PRÓLOGO E CAPÍTULO I - LUA NOVA

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PRÓLOGO

1 No início, as cinco presenças arrebataram as águas e espalharam as trevas sobre a criação de Deus, e eis que da praga emergiu o mais célebre dos traidores: Salomão.

2 Pelas mãos da vontade, o Grande Rei usou a sabedoria divina e escravizou quatro anjos, cada qual de uma natureza, e dessa façanha fez-se o anel do domínio demoníaco.

3 Pelas areias e cidades, a Majestade viajou impondo seu anel sobre a cabeça dos miseráveis à procura do ignorante dentre os ignorantes, e da procura resultou o encontro com Ornias, o mais pequeno dentre os demônios.

4 Desafiado, Ornias ajoelhou-se diante do Rei, vencido em sua própria ignorância.

5 E quem é este humano capaz de sobrepujar as criaturas infernais? Não haverá entidade capaz de prostrar-se diante do próprio mal.

6 Das profundezas, o desejo dos cinco avistou a presença de Salomão, revelando-lhe parte dos segredos da criação como reconhecimento pelos seus feitos.

7 Eis que a estrela da manhã ergueu suas asas negras do abismo e cobriu a majestade com seu conhecimento. E seria tolo o iminente senhor dos demônios deixar de sucumbir aos desejos da luz?

8 Ouça-me, mago dos magos, pois no início só havia um Deus, mas por frustração o criador dividiu a si mesmo em corpo e alma. Nos céus imperam as palavras de Jeová, e nessa estéril terra vaga o espírito de Deus, o próprio Demiurgo, incapaz de compreender a humanidade e, portanto, suscetível às escolhas dos mais sábios.

9 Sejais você aquele que representa meu corpo e alma na terra, para que consiga conduzir aqueles que morrerão em meu nome. Esta é a minha lei exordial.

10 Com súbita paixão inflamada, o Rei foi versado nas artes profundas pela segunda sombra do abismo, que lhe revelou o segredo do mundo: eis as criaturas do Criador, nascidas do mesmo sopro, mas cujas existências são singulares.

11 Do sopro profundo de deus surgiram criaturas celestiais separadas por hierarquias e delas se criaram as cidades celestiais.

12 A natureza, inflamada pela vontade de Deus, formou-se do próprio abismo e dele emergiu o caos, a força desorganizada, que após milênios deu vida aos grandes deuses.

13 Das entranhas dos deuses, então, surgiram espíritos únicos, dotados de poder e regentes de elementos próprios do destino. O nome dado a eles foi daemon, que personifica a inteligência cósmica.

14 Encerrada a abóbada celestial e espiritual, a carne foi forjada pelos deuses e sob as leis de Deus, os espíritos ignorantes foram chamados expiadores, porquanto vagam entre reencarnações buscando perdão por seus pecados. Eis a origem das criaturas humanas.

11 Sábio quanto à criação do universo, da segunda sombra proveio a magia, e da magia proveio o desafio. Instigado a dominar os setenta e dois espíritos sagrados que constituem o Império Infernal, a Majestade estendeu seu domínio ao infinito.

12 Quão forte fora a determinação do Rei ao escravizar os mais célebres e se curvar à sombra da manhã? Inabalável e forte até a morte passageira, restou proclamar a gênese da Ordem cuja lâmina separa o joio do trigo e dissipa a luz para o vazio.

13 E sob o sangue, após a noite interminável, os cinquenta corpos dos súditos malditos nutriram a primeira e mais sagrada das operações, e da ânfora de bronze houve o início da Ordem das Foices, cujas raízes são soberanas e permeiam o desejo infernal: a Lua Negra, o Sol Invertido, o Cordão de Três Nós, a Terra Sagrada e aquele que está sobre tudo e todos, o Martelo de Anil que tudo corrige.

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⏰ Última atualização: Sep 12, 2020 ⏰

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