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A terceira semana de Remus e Sirius na casa dos Black se aproximava e o silêncio entre eles crescia. Nas primeiras noites havia muito o que conversar, muita coisa tinha acontecido, eventos frescos na memória, assuntos novos e um alívio enorme no peito.

Mas com o passar dos dias o presente perdia espaço e a tensão entre eles crescia. A casa grande e vazia ocupou o tempo de ambos. Tinham um bom plano para ela, arrumá-la minimamente levava tempo, e era cansativo. Contaram com pouquíssimas e rápidas visitas. Na maior parte do tempo, tudo que restava eram os resmungos de Monstro e do retrato da Senhora Black, além das trocas de palavras durante as refeições.

Os olhares eram furtivos e Sirius, muito mais do que Remus, estava inquieto. Ainda parecia um homem extremamente cansado, apesar de ter melhorado quase totalmente a aparência de quando saiu de Azkaban. Seus cabelos negros estavam macios, Lupin o ajudou a cortá-los e a aparar a barba, e aquele momento foi o último em que estiveram tão próximos um do outro.

A lua cheia não tardaria em chegar e ambos não estavam pensando muito nisso. Talvez porque o silêncio entre eles queria dizer muita coisa e justamente tomava todo e qualquer pensamento que tivessem.

Naquela noite de sábado, depois de um rápido jantar, Sirius não resistiu em tirar de um dos armários uma velha garrafa de Whisky trouxa, não era tão forte quanto gostava, mas o efeito ligeiramente diferente o tornava agradável.

Considerou tomar alguns copos sozinho e se deitar, afogando-se em seus próprios sentimentos e ignorando o resto. Mas ao ouvir Remus brincar com as teclas de seu velho piano, sentiu a necessidade incontrolável de estar lá com ele. Levou consigo dois copos e a garrafa de Whisky. Lupin não percebeu sua aproximação até que colocasse a bebida sobre o piano.

— Aceita beber com esse velho cansado? — Sirius perguntou, tentando um tom divertido.

O sorriso de Remus pareceu preocupado, o que era típico dele. Em outra ocasião talvez dissesse: Sirius, beber nunca resolveu problema nenhum. Mas dadas as circunstâncias, ele não disse, e apenas aceitou.

Lupin seguiu a tocar as notas, mesmo que não soubesse exatamente o que estava fazendo. Black gostava de vê-lo daquela forma, mas sabia que era só uma distração para pensamentos que rondavam sua mente, assim como os seus. Sirius secou o primeiro copo bem antes de Remus, mas o esperou, olhando para ele de canto vez ou outra, deixando seu olhar acompanhar seus dedos longos e magros pelas teclas.

Depois de servir a segunda rodada, talvez o álcool começasse a dar certa coragem, ou fosse apenas sua ansiedade crescente. Tinha muitas coisas a dizer, mas não sabia se deveria, como deveria. Tudo com Remus sempre foi tão delicado, e durante aqueles anos todos ele realmente não sabia até onde poderia ir. Por mais que tudo estivesse se esclarecendo, era tempo demais para que ousasse agir como se ainda tivessem dezessete anos.

Enquanto Sirius se decidia, a voz baixa e rouca de Remus o despertou:

— Me desculpe.

Aquela era a melhor e a pior coisa que ele poderia ter dito. A onda de calor atingiu todo o corpo de Black, era como levar um susto mesmo esperando que fosse acontecer. Lupin disse entrelinhas que estava aberto a falar sobre aquilo, que sabia que precisavam voltar àquele assunto.

— Não, não precisa — ele respondeu, se virando para olhar Remus.

Lupin não o encarou, manteve os olhos baixos, não tocava mais e seus ombros pesavam.

— É claro que preciso, Sirius... eu, de todos, precisava ter...

Quase instintivamente Black se aproximou, levando as mãos ao corpo dele, como fazia anos atrás quando sentia a fragilidade em Lupin.

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