Porque eu gosto de você

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— Bom dia, linda, bom dia, neto — Sorriu sentando também.

Ao terminar de comer, Leonardo apareceu dando bom dia e pegou apenas o café.

Tomou um xícara enorme e foi logo tomar uma dose de vodca, a mãe dele ficou boba e sem acreditar e me olhou. Levantei as mãos como quem dizia que nem perguntasse, pois eu também não teria respostas.

Ela foi pro quarto ficar com a Laura e nós dois saímos.

Depois de uma meia hora a gente chegou na clínica. Eu entreguei os documentos e fomos esperar em outra sala.


Desde que Leonardo apareceu na cozinha eu não consegui dar uma só palavra que não fosse de extrema necessidade.

Eu realmente achei que ele fosse mudar de ideia, aquele exame soava como um insulto ou uma desconfiança e ele não tinha motivos pra desconfiar de mim.

Eu estava triste e tensa com esse exame, pelo que me lembro, a médica disse que seria desconfortável e invasivo e só de relembrar dessas palavras eu sentia um frio na espinha.


Fui chamada e após entrar e deitar, a médica fez alguns procedimentos, pouco tempo depois, duas enfermeiras entraram também, uma delas montou uma agulha enorme, engoli seco e o Leonardo só olhava de longe.

A médica me explicou tudo e iniciou o exame passando o ultrassom, mandou a enfermeira mais nova segurar o aparelho e começou a perfurar minha barriga, aquilo doía cada vez mais, coloquei a mão no rosto e fechei os olhos reclamando de dor.


— Aah...— Gemi mordendo minha mão.


— Que PORRA tu tá fazendo com ela ? — Leonardo se aproximou.


— Não se mexe, por favor...— Soltou a agulha com a exaltação dele. — O exame...que vocês pediram, eu avisei que ele era assim —


— Tira essa merda dela, não tá vendo como ela tá, caralho ? — Segurou minha mão e a médica foi tirando aquilo. — Pode cancelar essa merda de exame, seis tão é louca de achar que eu ia deixar enfiar essa merda todinha nela —


Soltei a mão dele assim que a médica de afastou.


Me sentei outra vez e vesti a blusa.


— Leonardo...se calma, por favor — Ele respondeu mais algumas coisas num tom extremamente agressivo com as profissionais e eu mal sabia onde enfiar a cara.


Me desculpei arrastando ele pra recepção e marquei a próxima consulta, saímos de lá e eu nem conseguia olhar na cara dele de tanta raiva que sentia.


— Aí, bora passar num restaurante pra almoçar ? — Me olhou de relance. — Ou comer um lanche, se você quiser —


— Você estar brincando, não é possível — Tirei o cinto pra me mexer melhor e o olhei. — Você viu oque acabou de fazer ? Eu vou ter que passar por aquilo de novo, por pura idiotice sua —


— Não vai não, eu não quero mais porra de exame nenhum, mina. Não entendeu ? —


— Por que ? — Senti meus olhos marejando. — Você pediu essa merda, me levou pra sua casa, me tratou como um móvel que tivesse ocupando espaço ali e ontem ficou extremamente diferente comigo.
Agora...só agora, decide mudar de ideia ? Depois de duvidar da minha palavra ? Você sabe que ainda estávamos ficando quando eu engravidei, mesmo assim continuou com isso. Essas duas semanas foram as piores, depois do que eu passei.
Sabe, eu vivo implorando a atenção do pai da minha filha pra ela, minha mãe me mandou embora, eu quase fui morta com minha filha e um bebê na barriga. Eu dei entrada na minha exoneração, minha amiga mal fala comigo e nem assim você aliviou.
Você me vê passando mal e nem pergunta como o seu filho está, e ontem de forma mágica mudou completamente e hoje simplesmente decide dar show ? Por que ? —


O carro foi parado bruscamente e eu quase voei por estar sem a porcaria do cinto.

— Porque eu gosto de você, caralho !! — Socou o volante. — Depois que me disse, pensar igual a sua mãe, eu me senti ofendido pra porra. Você sabe bem oque sua mãe pensa sobre gente da favela, eu odeio ela por isso e até tentei odiar você, mas não dá. Um mês depois, tu me liga dizendo que queria conversar e tua mãe chega daquele jeito...na minha cabeça, tu tinha armado tudo.
Mesmo assim, quando eu vi teu carro brotando lá no morro, eu não pensei duas vezes, sentei bala naquele bando de filho da puta.
Você não tem noção, das merdas que passaram na minha cabeça antes de abrir aquela porta —

Me encarou.

— E quando me contou da gravidez...— Sorriu. — Eu quis soltar fogos e fazer o melhor baile que aquela comunidade já teve. Mas eu lembrei do que me disse quando descobriu que eu era da bandidagem. Eu quis te fazer pagar por aquilo e eu mal falava com você até antes de ontem, pra não ficar babando em ti.
Eu até tentei ficar afastado, mas a verdade é que não dá, eu não consigo, isso é ruim pra porra, eu nunca me senti assim por ninguém.
Você sorri e melhora tudo, a sua filha sorri pra mim e mano, meus problemas acabam.
Tu não tem noção, do carinho que tenho por ela ? Antes de ontem, eu fui falar mas uma pá de merda pra você quando te trouxe do baile. Mas eu escutei tu chorando e falando com o bebê, aquilo me deixou malzão, tá ligada ? Eu entendi que a barra pesou e eu só estava piorando tudo.
Então...se eu não falei nada, pra cancelar essa porra de exame, é porque eu sou um idiota, mas no fundo, eu não duvidei um minuto que esse bebê é meu. E agora, tenho que te pedir desculpa por tudo —

Encostou a cabeça no banco e esticou a mão limpando meu rosto.

— Me desculpa ? —












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