Capítulo - 16- "ELE QUER ME DESTRUIR"

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Jamil o encarava com um olhar de soslaio, ainda desfrutando do gosto das amoras que ficaram em seus dedos.

— Por que? — Perguntou. — Por que faz isso comigo?

— Gardênia está em seu sangue. Você não compreende? — Tinha os olhos postos nele.

— Gardênia é minha casa, sim.

— Se as coisas ocorreram certo, hoje, neste momento, Gardênia não existe mais. É agora apenas uma sombra perto da grande fortificação que é Serendibite. — Seus olhos foram até onde conseguia enxergar a floresta e voltou para Jamil. — Elena deseja as terras de Gardênia.

— Não. Não, isso não pode acontecer, Matoki têm exércitos.

— Matoki está fraco, não consegue ao menos segurar uma espada, até onde eu saiba. — Possuía uma adaga de aço cintilante em seu sinto. Fora com ela que começou a cortar as partes do javali para assar melhor no fogo.

Jamil olhou para o céu azul e claro e sonhou com o dia em que voltaria para sua casa com a cabeça de Tody e salvaria os seus das coisas cruéis que Elena e Tavos Pontesmano haviam causado na colônia. Quando pequeno acreditava que tinha o sangue de Elias correndo por suas veias, assim como um bocado de crianças malvestidas e órfãs, carentes pela atenção das pessoas, suplicando dinheiro ou algo para comer. O pensamento lhe causou enjoo. Tinha mais do que se preocupar, tinha muito mais para pensar.

— Tavos nunca teria coragem de atacar Gardênia. É um homem fraco, apaziguador.

— Tavos não é nosso senhor — ele disse. — Servimos a sua filha, Elena.

— Como isso é possível? — Não estava compreendendo. — Nenhum sinal foi-nos feito alertando da morte do senhor de Serendibite.

— Tavos não morreu, até onde eu saiba. Mas sua filha enxerga as coisas melhor do que ele. Enviou-me com uma tropa para matar os Astares. Elena é tudo o que precisávamos. Espero que tenha destronado aquele velho.

— Serve à uma usurpadora?

— Sirvo à mulher dos meus sonhos.

Jamil teve de rir do que ele disse. Nunca vira essa parte mais "sensível" de Tody.

— Sonha em fodê-la? — O riso ainda estava estampado em sua face.

Tody levantou-se rapidamente do chão e lhe apontou com a adaga. Via como seus olhos expressavam o ódio que sentia naquele momento. Tinha certeza que acabara de colocar sal na ferida.

— Sim, tenho certeza de que quer fodê-la — Jamil continuava com sua zombaria. — Mas, e ela, Tody, também sonha em desatar os seus calções e sentir sua pica?

O rapaz jogou a arma para o lado e lhe acertou o rosto com um soco. Esmurrou-o no rosto e na barriga, e depois pôs-se a espancá-lo nos ombros com ambas as mãos. Quando Jamil tentou reagir, Tody deu-lhe uma cabeçada.

Quando acordou, tinha a boca com sangue seco e o rosto inchado e vermelho. Então desatou a rir enquanto chorava e a chorar enquanto ria.

— Deseja ela, não é? — O riso foi abafado com um chute na boca do estômago que o deixou sem ar, mas teve forças para continuar: — Conheço um homem apaixonado, amigo. Você quer ela, eu sei que quer.

Tody se abaixou e segurou-lhe o rosto, virando para rente os seus olhos, encarando com tamanha ira que lhe faltava pular uma veia de sua testa.

— Silêncio — disse friamente. — Temos companhia.

Tody o colocou de joelhos desajeitadamente enquanto se escondiam atrás de um monte de mato e galhos retorcidos. E ele pôde ver, enfim conseguiu avistar as duas figuras altas e esguias, trajando o cinza e o negro de suas vestes. Uma delas possuía os dedos longos que se contorciam em movimentos repentinos como uma mania. A segunda usava um capuz mais espesso que a primeira e exalava fumaça de seu corpo alargado.

As Canções da Guerra: GARDÊNIA | LIVRO 01Onde histórias criam vida. Descubra agora