Um sobressalto tomou o corpo de Karol quando o sinal da escola alardeou barulhentamente, fazendo-a dar um passo vacilante para trás.
Ela estava com os nervos à flor da pele e buscava uma forma de compreender o que se passava dentro de sua cabeça e coração.
Era impossível aceitar o que tinha feito com Lionel. Não se enxergava como alguém ruim, tampouco queria passar por aquilo novamente.─ Vou ver se descubro algo sobre o garoto. ─ Agustín disse ao encostar-se ao carro com os braços cruzados.
Olheiras profundas contornavam os olhos acastanhados do rapaz, um reflexo da noite que não dormiu.
Ambos não puderam deixar de pensar no que havia acontecido, e ele não voltou para casa. Na verdade, sentia-se desnorteado de mais para tomar qualquer decisão.─ Sinto medo, Agustín. Sinto muito medo. ─ Era o que ela mais repetia, abraçando-se ao próprio corpo, percebendo que o casaco velho do amigo de Hugo não aplacava em quase nada o frio que serpenteava por sua espinha. ─ E se descobrirem? E se... Se esse rapaz morrer...
A maior parte dos alunos se bandeou portão a dentro e a menina soube que se não se apressasse, ficaria de fora.
Entretanto, não conseguia se imaginar assistindo aula ou atuando como uma humana qualquer.─ Shiu. ─ Agustín murmurou, apontando com o queixo para trás dela aonde um rapaz ia se aproximando. ─ Acho que querem falar com você. Então, por favor, não estraga as coisas, porque além de você, agora eu estou envolvido nisso.
Karol estremeceu, mas assentiu.
Dando um longo suspiro resignado que a fez tremer de baixo para cima, a garota se virou no exato momento em que Ruggero se preparava para abordá-la. Contudo, o menino fincou os pés no chão de concreto e mergulhou as mãos nos bolsos frontais da calça jeans, revirando a cabeça em busca de algo descente para dizer.
A última coisa que queria era mais problema.
─ O que quer? ─ Ela indagou.
Agustín umedeceu os lábios e continuou parado atrás da menina, ouvindo. E esse fato incomodou Ruggero que imediatamente lhe dirigiu um olhar que dizia "dá licença", porém, o rapaz permaneceu ali.
─ Será que a gente pode conversar?
─ Não sei o que teríamos para conversar, Ruggero.
─ Como sabe o meu nome? Eu não me lembro de ter te dito. ─ O protegido retrucou desconfiado com uma sobrancelha ligeiramente arqueada.
Karol engasgou com o ar que desceu pela garganta e precisou pigarrear duas vezes antes de prosseguir, tendo em mente que qualquer deslize poderia piorar ainda mais a situação, principalmente porque já nem sabia mais se iria continuar ajudando Raziel, afinal havia cometido um pecado imperdoável.
Talvez, só talvez, seus segundos estivessem contados.
A espada de Hassel poderia arrancar-lhe a vida a qualquer momento.
─ E quem não sabe o nome de todo mundo nesse lugar? ─ Foi Agustín quem respondeu ao notar que ela não reagia. ─ Cheguei há pouco tempo, mas já conheço a metade do povo.
Ruggero sequer olhou para ele, sua atenção ainda era da menina que parecia cada vez mais se encolher dentro do casaco que usava.
─ Você está bem? ─ Quis saber.
Karol esforçou-se para sorrir.
─ Só estou cansada. É só isso. Mas... ─ Pigarreou, arrumando a postura. ─ O que quer, Ruggero? Porque veio até aqui? Será que já não foi o suficiente toda aquela confusão de ontem?
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Marca dos Anjos
Romance*VENCEDOR DO THE WATTYS 2022* As regras são claras: Um ser imortal jamais deve se apaixonar por um humano. E mesmo consciente disto, Karol resolveu lutar bravamente pelo rapaz por quem se apaixonou há muitos anos. E, igualmente encantado, Hugo...