Trilogia Midnight: o trem da meia-noite para a Geórgia.

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Atenção passageiros, primeira chamada para o voo com destino a Houston, Texas. Embarques pelo portão A.


Finalmente... eu pensei comigo mesma enquanto me levantava do banco de espera e me dirigia com uma certa pressa para o portão de embarque.

O momento pelo qual eu tanto esperei, minha primeira viagem sozinha para outro país, finalmente havia chegado e minha ansiedade era tanta, que nem mesmo o meu livro favorito conseguiu me manter distraída durante os quarenta e cinco minutos em que fiquei esperando no aeroporto.

Depois de meses me organizando para poder viajar, nada poderia estragar meus planos a partir do momento em que passei pelo portão de embarque e caminhei sentindo aquela euforia agradável ao entrar no avião. Naquela época, eu já era maior de idade, mas nunca havia viajado sozinha na minha vida até então e quando acontecia, estava sempre acompanhada dos meus pais ou outros parentes. Na verdade, para ser sincera, até aquele ponto eu nunca de fato fiz nada totalmente sozinha, primeiro porque eu era filha única, então meu pai e minha mãe concentravam toda a sua atenção na minha vida e em como eles queriam que ela fosse.

Segundo, eu tinha um namorado que estudava na mesma universidade que eu e que por uma incrível coincidência do destino, seus pais eram conhecidos dos meus e nossas famílias não pensaram duas vezes em apoiar totalmente nosso relacionamento. Até hoje não sei explicar muito bem como tudo aconteceu entre nós dois, acho que não foi marcante como deve ser com outros casais, mas a única coisa que sempre fica fresca na minha memória, é que a nossa rotina de relacionamento é sempre a mesma. Chan, o garoto que eu namorava naquela época, era um rapaz legal e bonito, cursava engenharia e andava de mãos dadas comigo pelos corredores da faculdade... E era só isso, apenas isso.

Em outras palavras, a minha rotina sempre fora muito nivelada, planejada e organizada por meus pais, que queriam a todo custo que eu fosse a mocinha bela, recatada e do lar que eles tanto sonharam, éramos de fato muito tradicionais e seguíamos alguns costumes à risca. Não irei mentir, quase me tornei o que eles tanto queriam que eu fosse, de verdade, mas se não fosse a viagem que eu estava fazendo para outro continente, eu não saberia dizer como teria sido a minha vida alguns anos mais tarde.

Agora, dentro do avião, eu mal conseguia conter o sorriso nos meus lábios enquanto esperava ansiosa pela decolagem e só ficaria totalmente tranquila quando visse as nuvens pela janela. Eu realmente não achei que conseguiria chegar até aqui, digo, poder finalmente viajar e fazer algo diferente nas minhas férias pelo menos uma única vez na vida porque como eu já havia dito, minha vida é a coisa mais nivelada e planejada do universo, todos os meus dias são exatamente iguais e eu nunca contava com nenhuma reviravolta ou algo extraordinário acontecendo de repente, absolutamente nada. Mas, apesar do marasmo, eu acabei fazendo daquilo uma zona de conforto onde as coisas aconteciam como tinham que ser e não havia motivos para contestar, sempre me pareceu mais fácil e simples dessa forma.

Porém...

Sim, sempre tem que ter um "porém". E neste caso, eu posso afirmar com todas as palavras possíveis, que nada teria mudado drasticamente para mim, se eu não tivesse insistido em viajar, mesmo com meus pais desaprovando pelo fato de que meu namorado não iria junto. Na opinião dos dois, eu e o Chan deveríamos estar sempre juntos, de mãos dadas e esbanjando felicidade, mas acontece que não era para tanto, digo, eu gostava bastante dele e ele era um bom namorado para mim, mas nada que me fizesse suspirar de tanta felicidade que não cabia dentro do peito. Era apenas normal e comum, não tinha nada de extravagante e emocionante.

No começo, eu cheguei a questionar a mim mesma se aquilo era realmente o que eu queria para um primeiro relacionamento, algo tão parado e que parecia funcionar no piloto automático. Eu não reclamo do meu namorado, como eu havia dito, ele é uma pessoa boa, bonito, gentil, um cara realmente legal. Porém, confesso que esperava um pouco mais, não sei explicar, um pouco mais de adrenalina e emoção talvez? Não igual as garotas da minha universidade que gostavam de fazer sexo em todo lugar que não tivesse muita gente por perto, mas eu esperava sim um pouco mais, não sou capaz de mentir. Me lembro até hoje de quando coloquei esse assunto em pauta com a minha mãe e ela, como se estivesse desesperada, conseguiu me convencer que a maioria das garotas da minha idade acabam sofrendo muito no primeiro relacionamento, porque ou namoram a pessoa errada ou simplesmente não sabem como conduzir a situação, não tem apoio familiar e a coisa toda não vai pra frente.

Midnight Train to Georgia | WinrinaOnde histórias criam vida. Descubra agora