Se eu não odiasse tanto esse garoto, concordaria.

— Por que está dizendo isso? No final os vilões sempre perdem — Chelle intervém.

— É, pode até ser, mas não aqui.

Sem aviso, Flynn tira a arma da cintura. Arregalo os olhos. Deveria ter previsto que ele estaria armado. Olho para Michelle, que se encolheu atrás de Jacob. Tom continua da mesma forma, com o olhar furioso e magoado, mas o corpo imóvel. Jacob também.

Flynn encara sua arma, apreciando o brilho e a apontando para nós. Meu estômago gela e presumo que os garotos tenham um plano, eles precisam ter!

— Jacob! Tom! — chamo, com a voz trêmula.

Ninguém fica tão calmo quando apontam uma arma em sua direção, não é? O que tem de errado com esses garotos?

— Tenho quatro balas. Uma para cada um. Vamos ver quem será o primeiro — ele analisa, andando de um lado para o outro e engatilhando a arma.

— Onde está a arma, Tom? — Jacob sussurra e Tom franze a testa.

— Não estava com você?

Ferrou.

Ferrou.

Ferrou.

Minhas mãos começam a tremer e suar, o coração acelerado, as pálpebras tremendo. Morreremos e ninguém virá nos resgatar. Esse penhasco foi uma ótima escolha, assim ninguém ouvirá os disparos e só acharão os corpos quando forem jogados no oceano.

— Um plano! Precisamos de um plano! — Sussurro, nervosa.

— Ana, vai dar tudo certo — Jacob me acalma e eu o encaro.

— Certo?! Ele tem a merda de uma arma, Jacob! Corremos, ele atira. Ficamos parados, ele atira. Como vai dar tudo certo?

Flynn para, ficando de frente para nós outra vez e sorri.

— McRae, você é a primeira.

Paraliso, olhando para os meus amigos, sem saber o que fazer de fato.

— Bem que dizem que brasileiro nasceu pra ser ferrar — resmungo, apavorada, balançando a cabeça.

— Venha até aqui. Prometo que será uma morte rápida para você — ele assegura, como se isso fosse melhorar a situação.

Com o corpo tremendo em espasmos, as pernas não conseguindo suportar minha estatura, caminho lentamente até ele, sentindo meus pulmões falharem.

Em que merda vim me meter outra vez?

Olho para Jacob, constatando o desespero em seus olhos. Michelle chora desesperadamente e Tom continua fitando Flynn, com toda sua ira.

— Vou primeiro! — Jacob avisa, dando um passo à frente.

— Não. Não vai — avisa Flynn.

Quando o alcanço, ofegante, ele nos leva até a beira e me coloca de joelhos, pressionando o cano gelado da arma contra minha testa. Olho para o lado, vendo que estamos extremamente próximos da beira e que qualquer movimento em falso cairemos. Volto a olhar para frente e ele sorri.

— Quando eu atirar, a bala irá atravessar sua cabeça e consequentemente atingir seu cérebro. Morte na certa e não doerá nadinha — ele diz, como se estivesse me dando um presente. Doente.

— Seu problema é comigo, Flynn. Deixe ela em paz — Tom grita, aproximando-se de nós e Flynn retira a arma da minha cabeça, apontando para ele.

— Fique onde você está! Ou eu atiro.

Tom ergue as mãos, como quem diz que se rende e me encara. Flynn volta a pressionar a arma na minha cabeça, sorrindo.

— Suas últimas palavras?

— Vai se ferrar.

— Boa escolha.

Fecho os olhos ainda trêmula e ouço um disparo, mas, ao contrário do que pensei, não sinto nada. Será que já estou morta? Abro os olhos e vejo o corpo de Flynn pendendo para o lado, caindo do penhasco lentamente, com um buraco na cabeça e os olhos arregalados. Sua arma cai no chão e dispara, mas por sorte, não fere ninguém.

Apoio-me na grama, sendo erguida por Jacob, que me abraça. Tudo parece estar passando em câmera lenta e isso é assustador para caramba.

Encaro Tom, com o braço ainda esticado e o olhar sanguinário, com os fios negros balançando, e em seguida observo o corpo de Flynn alcançar a água, batendo nas pedras primeiro e sendo levado pelas ondas em seguida.

Tom já sabia que isso aconteceria, ele planejou tudo sozinho, mas precisava que acreditássemos que estava desarmado. Quase sofri um ataque cardíaco, mas deu certo.

Jacob me abraça mais forte ainda, cheirando meus cachos e Chelle abraça Tom, que já voltou ao normal, aproximando-se de onde estamos.

— Acho que agora acabou — ele murmura, ofegante, e concordamos com a cabeça.

Um trovão ecoa no céu e a chuva torrencial começa a cair, assim como a noite a aparecer.

Com os corpos molhados e tremendo de frio, continuamos imóveis ali, olhando para baixo e vendo as ondas cada vez mais violentas indo e vindo, levando Flynn e tudo o que ele representava para longe de nós.

Não foi dessa vez que o vilão venceu.

Uma Garota Discriminada [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora