Filha da puta! Você sabe que é mentira, e por mais que machuque dizer essas palavras, sabemos que elas são necessárias. 

Meu celular começa a vibrar, estourando a nossa bolha de hostilidade que se instalou mas uma vez entre nós, o nome do Matteo brilha na tela do aparelho.

-Matteo!

-Onde caralhos você está? Você falou que estaria logo atrás de nós! E adivinha, você não está!

-Aconteceu… um imprevisto - olho para James que começou a andar na direção oposta à minha. - Mas, estamos bem, não se preocupe.

-Fácil falar,ragazza!

James entrou em um edifício luxuoso, sua decoração é clássica,mas, com um toque de modernidade, é espetacular.

-Matteo… te ligo depois.

-Pie… - desligo o telefone antes de ouvir as suas queixas.

Acompanho James, que entra no elevador e me olha com raiva, tristeza e mágoa. É uma mistura que eu realmente não sei decifrar. Entro e fico do seu lado, não me importo em saber onde estou, só quero deitar e descansar.

As portas do elevador se abrem, dando visão a um apartamento grande, e a decoração não é tão exuberante assim.

James passa por mim e desaparece no lugar. Ando pelo ambiente vendo cada detalhe, das paredes no tom de um cinza até os quadros abstratos nas paredes. Estou no apartamento do James. Que merda, que horas isso aconteceu?

James volta aparecer segurando uma calça moletom e uma camiseta. Ele me entrega as peças ignorando o meu olhar.

-O quarto de hóspedes fica no andar de cima, seguindo o corredor segunda porta à esquerda, lá tem o que você precisa. -  informa ele com os ombros caídos e com a voz baixa.

-Obrigada. 

Ele me ignora e sobe as escadas.

Seguindo a sua explicação subo as escadas e me deparo com um corredor imenso, entro no quarto e fecho a porta.

A decoração do quarto é igual a da casa, em tons mais escuros e neutros. Nada surpreendente.

Pego o meu celular e ligo para o Matteo.

-Finalmente! Onde você está?

-No apartamento do James.

O outro lado da linha fica mudo.

-Matteo?

-Eh...eu, quer dizer, nós estamos aqui.

-Nós?

-Está no viva voz

-É claro que está. Matteo, eu quero falar com o Dominique. Por favor! E não quero que esteja no viva voz. - falo.

-Fala, mafiosa!

[...]

Acabo de sair do banho, fiz um curativo com o kit de primeiros socorros que tinha no banheiro. Vesti as roupas que James me deu, que ficaram enormes em mim, pareço uma criança. A ideia me faz rir.

Me deito na cama, que afunda com o peso do meu corpo, aliviando os músculos do meu corpo.

As lembranças da noite de hoje voltam a minha mente, as lembranças de Mattia me pressionando e colocando aqueles dedos imundos em mim, são como tapas na cara. Me fazendo lembrar o quão fraca fui, a covarde que não o enfrentou. A mesma Pietra de cinco anos atrás.

Sua inútil de merda!

Aos poucos meu corpo foi relaxando e o sono foi tomando conta, até me dominar totalmente. 

Fui perdendo a noção do que era real e do que não era.

-Senti tanto a sua falta. Mas precisamente do seu corpo, dos seus lábios e dessa boceta. - Mattia está em cima de mim,  passando a mão pelo meu corpo.

Tento gritar, mas não sai nada. O desespero me tomou. E a única coisa que vejo é o sorriso de sádico no rosto do Mattia.

 Sinto alguém me sacudir enquanto chama o meu nome.

-Pietra...Pietra...

Acordo assustada, me levantando de uma vez só da cama. Estou ofegante e meus olhos estão marejados.Os limpo rapidamente ao ver que estou de frente para James, que me olha assustado.

-Você está bem? - perguntou.

Volto a deitar na cama virada de costas para ele. Ignorando a sua pergunta. 

-Okay, você não precisa responder. 

Sinto a cama se movimentar e a porta se fechar. Respiro fundo e fecho os olhos.

Repentinamente sinto James deitar ao meu lado.

-O que você está fazendo? - pergunto confusa.

-Deitando.

-Por que?

-Porque obviamente você não está bem.

Respiro fundo e sinto um nó que se forma na minha garganta. Fecho os meus olhos e junto toda a coragem que me resta.

-Quando eu tinha 19 anos… - começo. - Eu comecei a namorar um cara muito doce e gentil, eu achava que ele era o amor da minha vida - sussurro com a voz baixa - mas, nunca é como nós pensamos… - sinto lágrimas rolarem no meu rosto.

-Pietra…

Eu sei que devo ter gritado, se não ele não estaria aqui. E eu sinto uma necessidade enorme de colocar tudo para fora.

-Teve uma noite em que ele foi tudo, menos doce e gentil...ele, ele… - As lágrimas encharcam o meu rosto e eu não consigo parar.

James me abraça enquanto as lágrimas continuam a rolar.

-Eu era virgem, e ele me estuprou, ele me estuprou e me bateu, repetidas vezes… - sinto o seu abraço ficar mais apertado, pressionando o meu ferimento, mas não me importa. - Eu queria que alguém tivesse me avisado que amar doía tanto. Que se entregar para alguém e confiar que ela não te machuque, é um desafio. Mas, ninguém te avisa. E só você é culpado pelas suas escolhas. Passei anos me convencendo que estava tudo bem, que aquilo era passado e que não ia deixar acontecer novamente… Mas, eu não consigo lidar com as merdas dos meus problemas. Você me chamou de covarde, e talvez eu seja. Porque tenho medo de confiar e acabar me machucando de novo.

-Eu…

-Não quero a sua compaixão e nem que pense que isso é uma desculpa. Eu só precisava desabafar. - resmungo limpando as lágrimas do meu rosto.  - E se você puder ficar aqui e só me abraçar, eu ficaria muito melhor.

James não diz nada, e continua com seus braços em mim. Aos poucos as lágrimas vão cessando, mas o sono não vem, e mais uma noite eu tenho que lidar com isso. E com um sentimento novo e desconhecido.

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Tudo bem com vocês?
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The Little Scorpion (Escorpiana - Máfia)Onde histórias criam vida. Descubra agora