Come Home With Me

Começar do início
                                    

E era tão bom. A euforia de sentir algo genuíno e bonito novamente, isso enchia seu coração. Gabriela Guimarães estava feliz. Tudo poderia dar errado alí, mas as coisas se resolveriam no final. Ela poderia ser feliz se acreditasse um pouco. Seu pai nunca esteve errado. Como ela poderia ter duvidado, por algum momento, de sua palavra?

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Menos de dois meses. 1 mês e 18 dias, exatamente. Esse era o tempo que eles tinham até a estreia. E mesmo com todas as melhoras, nada parecia certo. Sheilla geralmente funcionava incrivelmente bem sob pressão, mas todo aquele estresse estava acabando com ela.

Fisicamente ela estava bem. Mas sua cabeça estava presa no dia da estreia, criando milhões de possíveis reações dos críticos e do público. E nenhuma delas era realmente boa.

Nas duas últimas semanas ela foi perseguida pelo que era, provavelmente, o sonho mais estúpido e perturbador que uma atriz como ela poderia ter. Ela acabava seu primeiro solo e sua apresentação era tão ruim que toda a plateia se levantava para vaiar. E então, magicamente, uma mulher surgia no meio do público com um saco de tomates, distribuindo para todos os presentes. E foi assim que a Sheilla do sonho tornou-se uma versão patética de Carrie, a estranha.

A mulher do saco de tomates tinha o rosto um pouco borrado, mas Sheilla conseguia distinguir alguns traços. Ela tinha quase certeza de que aquela era sua mãe. Era quase como se dois lados de seu cérebro batalhassem para decidir se tornariam aquele pesadelo ainda pior.

Todos os dias ela acordava com o coração acelerado, uma dor de cabeça terrível e a cama encharcada de suor. Nas últimas semanas ela provavelmente fez mais ligações para o irmão do que em todo o ano. Victor era o único que entendia. Quando eram crianças, era ele quem geralmente espantava os monstros embaixo de sua cama. Ele percebeu antes de Sheilla, porém, que o que assombrava aquela casa enorme não eram os monstros imaginários.

Sheilla saiu de casa aos 15 anos para focar em sua carreira nos palcos, mas ela precisou passar dos 30 para entender que alguns fantasmas podem te seguir em qualquer lugar.

No centro da sala de ensaios, com Gabriela ao seu lado cantando algum trecho de Elephant Love Medley, ela quase podia ouvir as vozes sussurrando que eles estavam fadados ao fracasso.

Gabriela melhorou muito. Ela parecia irreconhecível, na verdade. Todos a elogiavam e Guidetti estava radiante. A cantora pegava todas as informações em uma velocidade impressionante, melhorando a cada dia.

Sheilla estava orgulhosa, é claro. Ela estava consciente do papel que tinha nisso. Mas ela parecia ser a única que sabia o quanto a garota sorridente de New Jersey ainda podia melhorar. Ela assistiu Gabriela Guimarães ser perfeita. Ela passou semanas tentando arrancar isso da garota novamente.

E agora ela estava frustrada, sentada em seu habitual lugar no canto da sala, tomando uma quantidade absurda de café porque não conseguia dormir mais à noite. E mesmo na luz do dia, Sheilla continuava sendo assombrada por seus próprios demônios.

A convivência com Gabriela era difícil às vezes. Ela nunca queria ser cruel com a mais nova, ao menos não depois de ter criado algum tipo de sentimento por ela. Mas ela ainda precisava de fazer seu trabalho.

— A gente pode repetir essa parte? Eu acho que errei o tempo. — Era mentira. Ela queria que Gabriela cantasse suas duas linhas de novo. Ela também sabia que Gabriela havia entendido isso apenas com um olhar.

Elas adquiriram uma boa comunicação gestual depois de quase dois meses convivendo diariamente. A conexão era inegável alí, qualquer um que assistisse por mais de cinco minutos poderia perceber.

Elephant Love MedleyOnde histórias criam vida. Descubra agora