Outro escândalo e outra "explicação"

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- Quem dera o senhor Meredith se preocupasse um pouco mais com a própria família, e não tanto com os sermões - comentou a senhorita Cornelia. - Ele poderia pelo menos dar uma olhada nos filhos antes de irem à igreja para ver se estão propriamente vestidos. Estou cansada de encontrar desculpas para ele, acredite em mim.

Enquanto isso, a alma de Faith estava sendo atormentada no Vale do Arco-Íris. Mary Vance estava lá e, como de costume, disposta a dar bronca. Ela explicava que Faith havia se envergonhado, que a reputação do pai não tinha mais salvação e que ela, Mary Vance, estava cansada de tudo isso. "Todo mundo" estava comentando e "todo mundo dizia a mesma coisa".

- Sinceramente, acho que não posso mais ser sua amiga - concluiu.

- Mas nós podemos - exclamou Nan Blythe. Secretamente, ela achava que a Faith tinha feito algo escandaloso, só que ela não iria deixar que a Mary Vance lidasse com o assunto com tamanha arrogância. - Se você acha isso mesmo, então não tem porquê vir ao Vale do Arco-Íris, senhorita Vance.

Nan e Di colocaram o braço ao redor da cintura de Faith e encararam Mary desafiadoramente. A menina então desabou, sentando-se em um tronco e desatando a chorar.

- Não é como se eu não quisesse - choramingou. - Mas se eu continuar sendo vista com a Faith, as pessoas vão dizer que a instigo a fazer essas coisas. Algumas já estão falando isso, juro pela minha vida. Não posso permitir que digam isso de mim, não agora que estou em um lar respeitável e me esforçando para ser uma dama. E eu nunca fui à igreja com as pernas desnudas, nem nos meus piores dias. Jamais sequer cogitei algo assim. Só que aquela odiosa da Kitty Alec diz que a Faith nunca mais foi a mesma depois que me hospedou na casa ministerial. Ela diz que a Cornelia Elliott vai viver para se arrepender do dia que me acolheu e acreditem, isso me magoa. Porém, é com o senhor Meredith que estou realmente preocupada.

- Não precisa se preocupar com ele - disse Di com desdém. - Provavelmente não é necessário. Faith, querida, pare de chorar e conte por que fez isso.

Faith explicou-se entre as lágrimas. As irmãs Blythe se solidarizaram com ela, e até a Mary Vance concordou que era uma situação complicada. Jerry, todavia, para quem a notícia havia caído como uma bomba, foi incapaz de tranquilizar-se. Então era disso que se tratavam algumas indiretas que ele ouvira na escola naquele dia! Ele levou Faith e Una para casa sem cerimônia e o Clube da Boa Conduta teve uma sessão de emergência no cemitério para julgar o caso de Faith.

- Não acho que foi tão ruim assim - defendeu-se Faith com valentia. - Mal dava para ver as minhas pernas. Não fiz nada de errado e não prejudiquei ninguém.

- Isso prejudicará o papai e você sabe disso. Você sabe que as pessoas o culpam quando fazemos algo estranho.

- Não pensei nisso - murmurou Faith.

- É esse o problema. Você não pensou e deveria ter pensado. Foi para isso que criamos o nosso clube, para nos educarmos e nos obrigarmos a refletir. Nós prometemos sempre pensarmos antes de fazer qualquer coisa, mas você não fez isso e por isso precisa ser punida, Faith. Como castigo, terá que usar aquelas meias listradas para ir à escola durante uma semana.

- Ah, Jerry, um dia ou dois não é suficiente? Não uma semana!

- Sim, uma semana inteira - disse o inexorável Jerry. - É justo, pergunte ao Jem Blythe, se quiser.

Faith decidiu que era preferível acatar o castigo ao invés de consultar o Jem Blythe. A menina começava a perceber que seu delito tinha sido vergonhoso.

- Eu as usarei, então - resmungou, emburrada.

- Você ainda teve sorte - disse Jerry severamente. - E não importa como te castiguemos, isso não ajudará o papai. As pessoas sempre acharão que você fez isso de propósito e culparão o papai por não ter impedido. Nunca conseguiríamos explicar a verdade para todo mundo.

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