A primeira vez que pôs tranças, Anaya o fez porque queria urgente uma forma de esconder a dupla textura durante a transição capilar. Olhou para seus amigos negros e a solução veio rápido. Procurou uma trancista perto de casa e marcou o dia. Quando a mulher terminou de mexer em seu cabelo, Anaya se olhou no espelho e gostou do resultado, se sentiu bonita.
Na segunda vez, quando sentou na cadeira do salão de Aba, Anaya começou a pensar em tudo o que tinha aprendido no último ano sobre cabelo.
Pensou em como as tranças podem ter diferentes significados na África, significados que ela não conhecia bem, mas que tinham sido importantes para seus antepassados.
Pensou em sua sobrinha que tinha sido suspensa da escola, após aparecer com belas box braids na altura do ombro. Pensou em como a menina voltou triste para casa e ficou assim por dias. Lembrou, então, de quando sua irmã apareceu na escola para resolver a situação e encontrou um cartaz com uma lista de penteados proibidos, que continha basicamente todos os tipos de penteados afros que o diretor pôde achar.
Enfim, pensou em sua namorada que teve um emprego rejeitado apenas por causa das cornrows que embelezavam sua cabeça.
Quando ao final de tarde se levantou da cadeira do salão, Anaya sentiu o peso das tranças, não apenas físico, mas o peso simbólico. Sentiu força, coragem, fé, resistência.
Anaya sentiu orgulho.
Por último, se sentiu mais bela do que nunca.
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Anaya Pôs Tranças
Short StoryDesde que colocou tranças pela primeira vez, há um ano atrás, muitas coisas mudaram para Anaya. Agora, enquanto espera Aba terminar de trançar seu cabelo pela segunda vez, Anaya se lembra de tudo o que aprendeu sobre penteados afro nesse tempo e da...