Era real. Ela era real. Aquele momento era real.
Senti dois braços passarem por minhas costas e Raquel se juntar a nós naquele momento único. Agora sim eu me sentia completo: ao lado delas eu era um novo Sérgio.
Eu não sabia o que era ser pai a pouco tempo atrás. Talvez seja irônico como a vida me preparou para esse momento, mas no fundo, eu sempre soube que uma hora ou outra iria acontecer, e eu estou aqui, disposto a mergulhar profundamente nesse desafio. E sim eu sei que vai ter dias difíceis, dias de estresse em que talvez nem tudo saia como planejei mas também sei haver dias bons. Haverá dias que apenas o sorriso banguela dela, que provavelmente vai ser a coisa mais fofa do mundo, vai me alegrar. Eu quero descobrir ao lado de Raquel todos os gostos e novos gostos da nossa filha, quem sabe talvez ensinar ela a gostar de Van Morrison como os pais ou provar algum tipo de comida estranha em viagens. Quero aproveitar cada segundo novo ao lado dela, e sim, não posso chamar de tempo perdido esses anos que estive longe dela por que de alguma forma eu sabia da sua existência: algo dentro do meu peito gritava a espera desse exato momento. Talvez seja destino, se assim posso chamar. A única certeza que tenho em mente é que meu corpo e alma estavam destinos a encontrar essas duas, amar elas e criar um laço que levaria comigo para a eternidade.
Seguimos o resto do dia aproveitando o momento em família, e a cada segundo que minha filha chamava papai novamente era um sorriso ainda maior da minha parte. Talvez eu nunca me acostumasse fielmente com aquele nome, parecia um sonho, um sonho perfeito demais até para imaginar. E a melhor parte disso tudo é que é real e era apenas o começo.
Ao anoitecer
Raquel
Ouçam: Another sunny day - Belle and Sebastian.
— Posso olhar, Sérgio? — perguntei impaciente sentindo as mãos cobrirem minha visão.
— Ainda não. Segue em frente, com cuidado. — ele falou próximo ao meu ouvido.
Continuamos caminhando até eu sentir a grama fofa do lugar por onde andávamos, pude escutar alguns sons de pessoas conversando e uma música um tanto conhecida começar a tocar.
— Adorávamos vir aqui na adolescência. — falou animado e começou a andar mais rápido. — Vamos amor, a fila está pequena!
— Sérgio eu juro que se você não... — parei minha fala aí escutar gritos e um bagulho de um brinquedo ser ligado. Eu reconhecia perfeitamente aquele som: — Espera, estamos em um parque de diversões?
— Sim! — ele tirou a mão do meu rosto e eu fiquei surpresa quando olhei em volta.
Estávamos em um parque que havia chego na cidade dias atrás, ele havia comentado comigo que gostaria de ir, mas eu não não esperava que fosse tão cedo. Os brinquedos e o amontado de pessoas em volta trouxeram uma sensação inexplicável para mim, era exatamente como íamos na época de namoro.
— Sérgio! — cobri minha boca com as mãos tentando conter minha euforia, mas foi em vão, o abracei assim que vi ele erguer os ingressos. — Quanto tempo não íamos em um parque? Céus! Eu adorei.
— Eu sei. — riu me abraçando. — Hoje vamos voltar no tempo, vem comigo.
Ele me puxou para a fila de um brinquedo próximo, provavelmente ficaríamos tontos com ele, mas não importava, naquela noite seríamos duas crianças novamente.
— Caso você não tenha percebido, esse é o nosso primeiro encontro. — passou os braços na minha cintura e me olhou por cima do ombro.
— Certo, eu deveria imaginar que você não me levaria em um restaurante. — não contive o riso.
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Eu ainda te amo
RomanceSérgio e Raquel namoraram durante a adolescência, mas seus planos foram interrompidos quando Raquel iniciou sua faculdade em outro país. Mesmo após o término e seguindo suas vidas, o amor ainda existia entre ambos e as lembranças eram as memórias ma...
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