Um pouco de contexto

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Sarah era uma jovem milionária, muito famosa e amada por muitas pessoas. Mas vamos começar pelo começo.








Quando ainda era menina, Sarah amava ver sua mãe escrever peças de teatro, e ficava maravilhada ao ver ela atuando. Como mamãe é incrível, ela pensava. Ambas passavam muito tempo juntas, brincando e inventando histórias. Já o pai de Sarah, era presente, mas por mais que não gostava de admitir, Sarah sentia vergonha dele. Nunca foi uma pessoa violenta, muito pelo contrário, era extremamente carinhoso e amava sua esposa e sua filha. Porém, ele bebia e fumava muito. Eram frequentes os momentos em que chegava da escola e sentia um cheiro forte e estranho na casa. A menina não conseguia nem pensar direito, pois sua mãe logo a levava para seu quarto, dizendo que seu pai estava muito ocupado, e que ela não deveria sair de onde estava.

Sua mãe, Helena, sempre ficava muito preocupava e tensa quando papai estava ocupado. Não entendo porque, ele não está apenas trabalhando? Aliás, isso era algo de que Sarah não fazia ideia: seu pai não tinha um emprego fixo, vivia fazendo alguns bicos por aí, por isso, a maior parte do dinheiro que conseguiam, era com o emprego de sua mãe como garçonete e os poucos dólares que Helena ganhava com suas peças.

Mesmo assim, Sarah nunca deixou de ser uma criança feliz. Ganhava presentes sempre que seus pais tinham condições, tinha alguns poucos amigos, o que sinceramente, não a incomodava: a qualidade é mais importante do que a quantidade, sua mãe sempre a lembrava. Sarah estudava em uma escola pública, se esforçava o máximo possível, e também gostava muito de ler, e conforme o tempo foi passando, começou a escrever histórias, assim como sua mãe. Ela amava, porque se sentia feliz, mas também, porque isso orgulhava seus pais.

Quando Sarah tinha 10 anos, sua mãe teve um ataque cardíaco e faleceu. Foram momentos sombrios. Ela não se lembrava muito dessa época. Os psicólogos que falavam com ela achavam que era uma maneira de ela se proteger: não pensando nisso. Com a morte da mãe, William, seu pai, precisou arranjar um emprego fixo, e o melhor que pôde conseguir foi como segurança em uma boate. Infelizmente, passava a noite toda fora e dormia praticamente o dia inteiro, dessa maneira, vendo a filha muito pouco.

Depois de uma noite extremamente cansativa, William chegou em casa exausto, mas antes que pudesse ir para cama, ouviu sua filha o chamar.

- Papai? É você? – ele foi em direção ao quarto da menina, e sorriu quando a viu.

- Oi, querida, sou eu sim. O que faz acordada essa hora? – ele olhou no seu relógio de pulso. Eram 6 da manhã.

- Eu deveria ter te mostrado isso ontem, mas fiquei com medo – disse, meio cabisbaixa.

- O que foi?

- A professora mandou esse bilhete pra você – ele pegou o bilhete e começou a ler o que estava escrito. "Senhor William, te escrevo esse bilhete para tratar de sua filha. Soube da perda que tiveram recentemente. Meus pêsames. Sarah sempre foi nossa melhor aluna, mas estou preocupada com ela. Ultimamente suas notas tem baixado muito, ela não presta atenção em nenhuma professora, e anda muito agressiva. Creio que isso seja efeito do luto, é normal crianças mostrarem diferentes reações nessa terrível situação. Gostaria de conversar com o senhor pessoalmente, nesta quinta-feira, ás 10:15 AM. Desde já, agradecida. Anne Johnson."

Mesmo não querendo, William ficou com raiva, muita raiva. Não soube dizer se a raiva que sentiu foi realmente da sua filha, mas inevitavelmente explodiu.

- É sério isso, Sarah? Eu passo noites acordado, te dou tudo que posso, eu parei de viver minha vida por culpa sua! E é isso que eu recebo? – a menina o olhava assustada, sem saber o que responder. – Eu estou decepcionado com você, Sarah. Aposto que sua mãe também. Tendo uma mãe maravilhosa como a sua, quem poderia imaginar que você se tornaria essa decepção? – ele gritou, e saiu batendo a porta.

Depois daquele dia, Sarah nunca mais foi a mesma. Guardou toda a raiva que tinha dentro de si, e deu o melhor que podia em todas as situações. Ela iria ser a melhor em tudo, e provar para seu pai que ele estava errado. Sarah voltou a ser a melhor aluna, o melhor exemplo, a mais popular, mas nisso tudo, ela acabou perdendo boa parte da garota gentil e amável que era. Não pensava mais em se divertir, apenas em ser a melhor.

Mas como todos sabem, querer ser o melhor em tudo, nem sempre nos leva a uma vida feliz, e foi exatamente o que aconteceu com a garota. Já aos seus 15 anos, Sarah estava um caco. Sua depressão e ansiedade, sua amargura pelo mundo, sua vontade de tirar sua própria vida, tudo isso no máximo. Eu não sou boa o suficiente, eu nunca serei boa o suficiente, meu pai está certo, eu sou uma decepção. A pobre garota pensava isso todos os dias. Ela nem imaginava que na verdade, seu pai se orgulhava dela, pois com o tempo, depois da morte de sua esposa, William só foi ficando cada vez mais fechado. Ele gritou com ela em outras brigas, afinais, é isso que pais bêbados são profissionais em fazer: estragar tudo, porém, ele nunca mais repetiu aquelas palavras "você é uma decepção". Ele a amava muito, mas depois de perder o amor de sua vida, seu mundo perdeu a cor, e ele não sabia mais como demonstrar afeto ou coisa alguma.

De qualquer maneira, na noite em que estava decidida a tirar sua própria vida, Sarah teve um sonho. Nele, a garota e sua mãe estavam em um lindo campo florido, enquanto dançavam, felizes.

- Meu amor, você não vê como a vida é bela? Você é filha de uma artista, e como diz o ditado: filho de peixe, peixinho é. Sei que tem tudo sido muito difícil, mas não desista. A vida precisa de um pouco mais de cor, de amor e de arte. Você é capaz disso. Sei que é. Eu te amo, então faça o que eu sempre fiz de melhor: trabalhe duro e enxergue beleza nas coisas mais inusitadas. Mostre ao mundo sua beleza, tanto interior quanto exterior.

Depois desse sonho, Sarah teve seus olhos abertos. Não de um jeito delicado, mas com facas. Aquele sonho lhe doeu no peito por vários dias. Sangrou muito, por tempo demais, mas depois de algumas semanas, virou cicatriz. Sarah passou a realmente viver a vida, se permitindo ser quem realmente é. Isso foi um processo longo, e muito difícil. Perdeu diversos amigos e amores. Teve que virar seu mundo de ponta cabeça, apenas para conseguir seguir suas próprias vontades.

Mas é claro, nenhuma vida é perfeita.

Aos 16 anos, Sarah começou a beber. Ela não se nomeava de alcoólatra, dizia que essa palavra era muito forte. Ela se nomeava como uma amante de bebidas, o que sinceramente, dava no mesmo.

Quando estava prestes a fazer seus 17 anos, terminou a escola, e seus vários anos de estudos valeram a pena, quando conseguiu entrar numa faculdade pública de teatro. Ela trabalhava como garçonete de manhã, estudava a tarde, e criava suas peças e histórias a noite. Seu talento era notável, e seu esforço também. Então, foi chamada para performar diversas de suas próprias histórias. Com a ajuda de alguns contatos, conseguiu publicar cinco livros de romance, e se tornar uma febre entre adolescentes e jovens adultos.

Passou a morar com sua tia, irmã de sua mãe, e agora, seu pai havia largado tudo pro ar, não ligava pra mais nada. Não trabalhava, não conversava com ninguém, apenas bebia e usava drogas o dia inteiro. E é claro que não era apenas Sarah que usufruía de seu próprio esforço e suor: ela mandava um salário mínimo para seu pai, por mês.

Aos 21 anos, Sarah finalmente comprou seu apartamento em Los Angeles. Ela trabalhava atuando em diversos filmes e séries, além de, no seu tempo livre, escrever histórias e trabalhar em seus livros. Ela gostava de sua vida. Passou por diversos momentos difíceis, mas agora sentia que tudo estava se encaminhando para o caminho certo.

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⏰ Last updated: Nov 11, 2021 ⏰

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The world goes around - Aidan GallagherWhere stories live. Discover now