Tentei me acalmar, não parecia estar se aproximando, tão pouco saber da minha existência, se não representava perigo, eu não iria procurar confusão
No dia seguinte, dessa vez um pouco mais cedo, eu a ouvi novamente
Uma voz feminina, vinha da exata mesma distância de antes, cantando uma música melódica e sem letra
Eu me sentia atraida a procurar pela dona da voz, mas eu não podia, sabia que quem estava me tentando eram cada uma daquelas que habitavam minha cabeça, eu precisava resistir a tentação
Só que a música não foi embora, ela não parou, e por mais que eu estivesse gostando de ouvir, ouvir outro som que não viesse de pássaros ou animais de pequeno porte transitando, quando ele se misturava aos sussurros, a tentação, aos meus confusos pensamentos, parecia tortura, uma longa e prazerosa tortura
O sibilar das minhas cobras sedentas era aterrorizante, imaginar mais um ser, uma vida, uma história, seria petrificada e dolorosamente contida para sempre por mim, por mim e por elas
Algumas tentaram me tranquilizar dizendo que era uma espécie de concervação atemporal, que já que eu me importava tanto com as histórias daqueles que eu conhecia, que eu poderia apenas manter elas perto de mim para sempre , ninguém nunca conseguiria destrui-las assim
Eu sabia que era um truque, eu sabia que no fim, era só uma forma bonita de me achar no direito de mata-los, e eu não queria ser assim, não queria me sentir uma espécie estranha de deusa, assim como os que me machucaram se sentiam, com direitos que no fim ninguém concedeu a eles
Mas eu não conseguia mais segurar, por alguns momentos, eu voltei a entender oque todas as minhas vítimas falavam de mim, mesmo quando eu mandava que eles não olhassem, era quase impossível resistir, só que oque nenhum deles sabia era que pra mim também havia a mesma dificuldade, se não maior, e esse era um sentimento que eu preferia esquecer, não existe nada mais apavorante que não ter controle sobre seu próprio corpo
Eu caminhei, em meio as árvores e plantas em direção ao som, se eu me lembro bem foi por volta do quinto dia seguido em que eu o ouvia, algumas lágrimas banhavam o meu rosto enquanto eu sentia a grama e a terra em baixo dos pés, eu não queria, eu não tinha controle, eu estava indo em direção a morte de alguém
Depois de alguns bons passos, eu cheguei a um riacho, eu sabia que por ali, depois dos arbustos de amoras, as vezes acontecia de ser escolhido por algum viajante, pelas sombras frescas e água limpa, por isso eu nunca me aproximei, mas lá estava eu, me escondendo entre os mesmo arbustos enquanto tentava enxergar quem estava no pequeno aglomerado de água a frente
Uma mulher estava de costas pra mim, provavelmente nua, a água chegava até metade de seu bumbum e seus cabelos estavam encharcados, completamente esticados por suas costas
Eu andei mais para a esquerda, olhando a sua volta, havia uma barraca, algumas roupas e um pouco de lixo, acredito ser do que ela consumiu nesse pequeno tempo ali. Desviei meu olhar novamente para ela e tomei um susto ao perceber que ela olhava na minha direção
Estávamos a uma certa distância, eu não conseguia ver todos os seus detalhes por meus óculos escuros, minha última medida pra tentar proteger ela de mim, mas ela aprecia ter notado a minha movimentação, por mais silenciosa que eu tivesse sido
-Tem algum aí?- Ela se virou por completo, me dando pela visão de seu corpo nu. A essa altura, eu não estava apenas mais tentando não mata-la, mas também, não olhar demais para seu corpo
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Medusa (Conto sáfico)
FanfictionMedusa está a muito tempo sozinha, tanto tempo que ela nem se lembra como é não ter medo Capa: Inkbox Tattoos (Pinterest)
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