Nunca vi nenhuma das filhas do Senhor Blackwood, apesar de conhecer ele e a esposa dele. Eles já vieram me pedir para forjar espadas para presentear amigos, mas de suas filhas só sei o que os boatos dizem. Uma é a mais bela do reino enquanto a outra, uma das mais feias. E acaba aí o que sei sobre elas. O que só mostra que preciso descobrir mais, porque nunca se sabe qual pessoa próxima do James é a que vai me mostrar seu ponto fraco.
E o melhor lugar para se conseguir informações é o Dragão Amarelo. Uma taberna antiga onde muitos se juntam para beber e ouvir uma banda que toca lá todas as noites. O lugar é tão antigo que as paredes estão caindo aos pedaços, as mesas e cadeiras desgastadas ao ponto de começar a esfarelar.
Não que Kevin, um homem barrigudo e da minha idade, se importe. Ele diz que ganha muito pouco para trocar tudo por móveis novos que vão quebrar em alguma briga de bêbados no dia seguinte.
Assim que entro, vejo que todos estão reunidos ao redor de um homem. Ele é baixo e gordo, com uma barba enorme e olhos verdes cheios de rugas. Está sentado no bar, de costas para o balcão e fala sem parar.
— O que está acontecendo? — pergunto para o nada e como esperado, alguém olha para trás e me responde.
Reconheço na hora. É um dos filhos do dono da barraca de brinquedos de madeira. Nunca nos falamos antes, mas ele aponta para o homem que é o centro das atenções e diz:
— Ele trabalhava na mansão dos Blackwood.
— Mesmo?
— Ahã. Era jardineiro lá.
Me aproximo e olho ao redor. Boa parte do pessoal que trabalha no centro está aqui. Trent, o padeiro. Aperto os olhos e vejo por entre as pessoas, o Sr. Gilbert. Desde que me mudei nunca tinha visto ele pisar aqui.
O tal jardineiro não diz nenhuma novidade sobre a futura princesa. Garante com fervor que ela é a pessoa mais bonita e gentil que ele teve o prazer de conhecer. Conta como ela tratava bem as irmãs. O mais interessante é que ainda assim, mesmo ela sendo a futura princesa, ele mal fala sobre ela. Pelo menos não tanto quanto fala de Victória. Na verdade, o nome dela mal sai da boca dele.
— Tudo bem, ela é inteligente — ele admite e faz uma careta de repulsa. —, mas qual o valor disso quando todo o resto é podre. Ela é malvada, insensível e ainda por cima feia. Acho que é tipo um castigo, sabe? O interior é refletido no exterior.
Ele toma outro gole enquanto alguém da multidão pergunta como ela é. A maioria aqui deve saber, já que elas andam sempre juntas pelo centro. Como a ferraria é um pouco afastada nunca cheguei a conhecê-las ou sequer a ver às três de longe. Apesar de a mãe delas ser muito bonita.
— Sua cabeça e seu nariz são grandes demais. Ela tem manchas marrons espalhadas por todo o rosto. Tem sempre uma careta mal-humorada no rosto e um olhar de superioridade, como se ser inteligente e rica tornasse ela melhor que você. Ela parece ainda pior quando está lado a lado com as irmãs.
Murmúrios de concordância seguem sua descrição e eu engulo um risinho fingindo uma tosse. Chega até a ser engraçado porque o jardineiro também tem um nariz enorme e manchas marrons no rosto. Na verdade, muitas das pessoas aqui tem isso. Na verdade, isso aqui é meio estranho, não o acho uma fonte confiável. Talvez ele esteja bebendo demais e isso afeta seu discernimento ou talvez ele só não gostava da garota e está se aproveitando da situação para se vingar.
Nem deve ter notado o que seu discurso está causando nas pessoas.
— Ela obrigava a irmã a fazer tudo. A Senhorita Ella ajudava na cozinha, limpava os quartos, polia a prataria e quando finalmente conseguiu a chance de ir ao baile, Victória fez a mãe delas dar uma enorme lista de tarefas impossíveis de terminar para prender a pobrezinha em casa.
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Vilã
FantasyVictória perdeu tudo. Mutilada, abandonada e com sua reputação destruída, agora é conhecida como a vilã na história de sua irmã, a brilhante e amável futura rainha. O Baile que era pra ser o começo do seu final feliz se tornou o ponta pé que empur...