Capítulo Único

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De: Kim Jongin. 24 anos, Universidade de Seul

Enviado: 13 de janeiro de 2018 às 16:57

Destinatário: Kim Jongin. Segundo ano do colegial, 2010

Assunto: Sobre as vantagens de estar apaixonado por Do Kyungsoo

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Querido Jongin do passado,

Essa carta é para você. Não porque eu tenha achado que escrever um desabafo fosse uma boa ideia, mas porque fui obrigado a isso. Porque, por incrível que pareça, minha professora da faculdade acha que devemos tentar resgatar os erros do passado. Não é como se esse trabalho valesse uma boa nota, mas também não posso me privar de tentar alertá-lo.

Está carta é para você. Para nós.

Para o Jongin de vinte e quatro anos, e o Jongin que ainda está cursando o segundo ano do colegial. Separados por oito anos de diferença no tempo.

A essa hora, você provavelmente está jogado no sofá com revistas em quadrinhos sobre a barriga — X-Men ou algum outro da Marvel, eu aposto — e uma lata de soda de maçã em cima da cômoda, enquanto você olha para o teto do quarto e se sente deslocado. Sei disso porque era assim que eu costumava ser.

Talvez você nem tenha um e-mail ainda. E, se serve de consolo, eu continuo sendo péssimo lidando com tecnologia tanto quanto você era. E melhor, muito melhor lidando com o amor do que você é agora.

Ei, Jongin do passado. Não se cobre demais. Você não é deslocado ou estranho. Não há nada de errado em não se sentir atraído por ninguém ainda, apenas significa que você não encontrou a pessoa certa. E a sua pessoa certa não é uma garota bonita da aula de jazz, ou o tipo de pessoa que carrega batom cor-de-rosa nos lábios.

É alguém com olhos grandes, um sorriso de coração e a voz mais gentil do mundo. Um garoto chamado Do Kyungsoo. E pode até não parecer agora, mas eu garanto que há uma infinidade de vantagens em estar apaixonado por ele.

Naquele dia, se eu não estivesse atrasado, jamais teria esbarrado na senhorinha do apartamento 304-B a caminho das escadas, manchando minha camiseta de café. E talvez, se não tivesse voltado para casa para trocar de roupa, ou esperado o próximo sinal vermelho para atravessar a rua, nunca tivesse conhecido Do Kyungsoo, o garoto que perdeu o último ônibus para Busan.

Você vai encontrá-lo numa sexta-feira. Jeans justos nas coxas, um moletom cinza e fones de ouvido pendurados ao redor do pescoço. Não deixe que isso te impeça. No fundo, Kyungsoo só deixa os fones ali para não ser incomodado. Ele provavelmente vai te achar um incômodo, e depois vai rir quando você se desesperar porque não pôde ir para a festa.

"Está zombando de mim?", você vai perguntar, e o rapaz balançará a cabeça, de repente muito sério.

"Não. É só que... nós perdemos o último ônibus para Busan."

"Quanto tempo temos até o ônibus de Jung-gu?"

"Duas horas"

"Céus! O que eu vou fazer por duas horas inteiras?"

E, então, Kyungsoo lhe entregará um dos fones, pendurando-o em sua orelha o mais delicadamente possível. Quando ele apertar o play, Creep, do Radiohead, começará a tocar. Aquela será a sua música preferida nos próximos meses, então aproveite para ouvi-la com atenção.

Por duas horas que me pareceram durar alguns minutos, Kyungsoo e eu jogamos conversa fora, com sua playlist de músicas indie tocando como plano de fundo. Como um filme. Algum romance água com açúcar de Nicholas Sparks, mas sem que nenhum dos dois morra de câncer no final. Se esse fosse um livro, desses baratinhos que vendem em livrarias, talvez, a essa altura, eu já tivesse segurado a mão dele.

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