Eterno Carnaval

Fantasia

Eu não queria que elas se preocupassem com nada, poderiam até pensar que eu estava sendo imatura, então guardei tudo para mim, era melhor assim.

Saindo nas noites de festa, com outras pessoas, acabei refletindo muito e cheguei a conclusão de que nosso curto período na faculdade poderia ser o último em que seríamos nós mesmas juntas, então eu precisava fazer alguma coisa, fazer era com que elas repensassem ou sei lá, se importassem com a hipótese de que nunca mais nos veríamos depois disso.

Foi então que eu tive uma grande ideia.
Ideia essa que eu ainda não sabia, mas iria mudar muitas coisas naquele rumo precoce que eu havia idealizado para nós três.

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Era segunda-feira, dia 13 de fevereiro. Na minha cidade as festividades não eram levadas muito a sério, quer dizer, estávamos quase no carnaval e tudo que se ouvia falar eram de bailes funk e festinhas na praça. Era um saco. Eu gostava de ir só para poder me arrumar e flertar ( por diversão kkkk), sempre deixei isso bem claro.

Eu tinha acabado de voltar da faculdade de van, já passava dás 23:00 da noite, é eu tinha que ir para a facul a noite, vivaaaa!
Depois de sair da van ainda tinha que caminhar do centro da cidade até o bairro em que eu ainda morava com meus avós. Seria frustrante ter que ir sozinha por todo o caminho, mas para minha sorte eu tinha uns amigos que moravam por perto, então era suave.

Mateus- E aí, como vai ser o carnaval?-

Sara- Vai ser na igreja, amém!-

Mateus- Ah não, Sara haha.-

Ana- Sai fora haha- Eu não era da igreja e não tinha nada contra também.

Mateus- Tô falando sério, vocês vão ficar de base?-

Ana- Infelizmente.- Mais um carnaval na cidade.

Sara- Falei sério sobre a igreja, meus pais torram a paciência.-

Mateus- Bom, eu fiquei sabendo de uma excursão foda pra Salvador.-

Sara e eu demos risada. É sério, Mateus, Salvador?

Ana- Ah tá, passe grátis pra venderem seu rim?-

Sara- Venezuela é o limite, né? Hahaha.-

Mateus- Não! Vocês são primitivas demais, né? Tô falando sério, se liguem. Um amigo meu no insta falou sobre uma excursão de carnaval com metade da viagem paga, três pessoas por agendamento.-

Parecia calote, mas o Mateus saberia, eu pensei.

Sara- Seeei.-

Mateus- Depois de pagar você só precisa curtir e garantir que vai estar no ônibus na volta pra casa haha.-

Ana- Será mesmo? E se o cara resolver sumir com a grana? Mateus, essas coisas são muito duvidosas.- Eu disse isso, mas no fundo estava começando a achar interessante.

Mateus- Se até aquela DJ famosinha daqui tá divulgando. Só joguei no ar, nem eu mesmo sei se vai rolar pra mim, mas tipo, é Salvador né? o carnaval de lá é um sonho.-

Um sonho mesmo. Por gostar muito de escrever, eu sempre ficava fantasiando sobre muitas coisas e uma delas, em específico, era o carnaval de Salvador. Quando era colegial, eu fantasiava sobre viajar para lá um dia com as meninas e elas embarcaram, dizendo que seria a coisa mais louca da vez e acrescentando seus arcos. Sempre fui bem fanfiqueira e adorava quando alimentavam minhas ideias.

Mas e se uma delas se tornasse realidade?

Depois que os dois foram para suas casas, continuei meu trajeto, pensando no que Mateus havia contado. Era um pouco surreal pensar na possibilidade de realizar uma fantasia da adolescência e ainda ir com as minhas melhores amigas para uma cidade linda, em época de carnaval.
Eu não tinha nada a perder, talvez se só desse uma conferida...

(...)

Na terça-feira depois da aula, eu cheguei da facul exausta. Tinha sido outro dia ridículo lidando com pessoas tão egocêntricas quanto o meu patrão na lojinha, a diferença entre eles era que meu patrão já era formado.

Jogada no chão do meu quarto, fiquei imersa em pensamentos. Eu ainda estava de férias do trabalho e tinha uma grana guardada, não precisava pensar muito em contas, isso tornava tudo mais leve.

Peguei o celular e procurei o perfil do Mateus, depois do que ele falou eu fui procurar o anúncio, só pra dar uma olhadinha. Como eu havia imaginado ele colocou o anúncio no próprio story do insta, mas me surpreendi com a quantidade de gente que estava fazendo o mesmo.

Enquanto especulei sobre contactar o anúncio, também me achava uma idiota por cogitar essa loucura...

Mandei uma mensagem.

Minhas mãos tremiam, minha ansiedade sempre se manifestava nos momentos certos.

No anúncio do perfil dizia que as vagas estavam quase esgotando, o que significava que outras pessoas da cidade também iriam.
Isso me deixou mais esperançosa.

Quando o anunciante respondeu já passava dà 1:00 da manhã. Eu ainda estava acordada, precisava tirar essa dúvida ali mesmo, naquela noite... Ou madrugada.

⁠⊡⁠ ⊡⁠ ⊡

Ana: Oi, vi o anúncio. Vocês ainda têm vagas?
✓✓

Anunciante: Boa noite, você é uma pessoa de sorte, claro que temos!

Ana: O que eu preciso fazer? Vocês aceitam dinheiro vivo? Cartão?
✓✓

Anunciante: Nós ainda temos vagas sim, mas as que são pagas com dinheiro já se esgotaram, Ana. Porém, temos outra maneira de você conseguir curtir seu carnaval com dois acompanhantes em Salvador.

Ana: Não parece confiável, deixa pra lá.
✓✓

Anunciante: Não tem segredo algum, se ainda estiver disposta, podemos garantir sua ida e volta para a cidade. Só precisamos marcar um encontro para acertar detalhes.

...

Ok, isso parecia muito, mais muuuito furada, mas eu refleti durante um tempo.

Sei que qualquer adulto no meu lugar desligaria o celular e iria dormir, mas eu não queria essa merda de vida adulta, pelo menos não no carnaval. Além disso, o que custava apenas conversar? Se fosse furada era só eu recusar.

Ana: Tudo bem, vamos marcar um encontro, pode ser no centro da cidade?

Anunciante: Claro, Ana, onde preferir!

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E depois disso eu desliguei o celular e encarei o teto do quarto.
Fiquei imaginando como tudo seria se ao menos uma das coisas que imaginava quando mais nova se tornasse verdade. Eu poderia fazer algo incrível com as minhas amigas, pelo menos por um carnaval. Era tudo por elas.

Mas se eu tivesse ao menos pensado um pouco mais na execução.

(...)

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