda-sol em seu devido lugar, passando depois na ducha ao lado da piscina para tirar todo o sal.
    Seco-me um pouco e quando entro em casa, meus tímpanos quase estouram de tão alta que está a música. Procuro o controle da TV e reduzo o volume até quase não ouvir mais. Entro na cozinha encontrando Samuel e vários sacos de batatas congeladas e salgadinhos na bancada branca de mármore.
— Cadê meu irmão? — pergunto, inspecionando os pacotes de salgadinhos. Isso aqui não vai ser só para nós cinco nunca.
— Foi comprar algumas bebidas.
    Samuel está sem camisa e de costas para mim enquanto prepara alguma bebida no liquidificador. Quando vou fazer mais uma pergunta, ele liga o aparelho.
    Abro a embalagem de Cheetos enfiando um punhado na boca.
    O liquidificador cessa e o vejo despejando a mistura em dois copos.
— O Matteo não está pensando em fazer uma festa só para nós, não é?
    Ele solta uma risadinha, como se dissesse que sou ingênua.
— Não mesmo.
— Minha mãe vai ficar furiosa se souber. É a primeira vez que conseguimos vir sozinhos e ele já quer dar uma festa na primeira noite?
— Ela só vai saber se você contar. — Ele finalmente se vira para mim. Empurra um dos copos com a batida rosa em minha direção e puxa uma banqueta para se sentar do outro lado do balcão. — Prova.
    Samuel enfia um canudo de alumínio em meu copo e um, no seu.
— O que é isso?
— Vai ter que provar. — Ele dá de ombros, puxando meu pacote de salgadinhos. — Mas é basicamente batida de morango.
— Parece bom — constato, antes de puxar uma grande quantidade de líquido pelo canudo e engasgar logo em seguida e a bebida congelar meu cérebro.
    Ele ri enquanto eu tusso e puxa o copo para longe de mim.
    Definitivamente não é "basicamente batida de morango".
    Minha garganta queima.
— Esqueci que você é menor de idade, não pode beber.
Samuel vira o resto do seu copo goela abaixo de uma só vez para beber o meu.
— O que tem aí? — pergunto, indo até à geladeira em busca de água para tirar o gosto amargo da boca.
— Morangos, gelo, leite condensado, vodka e um dose de cachaça. — Ele me dá uma piscadela, terminando meu copo. — Tô pensando em fazer uns drinks hoje à noite.
    Estou encostada na beira da pia quando ele se levanta para lavar os copos, ficando bem próximo a mim. Enquanto ele faz seu trabalho, eu o analiso discretamente. Bom, pelo menos é o que acho que estou fazendo.
Samuel é amigo de Matteo há um tempo e desde o primeiro dia me senti um pouco atraída por ele e acho que ele também sentiu o mesmo. Mesmo eu sendo "nova", ele não olhava para mim como se eu fosse apenas a irmã pirralha do seu melhor amigo, não, ele me admirava e fazia com que eu me sentisse bonita e aquilo aumentava minha autoestima de alguma forma. Mas sabemos que é quase impossível rolar algo. Nunca ficamos sozinhos como agora e Matteo tem uma regra muito rigorosa com os amigos sobre chegarem perto demais de mim.
    Ele termina de tirar o sabão dos copos e do liquidificador e deixa-os no escorredor de louças. Pega um pano de prato para enxugar as mãos e quando percebe que estou o olhando, sorri para mim.
    E o maldito fica irresistivelmente lindo sorrindo. Seus dentes não são tão brancos, mas são perfeitamente alinhados – graças ao aparelho que me contou que usou dos dez aos quinze anos – e no canto da sua boca sempre forma uma curvinha sexy quando ele sorri. Seu cabelo liso está sempre bem cortado com um corte mais baixo nas laterais e com uma franjinha que cai por sua testa. Seu nariz é mediano e ele tem uma pintinha bem linda na bochecha esquerda, mas para ser sincera, o seu abdômen bem definido com gominhos e tudo que tem direito é o que mais me atrai e ele tem aquelas entradas que formam um V que meu Jesus!
— Você tem noção de que está encarando meu abdômen de uma forma bem safada, não tem?
    Eu quase me engasgo, parando de encará-lo no mesmo segundo. Mas me recupero e finjo uma confiança que só ele me passa, ignorando minhas bochechas queimando.
— O que é bonito é pra ser admirado, não é? — flerto, com um sorriso.
    Ele joga a cabeça para trás e passa a mão pelo rosto, como se estivesse tentando resistir a mim.
— Malu, Malu, não faça isso comigo! — Ele aponta um dedo para mim e se aproxima, ficando cara a cara comigo.
    Estamos os dois rindo feito idiotas quando ouvimos um baque na cozinha que me faz pular para trás.
— Que porra é essa? — Matteo se inclina na bancada, com as veias saltadas e o rosto vermelho.
    Afasto-me rapidamente de Samuel e vou para o lado do meu irmão, abrindo as sacolas para o distrair.
    Limpo a garganta, antes de dizer:
— Estávamos conversando, não começa.
— Já disse que não te quero sozinho com minha irmã.
— Calma, cara. — Samuel levanta as mãos em sinal de rendição. — Eu jamais faria algo com sua irmã... A não ser que ela queira — provoca, aumentando seu sorriso.
    Tiro a cara de dentro das sacolas e tenho que morder a língua para não gritar bem alto que quero.
— Você não vai fazer nada com minha irmã — diz, apontando um dedo para Samuel e depois se vira para mim. — e você não vai querer, tá me entendendo?
    Reviro os olhos, mas concordo com a cabeça.
— Pro quarto — manda.
— Vai se ferrar Matteo, eu não sou mais criança!
    Furiosa, puxo as inúmeras garrafas de dentro das sacolas.
— E pra quê tantas bebidas? — pergunto, após guardar vários fardos de cerveja na geladeira e ainda há muitas garrafas de não sei o quê em cima do balcão. — Se a mãe souber que você já está dando uma festa, ela vai ficar puta e vai baixar aqui em dois segundo.
    Abro a geladeira novamente para guardar as outras bebidas.
— Não, não, não! — Matteo me para antes que eu as coloque no freezer, tirando as da minha mão. — Essas não precisam ir no freezer, Malu — explica. — E a mãe não precisa saber de nada, vão ser poucas pessoas. Só nossos amigos das antigas.
    Não discuto, apesar de saber que é mentira, mas Matteo é responsável, sabe o que faz. Ele termina de guardar as bebidas, Samuel sobe para tomar banho e eu termino de comer meu Cheetos.
    Depois que termina de organizar tudo e deixa a bancada limpa novamente, ele se senta à minha frente.
— Ravi vem. — Ele me analisa. Só a menção de seu nome já me causa dor de barriga. — E ele vai passar esses dez dias aqui com a gente, então segura sua emoção.
    Empertigo-me, quase caindo da banqueta.
— O quê? Por quê?
— Porque ele é nosso parça e tem tempo que não nos vemos — justifica.
— Mas ele tem casa aqui!
— Mas quero que ele fique com a gente — rebate. Meus ombros murcham. — Tudo bem por você?
— Não Matteo, é claro que não. Ele me odeia!
— Ele não te odeia! — Ele solta uma risada anasalada. — Aquilo foi coisa de criança, você vai ver, ele nem deve lembrar mais disso.
    Nego com a cabeça, me levanto e saio da cozinha.
    Esses dez dias serão minhas trevas.

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.
Apenas dez dias Onde as histórias ganham vida. Descobre agora