•3• "A marca na minha cara, ou no meu braço?"

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Mais gritos foram ouvidos.

— Eu não aguento mais! Eu te dei tudo que eu tinha! NADA TÁ BOM NADA TÁ BOM NADA TÁ BOM! — Os gritos femininos aumentavam de intonação e desespero.

— O que não tá bom? — a voz masculina não gritava mas estava irritada.

— EU NÃO SEI! ME RESPONDE VOCÊ! O QUE EU FIZ? O QUE ELE FEZ? — O som de algo colidindo na parede foi escutado e o loiro se encolheu encostando mais ainda na porta.

— que merda. — sussurrou pra si mesmo, se levantou e abriu a porta do quarto.

Caminhou lentamente secando as lágrimas em direção a cozinha, de onde os gritos vinham. O homem alto de cabelos pretos segurava o braço da mulher loira e baixa a prensando na parede enquanto olhava com raiva.

— deixa ela... — assim que chegou na porta da cozinha o garoto pediu com medo.

— deixar o que Denki Kaminari? — o homem se virou para Denki sem soltar o braço da mulher.

— Ela não fez nada, ela... Ela sempre faz tudo e você só sabe beber e encher o saco. — Apesar da raiva não conseguia gritar, as lágrimas insistiam em continuar escorrendo e o loiro chegava mais perto dos dois.

— Eu só sei fazer isso? Como você acha que a gente é sustentado? Eu trabalho, não é? Eu pago tudo que você tem! — o homem dizia com raiva, mas sem levantar a voz.

— Ela trabalha mais que você! Tudo que você tem é por causa da mãe! — Denki levantou a voz mas logo abaixou e deu um passo para trás.

O de cabelos negros largou o braço da mulher   e segurou o do filho, deixaria marcas mais tarde.

— Não encosta nele! — a loira se meteu no meio segurando o braço do marido. — ele é meu filho! Você não encosta nele!

— Eu não encosto em ninguém! Quando eu seguro já é demais, sempre são assim. — o homem soltou o braço do loiro e logo depois de um tapa em seu rosto. — o filho não é só seu. Eu preferia que fosse, já que é um inútil, eu não incomodo ele e mesmo assim as notas são um lixo, não deveria ser considerado um ser humano. — o rosto de Denki ardia e as lágrimas escorriam pela bochecha agora vermelha e inchada.

— Filho, pode ir. — foi o que a mulher falou antes de começar a socar o braço do homem e o xingar de tudo possível, os socos da mulher de 1,65 não surtiram nenhum efeito no homem de 1'87.

Kaminari apenas se virou indo para o quarto chorando, entrou, trancou a porta e se agachou no mesmo lugar que estava antes, deixou as lágrimas e soluços saírem. Se sentia como uma criança de dez anos cobrindo os ouvidos completamente indefeso e chorando. Perdeu a conta de a quantos anos sua vida era assim, só depois dos 14 começou a entender tudo que acontecia, o que gerou mais ódio e tristeza, mesmo agora com 17 não conseguia fazer nada. Odiava quando a "família" se juntava como se fossem perfeitos e felizes, odiava mentiras e omissões, odiava traições...

Não sabia quanto tempo passou ali sentado e chorando, mas não foi pouco, pensamentos e pensamentos passavam pela sua cabeça, coisas que não deveria, coisas que já havia prometido que não faria.

Colocou o celular no bolso sem sequer conferir o horário, limpou as lágrimas e ignorou as marcas em seu braço e rosto, pulou a janela e caminhou de braços cruzados e encarando o chão até o lugar que sempre ficava.

«««< >»»»

A poucos passos do lugar que já conhecia, ouviu a voz familiar o fazendo olhar para frente vendo o garoto dos dias anteriores, cabelos roxos, dessa vez para baixo, os olhos lilás, um moletom preto, a calça preta e o tênis branco. Agradeceu mentalmente por ele estar ali e não ter que ficar sozinho.

My savior (Shinkami/Kamishin)Onde histórias criam vida. Descubra agora