...

735 93 150
                                    

1981. October, 31. London, England.

"EXPECTO PATRONUM!"

Ele corria como se os passos apressados pudessem salvar a sua vida. Aparatar estava fora de cogitação quando três Dementadores o perseguiam por todos os becos, farejando a determinação que se esvaía através de cada ofego que soltava. Não era fácil respirar quando ele começava a pensar que não valia mais a pena sequer continuar lutando. Era forte, mais forte do que qualquer coisa que já enfrentou, mas ele teria que usar a coragem que fez dele um Gryffindor para lutar contra, porque se ele já pode, um dia, conjurar um Patrono corpóreo, isso queria dizer que ele tinha sim uma razão pela qual deveria superá-los.

O pálido fiapo de fumaça que surgiu de sua varinha foi o suficiente para confundir os seres encapuzados que colecionavam almas e transbordavam desesperança através das bocas secas e ocas, mas não o bastante para espantá-los de uma vez por todas. Eles ainda estavam ali, rodeando o Auror em treinamento como se, mesmo ficando desorientados por alguns instantes, o feitiço que lançara não tivesse efeito algum neles.

O protetor que Louis esperava surgir no lugar da bagunça de luz que apareceu na ponta de sua varinha era um veado, com galhas enormes e olhos amendoados; mas o animal não exigia a habilidade que o eterno defensor das cores vermelho e dourado possuía em verbalizar os nomes complexos dos feitiços que ele fez questão de decorar, nem mesmo a facilidade em movimentar a varinha de determinada maneira para que ele conseguisse conjurar outros.

O segredo, afinal, era a felicidade.

"Me diga, senhor Tomlinson, qual é a sua memória mais feliz?!"

E... talvez a felicidade fosse aquela coisa estranha mesmo, porque algo viera de surpresa, sem que ele sequer pensasse nisso antes. Talvez a memória pudesse ser o que vinha de súbito, que estava sempre em mutação, com diferentes níveis de importância. Talvez nunca fosse a mesma coisa, porque ele pensou, inicialmente, naquela memória que o auxiliou a conjurar o veado poderosamente alguns meses antes, mas que dessa vez não tivera tanto êxito. Talvez a memória mais feliz não precisasse ser, necessariamente, uma memória.

Talvez ela pudesse ser alguém.

"Me chamo Harry."

Olhos verdes, cachos grossos enrolando ao redor de um par de orelhas pequenas e covinhas em ambas bochechas moldando um sorriso brilhante de repente tomou toda sua visão. Louis não havia perguntado seu nome, mas isso não pareceu incomodar ou intimidar o garoto que praticamente invadiu o vagão que havia escolhido. Tinha planejado de antemão uma viagem silenciosa na companhia de seu exemplar de Trato de Criaturas Mágicas, mas Harry parecia ter outros planos para os dois.

"Eu sou novo aqui, sabe, nessa coisa de magia. Eu não sabia que era um bruxo até o Professor Dumbledore mandar uma correspondência para nós. Ela dizia que eu tinha uma vaga em Hogwarts desde que eu nasci! Louco, não é? Eu achava que as magias acidentais tivessem algo a ver com a minha sorte. Eu não tenho muita. Sorte. Procurei um vagão vazio por todo trem, mas quando a quinta pessoa me expulsou, meio que desisti. Esse era o próximo. Eu pensei mesmo que não tinha ninguém aqui. Mas... Você acharia ruim se eu ficasse com você?! Você parece ser mais velho, mas um mais velho legal. Um não tão mais velho. Poderíamos ser colegas?! Você pode me apresentar a escola e eu posso te ensinar a transformar suco em refrigerante quando seus pais não estiverem olhando. O que você acha?"

Harry não era o tipo de pessoa que parava para respirar enquanto falava, mas, ainda assim, sua fala ainda era lenta, preguiçosa. Mesmo anos depois daquele primeiro dia de conversa, Louis não conseguia entender como ele conseguia fazer aquilo. Aquilo de falar tanto e tão devagar, aquilo de entrar na sua vida sem permissão. Porque antes mesmo de ele perguntar se podia permanecer por ali, o estudante do terceiro ano percebeu que jamais conseguiria negar o que quer que fosse ao então calouro.

PatronusOnde as histórias ganham vida. Descobre agora