Aprendendo a Gostar de Garotas

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Aprendendo a gostar de Garotas

Época de fim de ano. O que as pessoas fazem no Natal? Ficam com a família, comem bastante, dançam, cantam felizes. Todo mundo faz isso, né? É, eu acho. Menos eu.

Eu tenho que participar de brincadeiras de Amigo Oculto que detesto. Tenho que ir à escola nas vésperas do Natal. Tenho de ajudar com decorações e com compra de presentes alheios (para pessoas que nem conheço, inclusive). Família é o de menos. Vejo quase todo mundo quase todo dia. Quando o dia é santo mesmo, eu não preciso ficar me esforçando para ficar grudado neles, preciso? Acho que não.

Mas bem que eu trocaria algumas dessas atividades por uma tarde na casa da vovó. Infelizmente, não posso. Tudo porque elas praticamente me obrigaram a fazer outras coisas.

A elas eu me refiro à, primeiro, minha mãe.

– Você tem que participar. Vai ser o único da sua classe que não vai? Você que não gosta que falem da sua pessoa vai ser o motivo de todas as rodinhas de conversa quando as aulas voltarem...

Ela repetiu essas frases tantas, mas tantas vezes que eu tive até que concordar. Em algumas partes ela estava certa. Comentariam sobre a minha recusa durante todo o ano seguinte. Talvez até durante todo o período de três anos que eu ainda teria de passar no colégio. E, afinal, eu nunca havia me recusado a nada, mas nos últimos meses minha vontade de passar um tempo a mais com aquele pessoal era nula. A maioria deles me irritava bastante.

A segunda, Maria.

– Se você não participar, – ela falava, escrevia em papeis, em e-mails, no Skype e no Facebook – eu nunca mais vou conversar com você. Vou até pedir para me mudaram de carteira na sala. Talvez até de turma!

Se eu não a conhecesse tão bem nem ligaria para as ameaças. Mas eu conhecia e sabia que ela estava falando sério. Se eu não a tivesse na sala para me fazer companhia, quem faria? Ela era a única garota com quem eu tinha o mínimo de conversa, até de respeito e socialização. Se eu não dependesse dela para muitas coisas (inclusive para todas as próximas provas de história), eu teria rido na cara dela da primeira vez que ela tivesse me ameaçado.

Mas eu não ri. Eu aceitei que colocassem meu nome num papelzinho dobrado para ser sorteado durante a aula de português, a última antes das provas finais, há mais ou menos três semanas. Depois disso, foi só drama.

Tá, deixa eu explicar.

Essa é uma tradição da minha turma no colégio. Todos os anos a gente faz um Amigo Oculto de Natal. Já virou tradição mesmo porque... bom, somos a mesma turma desde o início do ensino fundamental. Contando que estamos no início do ensino médio, isso soma uns... sei lá, cinco anos? Mais ou menos isso. Sempre sorteamos no início de dezembro e as entregas são sempre no dia 24 – tirando no ano passado, que foi no dia 23 porque as mães de uns cinco alunos pediram à diretora para adiantar, por causa das viagens de fim de ano.

Isso mesmo. A coisa é tão sério que até nossos pais se envolvem.

E aí é que minha mãe entra, porque ela simplesmente adora essa época do ano. Ela adora participar da festa, de organizar a decoração, de ficar especulando quem tirou quem. Essas coisas bem mulherzinha mesmo.

O fato é que eu tenho que acompanhá-la em tudo isso, querendo ou não, e isso me irrita ainda mais. Os filhos tem de participar das atividades que os pais foram sorteados para colaborar. Por exemplo, a mãe da Maria ficou responsável pela comida, então ela também tem de ajudar – ou efetivamente fazendo a comida, ou organizando as coisas nessa área. (Por favor, que ela tenha preferido organizar! Se não, realmente passarei fome!)

Aprendendo a Gostar de Garotas {Aprendendo 0.5}Where stories live. Discover now