-Então como eu estou.

-Assustadora.

Terminamos a maquiagem, passando um lápis de olho preto e um batom vermelho vivo. Tirei as presilhas deixando todos os cachos caírem perfeitamente nos meus ombros e logo depois coloquei o quepe. Coloquei um salto alto preto e lá fomos nós descendo pela escada. A casa estava em silêncio, os pais dela já devem ter saído. Encontramos a praga do meu irmão.

-Nunca achei que beijaria o Freddy Krueger.

-Não se preocupa eu não mordo.

-Eu que nunca imaginaria um pirata beijar o Freddy krueger

-Somos duas.

Fomos no carro do Luke , demorou alguns minutos para já ouvirmos Rude Boy da Rihanna. A praça estava lotada de pessoas, e já havia alguns adolescentes digamos "altos" gritando e fazendo coisas idiotas. Luke parou na mesma vaga onde meu carro estava mais cedo.
- Prontas? – meu irmão perguntou, eu apenas confirmei com a cabeça e saímos do carro já recebendo alguns olhares de outras garotas. Somos do Comitê de Organização, então é uma regra que estejamos mais apresentáveis que a maioria das garotas, ou pelo menos mais que as garotas populares. Algumas nos olhavam de cima a baixo procurando o menor defeito que seja para servir de comentário no dia seguinte, outras falavam apenas para ter um social um pouco mais elevado.
Durante toda a festa foi assim, falar com pessoas, dançar até as pernas não aguentarem, aceitar desafios alcoólicos oferecidos por garotos. Normalmente os mais velhos que iam à festa ficavam até umas 23h e todos os alunos do colégio e jovens da cidade ficava até o corpo aguentasse. Cheguei até a ver a irmã mais velha de Andrew curtindo com um grupo pela festa, mas nada dele. Não que eu esperasse ele aparecer depois de ver o estado dele hoje de manhã, mas ainda tinha uma ponta de esperança de que ele aparecesse, como todo jovem normal daquela cidade.
- Cat , você por aqui... – Matt era um dos garotos desejados do colégio, fazia o tipo do "jogador de futebol americano dos filmes". Quando ele não tentava impressionar todos que estavam a sua volta eu até gosto de falar com ele, sempre me ajudava quando eu precisava, mas naquele momento eu podia sentir o gosto do álcool na minha boca só por sentir o cheiro dele. O cheiro era tão forte que começava a fazer minha cabeça doer junto com todo aquele som e aglomerado de pessoas no mesmo estado que ele. Matt tentava me abraçar, me pegando pela cintura. – Hum enfermeira... Talvez eu te chame para cuidar da minha ressaca amanhã. – Ele ria alto e forte. Os amigos dele que estavam por perto mesmo sem ouvir uma palavra do que ele disse pra mim riam junto com ele.
- Matt, agora não ok? Me deixa em paz no momento, depois conversamos.
- Qual é Cat, noite de festa, você poderia ao menos me dar uma chance hoje, o que você acha? – Vi o corpo dele se inclinar na minha direção numa tentativa de me beijar.
- Eu disse me deixa em paz! – O empurrei o vendo cair sobre os amigos derrubando toda a bebida na própria fantasia, mas ele apenas ria mais e continuava a fazer o que seja com os amigos.
Encontrei a minha amiga Rafaela e o Bernardo tentando engolir um ao outro.

-Oi, cat você esta melhor.

- Mais ou menos

-soube que você esta de namorado novo?

-Quem te contou isso Bernardo?

-A Julia

-Valeu preciso ir.

Apenas saí andando sem me importar para onde meus pés me levassem, por tanto que fosse longe daquilo tudo. A festa estava legal, mas pessoas idiotas bêbadas + muita gente me empurrando + cheiro forte de álcool simplesmente não é a minha opção preferida. Senti uma mão tentar pegar meu braço e ouvi a voz de Bia perguntar um "onde você está indo?", mas apenas ignorei e continuei a andar. Foi assim por alguns minutos até perceber que já estava rodeada por algumas arvores, o som ainda era muito alto, mas quase não dava para ver as pessoas da festa. Boa parte da cidade era rodeada por florestas, mesmo acostumados a andar por elas ou até mesmo pegar uma talho de um lugar para outro não é comum a população andar por lá. Mas eu gostava de apenas sentir a natureza perto de mim. Meus pais trabalhavam com o turismo da cidade então andar por ali sempre foi normal para mim e eu sempre gostei. Cheguei até um pequeno forte de madeira que alguma criança construiu para brincar. Fiquei ale por uns instantes tentando ouvir o som dos grilos e do vento nas folhas para ver se a dor de cabeça passava, mas ao invés disso eu ouvi um pequeno grunhido. Tentei ignorar, mas o barulho insistia e parecia ficar ainda mais desesperado.
Fui caminhando em direção ao barulho que começava a me assustar. Claro que eu assisto filmes de terror e sei como sempre acaba quando alguém optar pela curiosidade, mas era o que eu gostava. Emoção. Sempre achei que um pouco de adrenalina não mata ninguém. Continuei andando com cuidado. Quando eu a vi. Toda a sensação ruim que eu senti a semana toda voltou praticamente 3 vezes mais. Tentei processar o que estava acontecendo na frente dos meus olhos. A garota estava amarrada em uma árvore com um pedaço de pano amarrado a boca dela, impedindo-a de gritar ou falar algo. Lágrimas corria pelo rosto dela sem parar, dava pra sentir o desespero do rosto dela. Dei mais um passo para tentar ajudar ela quando vi uma sombra se aproximar, eu instantaneamente me escondi atrás de uma árvore. Um garoto apareceu na frente dela, ele usava uma calça preta e um casaco de capuz da mesma cor. Haviam sacos nos pés envolta do sapato e ele usava luvas. A luz da lua refletiu num objeto de metal que surgiu na mão dele, parecia uma faca.
- Então é assim que você age com os vizinhos, hã? – A voz era masculina e era familiar, mas todo aquele momento não deixava minha mente pensar. – Eu tento ser legal com você e é assim que retribui?! Eu... Eu tento parecer uma pessoa legal, te comprimento, tento ser seu amigo, faço de tudo para segurar a vontade de rasgar seu lindo e delicado pescoço! – O vi puxar o cabelo dela sem dó fazendo o rosto dela encarar o dele. – Mas é assim que você retribui, agindo como a vizinha vadia! – Dava pra sentir a raiva quando ele falou. – É desse jeito que você quer agir? Esse é o seu joguinho, pequena Cat? – Foi quando tudo veio de vez na minha mente.
A camisa e o short preto que a garota usava, o cabelo Castanhos longo, o rosto dela que lembrava a outra garota que foi encontrada, a garota que se parecia COMIGO. O assunto que ele falava. E na mesma hora a pessoa que eu reconhecia a voz veio na minha mente. Meu coração praticamente parou de bater e eu fiquei sem reação, apenas parada olhando para a garota chorando.
- Você não se comportou muito bem na última noite Katherine . E você sabe disso... – Ele puxou ainda mais o cabeço dela levantando ainda mais o rosto. Ele olhou para o pescoço dela posicionando a pequena lamina na jugular e depois olhou nos olhos dela aproximando seu rosto. – Desculpa. – Ele sussurrou e passou a lamina pelo pescoço da garota num corte certeiro enquanto dava um pequeno beijo nos lábios que pulavam pra fora da mordaça. Ele passou o dedão coberto pela luva pelos lábios dela e se afastou, dando pra ver o liquido vermelho descer pelo corpo dela mudando a cor da camiseta.
- Meu Deus... – Foi a única coisa que saiu da minha boca, alto o suficiente para fazê-lo olhar para trás e confirmar todos os meus pensamentos. Dava pra ver que Andrew se assustou a me ver aqui. Virei tentando correr, mas aquele maldito salto impedia de executar aquilo numa floresta. Senti a mão dele tampar minha boca por trás e o mesmo grunhido que a garota fazia momentos atrás agora era feito por mim. Eu tentava tirar a mão dele da minha boca para o grito sair totalmente da garganta, mas Andrew era mais forte que eu. Meu coração batia rápido e já começava a sentir lagrimas se formarem nos meus olhos. O desespero agora tomava o meu corpo, o verdadeiro corpo. Sentia ele me puxar para trás. Tudo começava a ficar embaçado e a música da festa ficava ainda mais baixa.
- Droga Katherine , o que você faz aqui?! – O sussurro dele foi a ultima coisa que eu ouvi. Logo depois tudo ficou preto.

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