- Trouxe água pra tu. - coloco a garrafinha no móvel do lado da cama e sento. - Cê vai ficar doente desse jeito branquela.

- Mais tarde eu como, agora não desce.. - funga se sentando. - A comida vai voltar.

- Por isso mesmo que fiz sopa pra tu, é levinha e não vai pesar o estômago. Cê gosta de sopa né? Se não gostar vai comer mesmo assim, quero nem saber fiquei mó tempão fazendo. - pego um pouco de sopa e levo a colher até a sua boca. - Vai negar memo? Eu que fiz pô, só não sei se ficou boa. - Ela encara a colher por alguns segundos e abre a boca comendo.

- Ficou gostosa.

- Ficou mesmo ou cê tá falando isso só pra me agradar?

- Ela realmente ficou boa, não estou falando só para te agradar. - diz sorrindo fraco.

- Também, mesmo se ela ficasse ruim tu ia comer, tá achando o que? - encho a colher com mais sopa. - Abre a boca, cuidado que tá quente.

Melissa faz menção de pegar o prato, nego levando a colher até a sua boca.

- Você sabe que não precisa me dar na boca, não sabe? Eu consigo comer sozinha.

- Tua irmã disse que quando tu era mais nova, tu ficava do mesmo jeito quando acontecia alguma coisa, e só comia quando a sua mãe te desse na boca.

- Eu tinha onze anos.

- Independente, envelheceu só dez anos e mesmo assim nesse momento tu tá parecendo a garotinha de onze. - sou sincero. - E agora quem tá cuidando de tu sou eu.

Melissa está me olhando em silêncio com os olhos transbordando, até que ela pisca e uma lágrima solitária escorre pelo o seu rosto. Ela enfia o rosto no meio das mãos, suspira e limpa a sua bochecha com o dorso da mão.

Sei que ela está segurando para não chorar, sendo o que ela mais precisa fazer agora é isso. Não falo nada, pois sei que cada pessoa tem o seu tempo, ela sabe qual é o dela e em qual momento ela vai se sentir confortável para colocar tudo pra fora.

Não vou negar, é estranho ver Melissa dessa forma. Ela geralmente é toda alegre, é o tipo de pessoa que alegra a outra quando está triste, mesmo que seja com os seus comentários bobos e assuntos aleatórios. Olhando ela agora dessa forma, ela realmente parece uma garotinha frágil.

- Tu é chata pra caralho heim? Deixa a gente nem fazer os bagulhos. - resmungo e ela abre um sorrisinho. Entrego o prato e ela leva uma colher cheia de sopa até a boca.

- O que você colocou aqui?

- Tudo o que vi pela frente. - ela ri fraco. - Tua irmã me ajudou.

- Ajudou ou ficou falando na sua cabeça?

- Ficou mais é falando, ela é igualzinha tu até no jeito de falar.

- Eu te disse que ela era uma mini versão tóxica minha.

Melissa come a sopa sem reclamar, também não tinha nem como reclamar. Quem fez a sopa? Eu né véi, não tinha como ficar ruim, tudo que o pai faz fica bom.

É estranho pra caralho ficar na casa dos outros que você não tem costume. É muito doido como a vida é, quem diria que eu estaria aqui, se alguém chegasse de manhã e me falasse que eu estaria em BH, eu não iria acreditar.

É por isso que eu falo, você tem que aproveitar os momentos, as pessoa que está em sua volta, porque você não sabe o que vai acontecer futuramente. A vida pode dar um giro de trezentos e sessenta graus de uma hora pra outra, tudo pode acontecer em uma fração de segundos.

Doce TentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora