Ele andou até a porta do quarto e abriu a mesma com o cotovelo, ele entrou no cômodo e fechou a porta com o pé. Não era tão grande, mas havia duas camas de solteiro adjacentes uma da outra, um espaço livre no meio delas, a bolsa de Nikolas estava em sua cama.

Yelena saiu do lavatório ajeitando sua blusa, nas mãos tinham um rolo de curativo e uma tesoura, ela olhou Nikolas.

- Annie que fez.- estendeu uma xícara.

- Obrigada.- pegou a porcelana.- Nunca tomei tanto chá em toda minha vida.- diz indo na direção da sua cama, Nikolas tomou um gole do líquido e sentiu o gosto doce descer por sua garganta.

Realmente era bom.

- Nervoso, Roman? Sua cara está péssima.

- Por que eu estaria nervoso?- colocou a xícara na cômoda de madeira entre as camas.

- Prometo não abusar do seu corpo enquanto você dorme.- Nikolas riu, Yelena colocou sua xícara na cômoda também.- Você cortou o cabelo.

- Não é grande coisa. - Nikolas tinha o cortado durante um momento de tédio no navio, ainda tinha o volume mas o comprimento estava um pouco acima das orelhas, ele manteve o mullet que crescia na nuca. Não dava para fazer muita coisa com apenas uma tesoura.

Ele tirou o casaco e se sentou na cama, ambos estavam sentados em suas camas de frente um para o outro.

- Eu senti...- ela o olhou.- Eu senti a angústia em meu peito todos esses dias, sabia que ele estava fazendo algo com você. Eu até ficava aliviado quando sentia, porque... significava que você estava viva. Quando eu parei de sentir, eu pensei...

- Não é sua culpa.

- Por um lado é, porque é minha função é te proteger.- ele soltou o ar.- O que aconteceu?

- Eu estava lutando, quando um Ari apareceu na minha frente e fui nocauteada por trás. Quando acordei eu estava no navio, pés e mãos presos.

- Eu te vi sendo levada, o Ari te carregando e Kirigan deu um sorriso. Eu corri na direção do mar mas eles já estavam longe e fundo demais para eu alcançar. Eu juro, Yelena, eu juro que irei matá-lo.- ela engoliu a seco e pegou a xícara tomando o resto do chá.

- O quartel foi uma armadilha, não sei como mas foi. Eu fui idiota.

- Já pegamos o culpado e você não é idiota, Yelena.- a mulher colocou a xícara vazia de lado e jogou algo para Nikolas. Ele pegou e abriu as mãos vendo que era um rolinho de curativo.

- Me ajude com essa merda, Roman.- apontou para o olho enfaixado, Nikolas se levantou e ficou de frente para a mulher, ele ficou entre as pernas dela, os joelhos tocando a cama.

Nikolas tirou com delicadeza o curativo usado e colocou no chão, Yelena continuou com a cabeça baixa. O homem segurou o queixo da mesma, o mais gentil possível e  levantou o seu rosto.

Eles se olharam.

O quarto não estava muito iluminado mas Nikolas conseguiu ver o ferimento, era uma linha na vertical desde um pouco em cima da sobrancelha até abaixo da olheira. Estava avermelhado e com pontos de linha fina preta, o olho com a íris cinza estava avermelhado.

- Eu ainda enxergo sua cara, mas essa cicatriz ficará para sempre em meu rosto. Annie costurou a ferida e está bem melhor do que estava três dias atrás.

- Você continua bonita.- Nikolas pegou um pedaço de gaze e limpou a ferida com delicadeza.- E pelo menos a cicatriz fará que mais soldados tenham medo de você.

- Você me chamou de bonita?- perguntou ignorando o resto da frase.

- Acho que você escutou errado.- ela sorriu, não tirava os olhos de Nikolas.

- Você está cada dia mais ousado, nem parece o homem assustado que eu vi na sala de reunião meses atrás.- Nikolas sorriu de lado, com o indicador ele aplicou a mistura de ervas que estavam em um pote ao lado da cama que Yelena tinha indicado.

- Precisa enfaixar?

- Não, a ferida precisa respirar um pouco, pela manhã eu enfaixo.- Nikolas colocou o pote na gaveta da cômoda e olhou Yelena novamente, não podia encarar por muito tempo porque sabia que iria se lembrar do beijo dos dois.

Foi um erro, Nikolas. Coloque isso em sua cabeça.

- Sei o que você está pensando.- ela diz o tirando dos seus pensamentos.- Pare de olhar minha boca e me beije logo antes que eu te chute para fora desse quarto.

Nikolas a olhou com um pouco de surpresa, mas não iria negar que queria beija-la.

Então o fez.

Seus lábios selaram os dela, Nikolas segurou a lateral do rosto da general, suas línguas se tocaram e as mãos da general foram para a camisa de Nikolas, o puxando para si.

As costas dela foram para o colchão, a cabeça no travesseiro, Nikolas estava por cima dela, o joelho em cima da cama no espaço entre as pernas dela. Yelena colocou as mãos na nuca do homem, Nikolas tirou a mão de sua bochecha e colocou o antebraço no travesseiro para se apoiar.

A outra mão do homen foi pra a cintura da general, sem colete ou corpete, enfiou a mão com facilidade por baixo da blusa da mulher sentindo sua pele.

Se pudesse, Yelena beijaria Nikolas a todo momento. O homem continuava com os toques delicados, com medo de machucá-la, o beijo era lento mas ainda tinha algo a mais.

A mulher separou o beijo com um gemido de dor quando Nikolas encostou em sua coxa direita.

- Outro machucado?- Ele perguntou sentindo o curativo por baixo da calça, Yelena assentiu.- No braço, coxa e rosto?- ela assentiu novamente.- Tudo bem.- ele beijou o queixo dela e depois beijou levemente seus lábios.

- Nikolas Roman, você realmente existe?

- Por que?

- Nunca conheci um homem tão...

- Atencioso?

- É.- ele riu fraco.

- Bom, eu cresci em uma casa com duas mulheres, uma delas sendo uma irmã pequena que precisava de muita atenção porque a cada dia aparecia com um machucado novo.

- Como elas são? Sua mãe e irmã?- Nikolas se deitou ao lado de Yelena na cama de solteiro pequena, as costas da mulher estavam na parede e ela virou o corpo.

Nikolas também virou ficando de frente para ela, os rostos a centímetros um do outro, as pernas e tronco próximos.

- Minha mãe, Sasha, é calma, talvez seja a pessoa mais calma que você conheça. Foi poucas vezes que eu a vi irritada gritando alto, uma delas foi quando eu subi no telhado para pegar uma bola que caiu no mesmo, ela ficou louca.- Yelena sorriu fraco.- Minha irmã, Layla, é encrenqueira. Se você tirar os olhos dela por alguns segundos, irá encontrá-la no final da rua falando com alguém. Mesmo pequena já arruma problema com os amigos, até já bateu em um garoto que falou que sua saia era feia.

- Essa é parecida comigo.

- Não. Ela não é teimosa como você.

- Isso não é um elogio, Roman.

- Mas é o que você é. Uma mulher teimosa, mandona e cabeça quente.- ela abriu a boca para xingá-lo mas ele a beijou novamente.

Não queria falar de sua família, porque a saudade já doía em seu peito. Eles conversaram, trocaram beijos e carícias até caírem no sono.

Nikolas abriu os olhos no meio da madrugada e viu Yelena dormindo com a cabeça em seu ombro, ele sorriu fechando os olhos e voltou a dormir.

O Chamado de GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora