14. Efeito dominó

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— Fica no Bloco D. Foi o Rosa quem o mandou consertá-la.

— E por que ele voltaria aqui?

— Não sei... Mas tem algo errado. Sente isso?

Ciano parou onde estava. Olhou para os lados e esfregou os braços, reparando no mesmo que eu.

— Tá frio.

— Frio demais. – alertei. – E a nave não emitiu nenhum alerta sobre isso.

Achei que era melhor sairmos logo dali. Aquele frio todo era perigoso.

— Franklin!!! – Ciano gritou meu nome verdadeiro.

Antes que eu pudesse impedi-lo, meu irmão correu para o centro do bloco. 

Não entendi o que estava acontecendo até correr junto dele e encontrar o Preto caído perto de uma das câmaras.

Havia sangue na cabeça dele, seu corpo estava curvado em posição fetal e precisei chegar mais perto para conferir o que havia de errado.

— Ele tá respirando. – Constatei. – Deve ter caído ou...

— Ou alguém bateu na cabeça dele com isso aqui – Ciano pegou um pedaço de metal que estava caído ao lado da câmara. – E agora? O que a gente faz?

— Chama o Rosa!

— Mas...

— Ele precisa de cuidados médicos. É melhor você ir e eu fico aqui para...

— Não! – Ciano se levantou, olhando melhor pra câmara e arregalando os olhos. – Precisamos sair daqui. AGORA!

Só entendi o porquê da preocupação dele quando segui seu olhar e reparei que havia algo realmente preocupante com a câmara de criogenia: não existia nenhum corpo nela.

Cada uma das câmaras ao nosso redor estava preenchida por algum colono, todos sem roupas, com as pupilas fechadas e máscara de contenção para o congelamento das células não prejudicar os pulmões.

Já naquela câmara, não havia ninguém. O vidro tinha sido retirado, ela estava aberta e com um dos cabos para fora enquanto um sensor de religamento criava uma contagem regressiva: 35 segundos.

Não daria tempo para colocar o vidro de volta antes que o cronômetro zerasse e recebêssemos um jato de substâncias químicas capaz de congelar boa parte da nave.

— Falta um colono. – falei, olhando apavorado pro meu irmão. – Alguém saiu da câmara...

— Não importa, corre logo!

Ciano carregou o Preto, jogando-o nos ombros, enquanto eu corri para reabrir a porta.

Assim que meu irmão atravessou o setor, seguimos correndo feito loucos.

— Vai, vai, vai! – gritei. – Pro elevador! Rápido!

— Não me apressa, sabe que não me dou bem sob pressão!

— Não é hora pra isso, caralhoooo!

Entramos no elevador ao mesmo tempo, no momento em que ouvimos um estrondo gigantesco – que abalou a estrutura da nave. 

Era como se alguém tivesse explodido uma bomba bem perto de nós.

O casco da nave aguentaria, mas aquele corredor inteiro, não. A porta do elevador se fechou a tempo de eu ver uma onda de produtos químicos se arrastar pelas paredes, destruindo a porta da sala de criogenia e se arrasta como uma gigantesca teia de aranha — levando o frio em todas as direções e congelando tudo o que tocava.

Quando nos movemos, o chão tremeu e o elevador afundou bruscamente. Caímos, do primeiro andar para o subsolo. As molas do elevador aliviaram a queda, mas Ciano caiu junto com o Preto.

Fomos chacoalhados como se estivéssemos em uma coqueteleira. Senti uma forte dor no peito por conta do impacto.

Bati o rosto contra a porta e depois contra o chão. No fim, caímos um por cima do outro, gritando juntos.

— Você tá bem? – perguntou meu irmão, tentando se levantar e afastar o Preto de cima dele.

— Sim. Acho que quebrei um dente.

— Que porra foi aquela?

— É melhor sairmos logo daqui. A nave pode precisar da gente.

— Franklin... – a voz dele era baixa, porém preocupada. – O que é isso lá cima?

Olhei na direção que ele apontou e vi que o teto do elevador estava quase desabando. A parte elétrica já estava bastante comprometida; havia uma rachadura gigantesca no teto e senti que a qualquer momento seríamos esmagados por uma parede de metal e concreto.

Quando me levantei, ao colocar o pé no chão, senti uma dor horrível. Por um momento pensei que tivesse quebrado o pé, mas consegui ignorar a dor.

— Me ajuda aqui – falei, buscando uma brecha na porta para poder abri-la.

— Me diz que o gelo não vai descer pra cá.

— A nave deve ter bloqueado o Setor de Luxo.

Deve não é bem a resposta que eu queria.

— Então se apresse pra sairmos logo daqui!

Conseguimos afastar a porta com um estrondo.

Fui o primeiro a sair. Logo depois meu irmão puxou Preto pelo colarinho da blusa e ouvi o teto estalar antes de cair e esmagar qualquer possibilidade de voltarmos ao setor de luxo. 

Depois disso, o alarme da nave soou alto, as luzes vermelhas se acenderam e a minha cabeça começou a girar com toda aquela confusão. Sem perceber, voltei pro chão e segurei o estômago para não vomitar.

Alguém tinha tentado nos matar e, de quebra, destruiu o segundo andar inteiro da nave. Mais de mil pessoas poderiam estar mortas agora, mas tudo no que eu conseguia pensar era no que aconteceria que meu irmão não tivesse conseguido sair de lá antes de todo o desastre acontecer.

Não importava se ele tinha me traído, a minha maior preocupação ainda era com o Ciano. 

Among Us | Gay Fanfic +18Onde histórias criam vida. Descubra agora