Um pouco mais de tempo

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Um pouco mais de tempo.

Foi isso que Secré pediu quando o príncipe morria mais uma vez à sua frente. Ela queria contar a ele sobre tudo, sobre o futuro que eles queriam criar juntos, contar sobre Asta e Yuno e como seu sonho estava salvo com eles, contar sobre todos os anos que ela viveu como pássaro e sobre o caótico esquadrão que ela acompanhou. Mas até para ela, uma usuária de magia proibida, aquilo seria impossível. Eles já tinham adiado aquela despedida mais tempo do que seria possível.

Então ele se foi, e eles não tiveram mais tempo, apenas sobraram as doces amargas memórias dos dias que passaram juntos.

Lumière era um homem um tanto estranho. Apesar de genial e divertido, ele era o patinho feio dentro da realeza. Os irmãos Silvamillion não eram a definição de perfeição que se esperava dos herdeiros do trono, porém eram o que Secré acreditava ser a definição correta de realeza. Fosse pela mente revolucionária do príncipe ou pela falta de controle da magia da princesa, eles eram tão rejeitados quanto ela foi um dia.

Apesar disso, existia um dia em que todos do reino eram obrigados a aceitar a excentricidade do príncipe.

12 de fevereiro. O seu aniversário.

Por alguns anos aquele dia não foi triste, era um dia de festa. O castelo ficava animado, Tétia sorria ansiosa e Lumière era a pessoa mais radiante em todo o salão. Ele era o mais ansioso para como a noite iria terminar e como começaria, contando os segundo para o grande baile.

Apesar do príncipe não interagir com muitos nobres, naquele dia ele se esforçava. Enquanto o baile rolava ele ia de mesa em mesa conversar com as diferentes pessoas tentando convencê-los de suas ideias revolucionárias, aproveitando que naquele dia todos atenderiam sua vontade com medo de magoar o aniversariante.

Apesar de já ter se passado tantos anos, a memória da última festa de aniversário ainda existia na mente de Secré.

O salão todo decorado, a música suave que tocava de fundo, os nobres pomposos tentando exibir sua riqueza, Tétia em um lindo vestido delicado com o sorriso que ela guardava especialmente para aquele dia, e claro, Lumière com os olhos mais atentos do que nunca.

O príncipe separava sua melhor roupa e seus melhores sorrisos para aquela data. E ele seria a pessoa mais bonita da festa mesmo que usasse as roupas dos criados, seus olhos claros e os cabelos dourados chamavam atenção naturalmente, mas o sorriso dele seria capaz de iluminar o local com mais intensidade do que a sua mais forte magia de luz.

Naquele dia, ele foi de mesa em mesa como sempre, tentou convencer os nobres que suas invenções eram fantásticas e que eles deviam criar um mundo mais justo. Ele rodou o salão, dançou com as filhas das famílias mais importantes, roubou doces da mesa com uma criança e dançou uma longa valsa com sua irmã. Depois disso, ele veio até Secré, a pegou pelo braço e fugiu daquela festa. A vontade de tentar convencer os nobres a desistirem de tudo já não existia, porém o sorriso do príncipe era ainda mais radiante enquanto eles olhavam as estrelas juntos.

Hoje era dia 12 de janeiro, um mês para o aniversário do príncipe. Se ele estivesse vivo, já estaria ansioso e radiante para a festa que teria. Os convites já seriam enviados, ele iria provar pessoalmente cada um dos pratos que seriam servidos e sua criatividade para invenções estaria mais intensa do que nunca. E ela o acompanharia em cada uma dessas etapas, afinal ela sempre seria a sombra que acompanha a luz. Ele despertava o melhor nela, assim como a luz mais intensa fazia a sombra ficar mais escura.

Um pouco mais de tempo para aproveitar aquela noite, ela queria ter tido.

Seria um mês complicado.

Antes que a melancolia e a saudade a dominassem novamente, ela se transformou em pássaro e saiu voando atrás de algum de seus companheiros.

Um pouco mais de tempoWhere stories live. Discover now