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Diário da capitã, data estelar 105653.91

Estamos atracados em Deep Space 15 para atualização dos sistemas de acordo com os novos protocolos da Frota Estelar. Isso deu tempo para a tripulação descansar e interagir com os novos técnicos e oficiais recém-chegados.

Em breve começaremos uma missão de rotina, ainda que longa, no quadrante Gama, primeiro com cartografia do espaço profundo e em seguida com missões geológicas em vários planetas classe M identificados pelas sondas espectrais em Deep Space 9. Estamos abrindo caminho para instalar novas estações e colônias deste lado da galáxia agora que temos um acordo de exploração com os cardassianos e bajorianos.

Tenho tido dificuldades para dormir novamente. Doutora Selar, em sua lógica fria e metódica, me indicou métodos para induzir o sono, mas a única solução ultimamente é o leite com chocolate e mel que minha mãe fazia quando eu era criança e chorava com as chuvas torrenciais que sacudiam as janelas em nossa casa em Betazed. O pior são os pesadelos. Quando consigo dormir, ouço as bombas, os gritos e os pedidos de socorro. Sim, a Guerra Cardassiana acabou faz 9 anos, mas ainda estamos contando os prejuízos.

Martina DeSilva terminou seu diário e se recostou em sua cadeira. O alojamento da capitã da USS Medusa era espaçoso, bem iluminado, mas ela via sombras aqui e ali como se estivesse novamente na selva cardassiana nos arredores da capital. Outro sonho ruim a colocou para fora da cama muito cedo. Resolveu colocar os diários em dia enquanto tomava um capuccino cremoso tirado do sintetizador com um croissant. Os aromas que a levavam de volta para casa sempre a acalmavam.

Algo a deixava inquieta nos últimos dias. Estavam ancorados em DS15 nos últimos cinco dias, um tanto imóveis e entediados enquanto especialistas em computação da Frota fazia suas atualizações no núcleo do computador.

A Medusa era uma nave classe Galaxy, lançada ao espaço três anos antes do fim da Guerra Cardassiana. Era essencialmente uma nave de batalha, grande, bem armada, lenta em manobras orbitais, mas feroz em combate. Vinha aos poucos sendo adaptada para ser uma nave de exploração como todas as outras, como qualquer outra nave da Federação deveria ser. Era nisso que Martina acreditava, era nisso com o que queria trabalhar

Martina apenas queria fazer alguma coisa. Mais tarde naquele dia os técnicos em computação garantiram que as atualizações estariam todas prontas e ela poderia partir para sua missão. Talvez a imobilidade e a falta do que fazer a deixassem incomodada, já que se estivesse ocupada com alguma coisa, sua cabeça não voltaria para as selvas cardassianas abafadas onde quase morreu.

Deixou seu alojamento atenta a algumas informações de rotina em seu pad, cumprimentando aqui e ali seus tripulantes. A nave andava agitada com o vai e vem de técnicos e ela falava com mais gente nova a cada dia.

— Bom dia, capitã.

Martina ergueu os olhos e sorriu para o seu engenheiro chefe, Ahmad Fakhoury, que a acompanhou até o turboelevador.

— Bom dia, Ahmad.

— Pronta para uma revanche de springball? - ele perguntou com ironia sobre o jogo bajoriano do qual era especialista.

— Você enlouqueceu? Eu mal me recuperei da última partida.

— Está fugindo do jogo, capitã?

Ela o observou com um desafio irônico no olhar, ergueu o queixo e bateu levemente com o pad no peito de Ahmad.

— Justo você, que esteve na linha de batalha comigo, me dizendo isso. Quer uma reprimenda na sua ficha, comandante?

— Não, capitã, de jeito nenhum. - ele riu e saltou no nível da engenharia - Mas vou cobrar, hein?

— Sei, sei... - e o turno elevador se fechou.

A ponte da Medusa seguia o modelo das naves Galaxy dos últimos 15 anos, mas com o dobro do tamanho da Enterprise E, pois precisava de estações de batalha que não eram necessárias antes durante a guerra. Elas agora foram convertidas em terminais de consulta e em painéis adicionais de ciência e engenharia, onde trabalhavam alferes e oficiais recém-graduados que a cumprimentaram quando entrou.

— Bom dia, Ogawa.

— Bom dia, capitã.

Reo Ogawa era seu primeiro-oficial desde antes da guerra. Não podia contar em quantas batalhas eles estiveram na linha cardassiana nem quantas vezes acharam que aquela seria sua última missão. Era um dos poucos oficiais da Medusa que nasceu e se criou na Terra. A própria Martina era filha de uma embaixadora da Federação em Betazed, onde nasceu.

— Minha irmã quer saber se você gostou do último pacote de wagashi que ela mandou.

— Se eu gostei? Comi tudo ontem à noite. - ele começou a rir - Status?

— Os técnicos estão fazendo os últimos testes no núcleo do computador e se tudo der certo podemos partir em uma hora.

— Uma hora? Tão rápido?

— Eles trabalharam durante a madrugada depois da dura que você deu neles ontem à tarde.

— Viu só? Nada que um pouco de voz alta não resolva. - Martina foi irônica.

Revisavam mais algumas informações de última hora, atualizações da estação e da astrometria, quando a oficial de comunicações falou:

— Almirante Hansen no canal de prioridade, capitã.

— Eu atendo no meu gabinete. Peça mais uma caixa de wagashi para sua irmã para quando a gente voltar. Dessa vez com o dobro.

— Pode deixar. - ele sorriu e se sentou em sua cadeira.

Martina cruzou a ponte da Medusa até seu gabinete, à esquerda, sentou-se à sua mesa e autorizou a entrada da transmissão com seu código pessoal. A figura do almirante Hansen surgiu em sua tela. Cabelos brancos, olhos brilhantes e expressivos da mãe, o queixo firme como o de seu finado pai. Uma figura imponente dentro do almirantado e da Frota Estelar, chefe do setor de ciências e encarregado de todas as missões científicas há pelo menos 15 anos.

— Bom dia, capitã DeSilva.

— Bom dia, almirante. A que devo a honra de um contato?

— Preciso de sua nave para uma missão de resgate. Você está no nosso posto avançado mais distante no momento e ainda assim há dois dias de distância do nosso objetivo.

— Resgate? - isso a intrigou.

— Nossa nave científica mais importante, a Ramirez, está sem enviar relatórios de sua missão a 48 horas.

Martina conhecia a Ramirez. Era o projeto científico mais importante da Frota Estelar, com o tamanho de uma nave classe Galaxy, mas com os equipamentos, telescópios, sondas e tecnologia avançada voltadas apenas para os mais diferentes experimentos científicos no espaço profundo. Trabalhavam principalmente com aprimoramento de dobra, comunicações subespaciais e núcleos de transdobra, um presente vindo da ciência Borg.

Sua capitã era uma cientista experiente e filha de um dos mais importantes engenheiros da história. Petra La Forge recusou o almirantado três vezes, apenas para continuar fazendo ciência e trabalhando com inovação. Martina não a conhecia pessoalmente, mas era grata pelo reforço na blindagem da Medusa que ela inventou durante a guerra.

— A capitã La Forge é extremamente pontual e detalhista em seus relatórios, portanto algo está acontecendo. Como ela vinha operando em uma região próxima à borda Dominion, estamos com dificuldades de usar nossos telescópios espectrais para localizá-la. Você terá que fazer do jeito antigo.

O almirante enviou as últimas localizações da Ramirez e parte do conteúdo da missão com muita parte omitida por se tratar de experimentos confidenciais. Desejou boa sorte e desligou, deixando Martina com muita leitura e ordens para distribuir.

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⏰ Last updated: Aug 27, 2018 ⏰

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