Banho

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banho

1

Desde muito tempo tenho descoberto o melhor horário para tomar banho. Os últimos dez minutos de sol no céu. Enquanto ele se põe. A água fica quente e imóvel. Como se todas as moléculas deste ser vivo de despedisse de seu pai. Como é gostoso entrar neste mar que se abre. Os passos quase não fazem barulho ou respingam água. Os pássaros parecem fazer sua última ronda nas árvores. Soando para quem ainda não os ouviu. As capivaras dão seu último passeio pelas gramas iluminadas pelo sol. Esses dias me deixam alegres como quem visita o paraíso. E antes da noite cair, vendo estas imagens verdes e marrons que estão por volta desta enorme bacia ao cair da montanha, que acumula o despejar da água recém conhecida do ar. Diz algumas palavras e se junta ao restante. Esta cachoeira alegra o meu nascer e o final do dia. Sua água amacia meu corpo. Corre por entre os baixos pelos e toca minha pele de bronze. Corre assim pela pele. Pego-a com a mão, e molho meu rosto, meus olhos.. Por onde toca, amortece e aprofunda. Se une a pele num movimento que passa por qualquer barreira que haverá nela. Seja algum pano ou sujeira. Esta água harmoniosa procura pelo corpo, busca as raízes da alma. Se une a ele. E nisto limpa todas as nossas sujeiras. Qualquer coisa que haja que não seja a pele, será umidecida num gesto generoso de fim, de desmaterialização. Assim, todas as sujeiras amolecem. Conheci algumas plantas e flores, que além do doce cheiro, ajudam nesta retirada de tecidos do corpo. Unem seu perfume com seus elementos e abastecem minha pele de nutrientes, quase que como um mel. E passo por todo o corpo junto com água. As pétalas da cor do arco-íris... As rosas, que transparecem apenas os raios solares.. As plantas que não se abrem pela beleza de suas grossas pétalas.. Roxas.. Seus fios verdes e aquosos.. Estas plantas finas e cheirosas... As pintadas flores com seus pingos coloridos e secos.. coloridos.. E dissolvem na pele, deixando sua divindade natural. A essência se une a pele. E o cheiro, fino, agudo e doce. Perceptível como, num piscar de olhos, dar de cara com um vale de flores e girassóis. O ar se curva diante das belas flores da floresta. Ao passar as flores, continuo o movimento com os dedos, que massageia a pele recém tratada. Esfrego meus dedos pela pele e sinto deslizar. Passo por todo o corpo e carrego a sujeira, tão bem tratada, que se joga para fora de nosso corpo. E sofrem os mais belos tormentos nas temperadas águas desta cachoeira tão bem cercada do retrato do paraíso natural.


2

Gostei do seu rosto quando resolvemos tomar o primeiro banho juntos. A ideia nasceu com estes teus olhares e este teu corpo, que implora pela liberdade. Estas ideias sempre ocorrem a nossa mente, você sabe. Esta sua reação, esta alma que clamou, com a pinta por sobre os lábios e o cabelo caído nos cantos dos olhos, neste corpo vivo, esta reação está em imortalizada em nós. A felicidade estava em nossas mãos ao tirar a roupa. Você sorria como um pássaro ao sair da gaiola. O imediato vôo ao abrir do cadeado. Quando entramos na água ouvia o seu respirar. Como quando respiramos tão perto de uma pessoa. Você andava de um lado para o outro e eu buscava as flores para passarmos. Te explicava e você ouvia e me dizia algo. Ríamos e a água vibrava, ora do seu corpo para o meu, ora do meu para o seu. Eu estava conhecendo muitas coisas novas e gostava de contar todas. Isso nunca nos deixava nervosos. E até neste momento ríamos e falávamos das coisas novas. Você perguntava como isto aconteceu e eu contava uma idiota história cheia de emoções nos olhos. E vi a emoção dos teus olhos que saltaram. Tão doce foram as suas pupilas que, entendi por que estas emoções eram tão úteis a vida como a fotossíntese das plantas. Quando voltava com as mãos levantadas, olhei teu rosto, talvez você já soubesse que teria algo para falar; e esperou. ''Posso dar banho em você?" E seus olhos pularam, docemente, surpresos. Você olhou para mim segurando as flores. Seus ombros mexem e o rosto inclina, Seus lábios mexem. Os olhos declaram o amor e um gosto prévio de felicidade que prevíamos inexistente. Este brilho que costumamos ver no olhar, vi em seu corpo. Que dava ordens para mim. Umedeci teu rosto, com a água selvagem da cachoeira. Amarrei seu cabelo. Seu corpo molhado estava tão quente perto do meu. A água fazia algo de sobrenatural em nosso corpo, ou nosso corpo fazia algo de sobrenatural para a água. Floreei sua pele. Seu pescoço, ,os ombros, o tronco, os peitos, a barriga, os sorrisos ao umbigo, sua pele continua linda, e mesclo a flor com a água por sua cintura, sua bunda e, abro-a, como as metades da laranja, lentamente e, com certa eletricidade, que nossos corpos respondiam com impulsos do mais iluminados prazeres. Suas pernas e seu pé, quentes e molhados, que tocam o chão com essa aura mágica do seu corpo, que recebe tão suspiradamente, a terra. Passei por todo o seu corpo e quando acabei, você disse com seu olhar, ao sentir o ar passar por nossos corpos, como estávamos limpos. Seu corpo que exalava o mais doce e colorido cheiro. Seu sorriso exalava o mais doce e iluminado som.


3

Esta doce e ingênua lembrança, este gosto, entorpece as raízes do corpo. Que não demora a incendiar as lembranças plásticas dos momentos de prazer indescritível. Este incêndio imediato leva a mais profunda natureza ''individual'' do homem. A passagem secreta do ser humano pela terra. Se masturbar e transcender para, o êxtase do amor, o prazer do corpo. Aquelas profundas respirações de agonia, que corre pelas veias tocando todas as partes do corpo. A ascensão do corpo acompanha as molhadas lembranças. Lembro da festa que aparecemos por acaso. Nem eu nem você conhecia muito o aniversariante. Mas fomos mesmo assim. E quando cheguei você bebia. Ao cumprimentar sua mão tocou o meu cabelo e você logo afastou. Os olhos mal conseguiam dizer. Nos olhávamos por todo o lado da casa. Sua cintura a mostra numa camisa curta preta. Sua calça preta. Sua silhueta ao passar pelas paredes, janelas, geladeiras. O que os olhos diziam em sussurradas palavras, os corpos gritaram. Os barulhos estavam ao fundo dos nossos corpos. Que se tocavam enquanto dançavamos. Você estava na frente e, com as suas costas e sua bunda, mexia comigo. Ora afastada, ora perto, minha mão tocava sua pele e você respondia com o corpo. Te via passar e nos olhávamos. Eu esperava por uma pessoa no banheiro, e você apareceu, achando que ninguém via. E rodou sua cabeça apoiada na parede, disse algumas palavras para o ar, olhava para o teto. Sua cabeça apoiada procurou alguém e me achou. Fui para perto e juntei seu corpo na parede. Os corpos pareciam tão pequenos. Tão pequenos. Nos beijamos rolando pela parede. Girando e rodando. Delicados eram os toques fortes que dávamos um ao outro. Os beijos molhados incendiavam nosso corpo. E alguém abriu a porta e saiu do banheiro. Imersos em nossos beijos não olhamos, e entramos no banheiro. Coloquei a mão no seu corpo e você respondeu. Tranquei a porta. As paredes brancas recebiam seu corpo e você virou de costas. Meu lábio encostava na sua nuca. Você pegava no meu corpo. E se retraiu. Abaixamos as calças. Levantava o corpo na ponta dos pés, e erguia suas costas inclinando o seu corpo para a frente e para a trás. Estávamos indo fundo. Nossos corpos molhados sentiram falta dos beijos e você virou. Nos beijamos e você se amassava em mim. Se apoiava cada vez mais em mim e ergui seu corpo. Suas costas colaram nas paredes e você se mantia no ar grudada em mim. Entrei em você. Seu lábio fino não desgrudava do meu. Nossos corpos também estavam colados. Deslizávamos enquanto sentíamos o prazer. E acabamos os dois electrocutados. Meu corpo retraiu. Como era bom lembrar disso. A masturbação é este pensar. Esta intensidade ao pensar. Pense que uma pessoa pense em você por um ano inteiro. Não pense em mais nada, só em você. A masturbação é toda a intensidade acumulada deste um ano, neste breve instante em busca do prazer. Para achar este túnel secreto, deve alcançar esta intensidade proporcional a um ano, em alguns minutos. No pensar e sentir.


4

Termino o banho com o resquício das flores que transbordam na água. Os pássaros já estão mais a dentro da floresta. O sol mais escondido no universo. A lua surge do outro lado e os ventos começam. Cai a noite e é assim. Esta lua sobre mim. A água começa a cair mais forte na cachoeira. É hora do ultimo banho neste despejar d'água e sair. O rosto e o cabelo molhados, recebem o ar. Recebemos o gelado adeus. Raras vezes acho algum lugar para secar o corpo. O vento algumas vezes se encarrega disto. Arrepiando os pelos enquanto passa pelo corpo. O restante de água que carrego, não me preocupa. Sei que facilmente o fogo que há em mim secará a pele e os cabelos.

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⏰ Last updated: Aug 09, 2018 ⏰

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