Quando ela desapareceu, eu ouvi pessoas chorando, algumas pessoas rindo e até mesmo comemorando.
Eu não fiz nada, não sabia como reagir ao desaparecimento dela então simplesmente fiquei quieta e ouvi o que todos falavam.
Pensei que depois de um ano...
Quando sai da aula de ballet naquela tarde, fui o caminho inteiro para casa ouvindo Spencer dizer o quanto eu dançava bem e que ela sentia saudades de me ver dançando. Assim que cheguei em casa joguei aquele ingresso na lareira que estava acessa, o que de fato era um milagre, a não ser que...
- Isabelle._ uma voz masculina chamou e eu fechei os olhos.
- Pai._ murmurei indo para cozinha, vendo minha mãe e meu pai lá, ela com uma taça de vinho_ Quando chegou?
- Há duas horas._ minha mãe respondeu virando o vinho de uma vez_ Boa sorte.
- Vou precisar._ sussurrei quando ela passou do meu lado e olhei pro meu pai, vendo ele bater no banquinho ao seu lado_ O que tá fazendo aqui?
- Não posso vim ver minha filha?_ perguntou quando eu me sentei ao seu lado.
- Bom, não é meu aniversário, não é dia dos pais, natal, nem ano novo. Então não faço ideia do porque você está aqui._ falei encolhendo os ombros e ele suspirou_ O que foi?
- Seu diretor me ligou._ respondeu adquirindo uma postura seria e eu revirei os olhos_ Sua nota em química caiu.
- Eu sei._ resmunguei levantando para pegar alguma coisa para beber.
- Precisa recuperar a nota. Sabe que precisa de notas boas se quer entrar na faculdade de dança de New York._ ele falou ajeitando sua gravata.
- Por que está vestindo assim?_ mudei de assunto pegando um energético na geladeira.
- Como assim?_ perguntou confuso.
- Você é chefe dos bombeiros de Londres, não um advogado de Nova York._ falei óbvia abrindo o energético_ Por que o terno?
- Tenho um casamento para ir._ respondeu finalmente e eu assenti.
- Então deveria ir. E sobre minha nota em química, não se preocupa. Mudei de parceiro e agora elas vão subir._ avisei passando por ele e saindo da cozinha.
Pode me julgar o quanto quiser, mas experimenta passar dezeseis anos da sua vida com um pai que quase nunca está presente, apenas nas datas que ele quer. Como no aniversário dele e nos dias dos pais, que é quando eu sou obrigada pela minha mãe a comprar presentes para ele. Fora isso eu quase nunca vejo meu progenitor, menos é claro, quando minhas notas caem um pouco, aí ele aparece num passe de mágica e finge ser o pai do ano.
Ele e minha mãe se divorciaram antes de eu nascer, pelo o que eu sei eles discutiam muito e minha mãe ficou de saco cheio, ela terminou tudo com ele e então ele foi embora, nem no meu parto ele estava lá, quem estava era a mãe da Spencer, que ficou com minha mãe todo o parto.
E sobre minhas apresentações, ele fui em cinco, e eu já perdi a conta de quantas eu já me apresentei. Minha mãe esteve em todas elas, sem faltar uma sequer. Enquanto meu pai estava em Londres, com alguma mulher ou apagando incêndios, pelo menos é isso que sabemos.
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- Foi incrível! Inacreditável._ Hanna contou animada.
- Onde vocês foram?_ perguntei me sentando na mesa.
- No Jolly Roger._ ela respondeu sorrindo.
- Aquele parque de diversões velho?_ Spencer perguntou rindo de leve.
- Gente não é velho. Não fomos nos brinquedos. Passeamos e conversamos._ Hanna explicou_ Eu contei pra ele, o que acontecendo. Algumas partes, e ele ouviu. E me convidou para um jantar de verdade hoje a noite, ele disse que tem uma coisa para me contar.
- Ele tá grávido._ brinquei empurrando o ombro dela e as meninas riram.
- Acho que ele quer passar mais tempo comigo._ Hanna disse esperançosa_ Quem sabe, passar férias em Maryland.
- Você iria?_ Aria perguntou curiosa.
- Eu não estaria me mudando. Não de vez._ a Marin respondeu_ Não quero deixar minha mãe sozinha mas, queria passar mais tempo com meu pai.
- E eu quero mandar o meu pro inferno._ resmunguei suspirando e ela me olhou confusa.
- Ele voltou?_ perguntou preocupada e eu assenti.
- "Sua nota em química caiu."_ falei engrossando a voz para parecer com a do meu pai_ Ele voltou por isso. Mas esquece do meu pai. Eu tô feliz por você passar um tempo com o seu.
Hanna sorriu pra mim antes de abraçar meus ombros, enquanto o sinal tocava e alguns alunos entraram na sala. Desci da mesa e fui para meu lugar de sempre, atrás da Emily, onde eu posso dormir calmamente durante a aula inteirinha, e ainda tirar nota boa no final do semestre e nas provas que o Sr. Fitz passa.
- Uma pergunta. Mais alguém aí percebeu a hipocrisia de Atticus no final do romance?_ o professor perguntou, andando pela sala mas ninguém respondeu_ É, pois é. Ele usou de todos os recursos legais para defender Tom Robinson e aí depois de Bob Ewell ser esfaqueado... ele foi até o xerife para encobrir o crime.
- Ele está protegendo Bob Radley._ Spencer falou levantando a mão.
- Protegendo ele? Do que? Da justiça?_ Sr. Fitz questionou e uma coisa rara aconteceu, Spencer não soube responder então ela apenas assentiu perdida_ Atticus é um advogado do tribunal e estava conspirando para encobrir um crime. Ele deixa o próprio filho levar a culpa pelo o que Bob Radley fez.
- Foi um acordo._ Aria disse girando o lápis em sua mão.
- O que foi um acordo?_ ele perguntou se virando para ela.
- O Ewell teria matado as crianças. Boo salvou elas._ ela explicou e Sr. Fitz começou a andar em sua direção_ E Atticus sente a culpa pela sentença de Tom Robinson... então sugeriu que Jem assumisse a culpa no lugar de Boo... quase como um sacrifício.
- De quem estão falando?_ perguntei em um sussurro pra Emily.
- Dos personagens do livro._ ela respondeu me mostrando um livro_ Você não leu?
- Nem sabia que ele tinha passado isso._ sussurrei olhando os dois discutirem.
- Como você tem tanta nota boa?_ ela perguntou me olhando pelo canto do olho.
- Sorte. Eu acho._ respondi voltando a me sentar normalmente.
Assisti enquanto Sr. Fitz dava um showzinho na sala, ele até tratou mal um aluno, mas pelo visto não foi de propósito. E na metade daquela conversa eu já estava com sono, então deitei a cabeça na mesa e dormi.
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