CAPÍTULO ÚNICO

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Mal abro a porta de casa e vejo Luna, minha cadela, correndo em minha direção com o rabo balançando.

– Iziiii pepezinho de papai. — Falo e recebo um latido como resposta. Espero que seja de alegria. Aliás, tenho certeza que é de alegria.

É por tudo isso que sei que os fins de tarde sempre trazem um sorriso ao rosto. Não importa o que aconteceu no trabalho ou se o dia foi longo. Não quero mais nada além de um beijo lambuzado, de preferência. Chegar em casa é encontrar paz. Hoje, em especial, essa paz está multiplicada. É sexta-feira!

~celular vibrando~

– Nossa. A Renata nunca me liga. O que será que aconteceu? — Me questiono enquanto tiro a camiseta e atendo o celular.

– Miga? Aconteceu alguma coisa?

– Oi, Peu! Não aconteceu nada. Só liguei pra perguntar se você topa um happy hour.

– Ufa! Não faz isso comigo, mulher. Eu quase morro de susto porque você nunca liga pra ninguém e, de repente, ligação da Renata. Saravá!

– Tá, tá. Vamos?

– Vamos sim, miga. Eu só vou procrastinar mais um hora, pelo menos. Tenho que tomar um banho e dar atenção à Luna.

– Ok, viadinho! Te pego em casa se preferir.

– Ué? Vai dirigindo?????

– Não. De Uber, no caso.

– Ah! Pode ser, sim. Te mando mensagem quando estiver pronto.

– Combinado, então.

Enquanto converso com Renata, Luna está sentada bem à minha frente, olhando fixamente para mim. Quando dizem que o cão é o melhor amigo do homem, é porque são. E sou bobo o suficiente pra ser o tutor mais babão do mundo.

– Luna! Vai buscar! — Jogo a bolinha favorita dela. Luna corre como se não existissem móveis na casa e traz a bolinha. Jogo mais três vezes até que ela esquece o próprio tamanho e pula em cima de mim como se fosse uma filhote. E depois de me sentir esmagado, decido ir tomar uma ducha.

A sensação da água descendo por todo o corpo é revigorante. Parece que todo o cansaço vai embora e é trocado por um cheirinho de limpeza e a carinha de bebê que fica depois de toda esfoliação. E, saindo do box, lá está ela. Luna me espera fielmente deitada entre o corredor e a porta do banheiro. Sorrio enquanto enrolo a toalha na cintura e vou em direção ao meu quarto. Hora de escolher minha roupa e decidir entre "vestido para conquistar" ou "vestido para beber". Para ambas as condições, a roupa seria a mesma, mas o perfume não.

Sapato branco, bermuda creme, camiseta rosa, pulseira do relógio rosa... Olho de frente, olho por trás.

— É. O gostoso continua gostoso! — Penso alto. O próximo passo é mandar uma mensagem pra Renata.

"Miga. Tô pronto, viu? Quando quiser, pode chegar por aqui."

Envio.

O celular vibra tão rápido que me espanto. É Renata:

"Chego em 5 minutos."

Antes que a Renata chegue, deixo bastante água e ração pra Luna. Recebo mais uma mensagem dela me pedindo pra esperar no portão. Lá fora, passava um carro branco que começou a andar lentamente ao meu lado.

"Será assalto?", penso. Consigo ver apenas um garoto que estica o pescoço para olhar nos meus olhos e buzinar. Com um atraso de 5 minutos, Renata chegou e eu fiquei irritado pelo medo que passei.

– Quase fui sequestrado e tive meus órgãos vendidos por tua culpa.

– Que história é essa?

– Ai... Passou um cara aí que reduziu a velocidade do carro quando estava passando ao meu lado.

– Ah, Peu! Certamente te achou bonito. Não era sequestro.

– Não dá pra confiar nessas coisas.

Ficamos em silêncio até chegarmos no bar. É o pub mais badalado da cidade e está repleto de héteros tomando clone de chopp.

– Por isso que você me ligou, né Renata?

– Peuzinho, meu amor!

– Vai chantagear outro, meu anjo.

– Ai. Hoje tem clone de chopp. Eu só queria beber mais barato e ficar louca. Tem mal nisso?

– O lugar já é o mal na Terra.

– Hahahahaha. Bobo. Vem, senta aqui.

Sentamos numa das mesas disponíveis e começamos a beber. E eu só me dou conta que bebemos sem respirar na quarta ou quinta rodada de chopp. Também começo a notar um olhar que vinha me incomodando desde que cheguei. No bar dos drinks, tem um rapaz que aparenta ter 1,80m de altura. Ele veste uma camisa branca com metade dos botões abertos, usa uma pulseira de couro no pulso esquerdo, uma calça jeans super skinny e um mocassim de couro marrom. Tinha a impressão de já ter visto esse rapaz em algum lugar.

– Miga. Olha aquele boy ali no bar. Acho que ele tá me encarando demais.

– Eita! Pior que tá mesmo. Vai lá pedir uma piña colada pra mim e aproveita pra ver se não estamos loucos.

– Tô indo.

Chego no bar e, antes de terminar o pedido, ele olha fixamente pra mim e fala:

– Eu nunca achei que te encontraria aqui.

– Como assim?

– Será que você lembra de um Onix branco que passou bem perto de você na rua, com um cara superbem apresentado esticando o pescoço e buzinando na sua direção?

Entro em pânico.

— Não acredito! Era você? — Pergunto ainda atônito.

– Sim. Te achei muito gato, só que estava apressado pra encontrar minha namorada.

– E você me achou gato e tem uma namorada?

– Claro, ué. Além de ter um relacionamento não monogâmico, eu e ela somos bissexuais. Então nenhum problema de achar pessoas bonitas e tal.

– Ai, desculpa. Minha cabeça rodou um pouco, mas é culpa do chopp.

– Hahahahahaha. Boa! Me chamo Marcos.

– Eu sou o Pedro. Prazer.

Ele segura minha mão firmemente e diz:

— Prazer é o que poderíamos ter juntos. — Fico um pouco corado.

– Tem razão. Se quiser...

Naquele momento, decido conhecer a casa do Marcos. Renata continua no pub. Ela já tinha convidado outros amigos, que chegaram antes da minha partida. Fazia um tempo que não me aventurava assim, com estranhos, mas Marcos é muito lindo e o jeito que ele fala é um encanto. Aproveitamos a noite de todas as formas possíveis e repetimos o sexo algumas vezes. Mas, quando o sol dá as caras, levanto e vou pra casa.

Eu não me sinto sozinho ou tenho necessidade de estar com alguém para me sentir completo. Muitas vezes, já me questionei sobre ser assim, se é errado, mas hoje eu conheço muitas pessoas que são do mesmo jeito. E o importante é conhecer a si mesmo. Chego em casa. Abro a porta e, mais uma vez, lá está ela: minha companheira de vida, Luna.

LunaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora