-Excelente! Então a gente se fala depois. Estou com um bolo no forno chamando minha atenção.

-Ok...

-Beijo, beijo e tchau - disse e desligou.

Massageando o cenho, baixei a mão com o celular e o guardei preso entre o cós da calça e o elástico da calcinha.

Só então me voltei para as prateleiras procurando saber onde eu estava.

Massas? Ótimo.

Me abaixando para pegar macarrão instantâneo, fui atropelada por uma coisinha de pelos brilhantes dourados.

O trequinho caiu.

Era uma criança que me parecia incrivelmente familiar.

Não era Angelica, antes que se façam perguntas.

Ela era loira, tinha os cabelos na altura dos ombros, os olhos eram verdes e era magrelinha e pequena.

Por que ela me era tão familiar?

Parecendo me reconhecer também, ficamos nos encarando durante alguns segundos que pareceram anos.

Ela estava de joelhos flexionados, os pés plantados no chão calçados em minúsculas sandálias cor de rosa.

A menina se pos em pé, puxou o vestidinho rosa para baixo e correu.

-Ela é muito mal educada - uma voz fininha soou perto de mim e olhando para baixo, do outro lado do corredor, uma criaturinha me encarava com uma barra de chocolate na mão.

Seus olhos azuis estavam voltados para mim e seus cabelos castanhos claro puxado para o loiro estavam amarrados em um rabo de cavalo preso em um laço preto.

-O que? - perguntei.

-Minha mamãe diz que a gente tem que pedir desculpas quando bate em alguém - a coisinha falou, abraçando a barra de chocolate com seus bracinhos minúsculos - mesmo quando é sem querer.

A olhei de cima a baixo e de repente entendi o motivo de ter achado algo familiar na outra garota.

Os olhos claros.

O pai da filha de Carina era loiro e tinha olhos azuis, assim como essas duas criaturinhas que vi.

Será que...?

Olhei para a menina vestida em minúsculos short jeans, camiseta do Paramore e calçando minis all star.

Poderia ser.

Eu estava ficando louca.

Tinha que parar de ficar esbarrando em crianças por aí.

-Sua mãe tem razão - disse - mas a menina pode apenas ter ficado assustada.

-Mas não pode correr no mercado, minha mamãe disse que é perigoso e pode machucar - a coisinha insistiu.

-Também é perigoso falar com estranhos eles também podem machucar - contestei.

Eu estava mesmo debatendo com uma criança de o que... três ou quatro anos?

-E como a gente faz amigos? - ela rebateu.

-Não se deve falar com adultos estranhos - esclareci.

-Ah... - a menina fez, parecendo ficar tímida quando suas bochechas coraram - então, tchau.

-Tchau..?

Ela simplesmente me deu as costas e virou no corredor.

Onde estava a mãe dessa menina?

Segui até o fim do corredor e olhei onde ela desapareceu, vendo-a no colo de uma mulher já na fila do caixa, pareciam conversar.

Meu coração tentou voar pela boca.

A mulher tinha longos cabelos castanhos escuros que a garota brincava tentando junta-los entre as mãos, eu podia ve-la de costas em um short jeans e uma larga camisa preta desbotada.

Era ela?

Mas e Angelica?

Eu só podia estar ficando louca, vendo várias Carina e várias crianças.

Eu tinha que parar com isso...

Mas e se fossem elas?

Andy tinha razão, eu precisava esclarecer logo as coisas ou ia acabar ficando louca e faria isso ainda hoje.

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A noite volto para o último do dia.
E esse monte de criança de olho claro aparecendo aí 😂

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