— Ele sabe vó, vamos logo. Boa noite Jun-ho! — Me despedi, ele acenou para mim, fechei a porta.

— Pare de ser mal educada com ele, Jun-ho está tão crescido e bonito, espero que namorem logo.

— Ele é meu melhor amigo, a senhora sabe disso. Nós nunca vamos namorar. — Expliquei, ela negou acreditar na ideia.

— Logo seus sentimentos afloram um pelo outro, eu e seu avô tínhamos o mesmo tipo de amizade, até que me apaixonei. — Ela pegou a sacola com o peixe e pôs sobre a bancada.

— Como a senhora soube que o amava? — Sentei-me no banco perto dela.

— Havia um lugar para onde íamos no verão, seu avô era muito bom na pesca e eu adorava o observar, todas as vezes que nos víamos ele me despertava um sentimento bom aqui dentro. — Ela apontou para o coração, conseguia perceber em seus olhos como ela ainda era apaixonada, mesmo depois de tanto tempo. — Você não precisa pensar em como é, só vai saber quando sentir.

No meu caso, não irei sentir, não é algo para mim e já percebi isso, em todos esses anos nunca me apaixonei nem mesmo por Jun-ho, por mais que ele seja alto e bonito. Sinto que tenho esta ligação com a música, talvez o ritmo seja a minha única paixão.

— Agora vá dormir, você tem aula amanhã e não esqueça que tem que pegar dois ônibus.

— Sim senhora.

Fui até meu quarto depois de me preparar para dormir, olhei um pouco as redes sociais e notei algumas marcações em pequenos vídeos do acontecido, isso me deixava irritada, não queria mais ser vítima de valentonas como Jang-mi. Ver aqueles comentários transformado ela em mim me deixava decepcionada, se ao menos estivesse lá para me explicar, mas eu só fugi. Ela colocou coisas em minha cabeça que queria não me preocupar, como o meu corpo, e o meu cabelo, ela sempre tinha a oportunidade de puxa-lo, sentia fortes dores de cabeça depois da aula mas ninguém ficava sabendo.

Sem perceber comecei a chorar, talvez de alívio por finalmente me livrar de anos de bullying. Eu não ia mais deixar pessoas como ela me atormentar sem fazer algo à altura, meu cabelo, o maldito cabelo que ela conseguia puxar. Fui até o espelho e o encarei, cada mecha era um ponto fraco, peguei a tesoura em minha mochila e o cortei acima dos ombros, cada lágrima que derramei naquela noite seria minha última. A Nam Song-i que eu era antes, ninguém nunca mais a veria novamente, meu coração, minha mente, estavam focados apenas em escapar da realidade através da música.

Naquela manhã acordei e vesti o uniforme pela primeira vez, era de um tom vinho com listras brancas, peguei um casaco para vestir por cima, uniformes escolares me davam enjoo só de pensar.

— Song-i, preparei isso para você comer no caminho para a escola. — Vovó dizia enquanto eu descia para a cozinha.

— Estou sem fome.

— Esta tão magra, precisa comer... SONG-I! O QUE FEZ COM SEU CABELO? VOCÊ PARECE UM GAROTO! — Gritou assim que percebeu o corte novo, tentei conter uma risada. — Agora mesmo que nunca vai arranjar um namorado. Olha só para você, sua cabeça ficou redonda.

— Eu não preciso de um namorado. — Insisti, ela negou ainda surpresa. — A senhora também tem cabelo curto!

— Eu já sou velha, minha aparência não importa. — Ela me deu um tapa no ombro, resmunguei.

— Vou me atrasar. — Corri para não perder o ônibus, minha avó sempre preparava algo para comer na escola já que eu havia perdido o hábito de comer no café da manhã, coisa que irritava muito ela. No caminho bebi o leite fermentado que ela havia colocado junto com o lanche, comer qualquer tipo de sólido pela manhã me dava enjoo, não descia bem, então me negava.

DESTINO, Han SeojunOnde histórias criam vida. Descubra agora