Capítulo 1

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Novembro de 2012

Manchester, Inglaterra

A conversa seguia animada na van. Brandon, encostado na lateral do carro, ria em silêncio - qualquer movimento vocal poderia colocar em xeque o que ele faria naquela noite. Sentia a inflamação na garganta aflorar-se e cada respiro lhe causava coceira e um pouco de dor. A princípio, a voz não estava totalmente comprometida, mas uma nota mais aguda durante o show poderia ser arruinada por isso.

Mark, Dave e Ronnie conversavam, alegres. Diferente de Brandon, estavam esparramados e se divertiam. Ignoravam o silêncio do vocalista, sabendo da limitação daquele dia, mas não deixavam de caçoar dele ou brincar.

Junto deles, estava Jeremy no banco de passageiro da frente; o motorista era Jake, um dos músicos de apoio.

Eles estavam absorvidos em uma conversa, bem perto do local do show, quando sentiram um solavanco e a van deu uma freada brusca.

- Mas o que foi isso?! - Dave exclamou

- Acho que batemos em alguém ou alguma coisa - Mark tentava olhar para a frente

- Snake não pode dirigir mesmo, gente - Ronnie observou.

Jake e Jeremy já tinham saído. Brandon nem se mexeu, pretendia sair naquele tempo frio só se fosse obrigado.

- Se foi alguém, precisamos prestar atendimento - ele apenas observou, baixinho - Vejam se machucou muito.

- Está bem, cavalheiro - Ronnie murmurou, saindo junto de Mark.

Dave ia sair também, mas parou.

- Vou zoar o Snake pelo resto da vida - o guitarrista comentou

Ele e Brandon deram risadinhas. Brandon prestou atenção, eles ajudavam alguém a se levantar. Era uma moça, que parecia estar bem, apenas confusa. E pedia ininterruptamente desculpas.

- Acho que o erro foi dela - Dave comentou - Parece que o sinal estava "verde" para nós.

- Jake tem que prestar atenção em tudo - Brandon disse, firme - Independente de como estivesse o sinal, pedestres são prioridade.

- Brandon, se a pessoa surge do nada no meio da rua, não tem como prever e você sabe disso. Jake estava andando devagar, talvez ela tenha pensado que "daria tempo". Tanto que por ele estar devagar, não aconteceu nada a ela, só caiu e manchou o casaco. Mas... - ele interrompeu-se - Espere...

Brandon olhava atentamente para a moça. O ar tinha fugido dos pulmões.

Dave também parou de falar e olhava para a frente, fixamente. Estavam olhando pela janela fechada, mas ainda assim puderam ver.

A moça tinha se virado, de modo que eles puderam ver bem o seu rosto. Os cabelos avermelhados, que escapavam da touca desarrumada e do cachecol, eram longos. A pele branca estava bem pálida, sem cor mesmo, talvez pelo susto. Mas aquela expressão, Brandon conhecia bem. Aquele rosto jamais seria esquecido. Poderia viver até duzentos anos, lembrar-se-ia dele para sempre. Era uma sombra perpétua, carregada de dor e de mágoa, que o seguia como uma fiel companheira indesejada.

Cerca de trinta segundos mais tarde (o que para ele durou trinta horas), eles se despediram. A moça estava bem, até deu um sorrisinho, pediu desculpas e agradeceu pela atenção. Ela continuou andando, desta vez visivelmente prestando atenção por onde andava.

Jake, Jeremy, Ronnie e Mark entraram.

- Snake, saia do volante antes que acabe matando alguém - disse Ronnie, descontraído

- Cara, não foi culpa minha - Jake se defendeu - Ela saiu de trás da esquina, juro que não vi ela vindo...

- De qualquer maneira, ela mesma assumiu que não prestou atenção na rua - Jeremy comentou - Ainda bem que foi apenas um empurrão.

Brandon voltava à realidade. Engoliu em seco, sentindo a garganta fechada. Aquilo fez seus olhos lacrimejarem, mas não foi só a dor de garganta.

Notou que Dave também ficou pálido e silencioso. Ronnie olhou bem para os dois e não disse nada, mas nem precisava. O silêncio de Mark era normal, porém escondia inúmeros comentários. Jeremy e Jake foram conversando na frente, sem notar o silêncio da banda lá atrás.

O grupo chegou ao local do show em menos de três minutos e foram imediatamente acomodados. Anna, já sabendo da dor de garganta de Brandon, tinha lhe preparado um chá de gengibre e mel. Ele detestou em um primeiro momento, mas ele conseguiu recuperar um pouco da vitalidade e estava disposto a seguir em frente com o show.

Mas uma voz conhecida entrava em sua cabeça:

- Não dê seu coração à ela, Brandon. Ela vai apertar até esmaga-lo. Palavra de quem já viu ela fazer isso.

Brandon não só entregou tudo como viu ela realmente pisar em cima dele. Ela tinha sido a pior pessoa que ele já tinha conhecido, não era possível que ela voltava a aterroriza-lo. Certamente, deveria estar muito ocupada em sua vida boa para fazer isso.

Mas também não conseguia entender como uma pessoa idêntica a ela estava na Inglaterra, a menos de cinco minutos do local do show do The Killers.

Ela não ousaria aparecer por aqui.

Se perguntou o que faria, se fosse o caso. O que poderia fazer se ela voltasse a aparecer na sua frente?


Confessions of a KingWhere stories live. Discover now