1. Feliz ano novo

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Nem todas as viagens de Marcus no último ano tinham sido a trabalho. Isso explica porque ele anda estranho, extravagante, querendo compensar as besteiras que faz em segredo com presentes ou viagens, mas Amanda não é de se impressionar com pavonices.

Uma semana antes do casório, suas amigas a capturam de surpresa em uma viagem de carro para comemorar os últimos dias de solteirice. Hospedam-se em um hotel bacana, passeiam pela cidade e terminam a noite em uma boate, desafiando a resistência alcoólica com shots de tequila. Na manhã seguinte, em um brunch no clube da cidade, Amanda avista ninguém menos que Marcus, o noivo.

— Mas o que ele faz aqui? Quem é aquela? Ei, por que eles estão tão perto? Eles estão se beijando?

As amigas de Amanda ficaram tão indignadas que pensaram em confrontar Marcus e fazer um escândalo na cena do crime. Ela não quer fazer alarde. Atordoada pelo que vê, Amanda se levanta e diz com a voz serena que vai embora. Marcus continua na sua demonstração pública de afeto, sem saber que estava enterrando seu noivado.

A conversa entre os dois só acontece dias depois, quando ele volta de viagem. Depois de tentar, sem sucesso, abrir a porta do apartamento para onde eles tinham se mudado recentemente, Marcus toca a campainha. — Oi, amor. Não sei o que aconteceu com minha chave.

— Eu sei! Troquei a fechadura.

— Hã? Como assim? — ele perguntou, confuso.

— Você nem se preocupa em ser visto por aí com outra, Marcus? Na semana do nosso casamento?

— Do que você está falando?

— Não vou gastar minha energia explicando o que você já sabe. Ninguém me contou. Eu vi. Agora, nem precisa desfazer suas malas, só pegue a outra que está em cima da nos... da minha cama e depois eu separo o resto.

Amanda tem a terrível tarefa de desconvidar as pessoas, antes que seja tarde demais. Está magoada sim, mas tem que lidar com isso. Não antes de chorar e xingar Marcus até a última geração, consolada pelas duas amigas mais próximas, Danielle e Erica. Buffet, cerimonialista, igreja (ela nem queria casar na igreja), vestido, lua de mel... Epa, lua de mel, não! Sumir por duas semanas continua sendo uma ótima ideia.

A mãe de Amanda compreende os motivos da filha não querer dar as caras nas celebrações de natal. Ter que encarar a família depois daquele desastre seria um pesadelo. Imagina ter que explicar para cada tia curiosa os motivos do cancelamento do casório? Então, sozinha em casa, Amanda passa a véspera de natal fazendo a mala para sua lua de mel solo em Bora Bora.

Amanda tira aqueles dias para refletir sobre a relação com Marcus e chega à conclusão de que lamenta mais pela vergonha de ter que desfazer um casamento do que por perder o noivo. A intimidade dele com a moça no clube mostraram que aquele não era um caso repentino. Eles pareciam se conhecer muito bem. Claro! Enquanto Marcus e Amanda estavam noivos, ele tinha outra.

***

Amanda chega à noite no hotel, depois de uma conexão perdida. Cansada da viagem, larga a bagagem no chão, se joga na cama e nem repara na vista incrível. Doze horas depois, acorda resmungando, sobressaltada com o alarme do telefone tocando como se fosse dia útil.

— Ai, não! — Vira pra lá e pra cá na cama até decidir levantar de vez. — Caramba! — disse, andando em direção à varanda.

Como nas fotos do Google, o mar e o céu em azul turquesa, a ponto de ver sem muito esforço os cardumes passando abaixo do bangalô. Amanda procura o celular no meio dos lençóis para tirar uma foto e mostrar para Dani e Erica, mas o aparelho está descarregado.

Depois de apreciar seu café da manhã sem pressa na varanda, Amanda joga livros e toalha na bolsa para conhecer as dependências do hotel e ler em uma das espreguiçadeiras na areia. Pouquíssimos hóspedes circulam pela praia e, apesar dos lugares disponíveis para se sentar, um cara tatuado com chapéu bucket — quem ainda usa isso? — se senta ao lado de Amanda. — Você tem bom gosto. Gosto de Toni Morrison também.

Bora Bora SunriseOnde as histórias ganham vida. Descobre agora