06 Até não gostar mais

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Pisco seguidas vezes com a surpresa da embalagem roxa que Nate deixa na mesa a minha frente. Um saco grande e fechado de balas macias de uva. Com as mãos ainda trêmulas, ergo o pacote da mesa de tampo azul caneta, dando um sorrisinho de canto. Sinto os meus músculos, antes tensionados, relaxando aos poucos. Não sei por que, mas meu coração dança enquanto tomo a coragem de encarar o menino.

Ele é arrasadoramente bonito e sua boca é uma verdadeira obra de arte. Tem um piercing na sobrancelha que o deixa ainda mais lindo. Levo o saco de balas ao peito, abraçando como se fosse algo precioso, encarando a fileira de dentes alinhados, brancos e perfeitos que emolduram seu sorriso.

—Você deixou todas as balas pelo chão do pátio ontem. Até as recolhi, mas achei que você não as fosse querer mais. Foi meio difícil achar essa marca, hein... — Confessa, pousando as mãos nas laterais do quadril e exalando o ar, como se retirasse um peso dos ombros.

A maneira como a voz dele está mais...suave me intriga. Quase não vejo o garoto cruel que me ameaçou ontem. Seus olhos brincam. Ele está alegre e percorre tão minuciosamente os detalhes do meu rosto, que não consigo evitar corar. Sei que Nate não consegue ver o quanto minhas bochechas estão quentes, porque estou com uma leve maquiagem que cobre os arranhões e o hematoma da bofetada de meu padrasto, que começa sumir.

— Obrigada! — Sussurro.

Ele comprou balas para mim...procurou a mesma marca e sabor que eu gosto. Por que estou subitamente deixando de enxergar Nate como um "problema" e passando a vê-lo como um garoto "gato" e intrigante? Isso é muito inesperado. Eu jamais imaginaria que seria gentil comigo após o dia de ontem. Na verdade, tive um pesadelo a noite com Nate me chacoalhando feito uma boneca de pano e me acusando de tê-lo denunciado.

— Ah, eu também comprei isso... — Avisa, deixando uma sacolinha preta da Imaginarium a minha frente.

Demoro incontáveis minutos encarando os seus olhos e piscando sem parar. Minhas mãos estão suando frio, com o cheio de seu perfume fazendo força para nunca mais deixar as minhas narinas. Puxo o ar com urgência para meus pulmões e tento me recompor, certamente estou parecendo uma boba o encarando assim. Desvio os olhos de seu sorrisinho repleto de expectativas e abro a sacola. O conteúdo é uma garrafa de água belíssima. É vermelha, repleta de glitter e tem a frase "Mais água para ficar mais linda" escrito em branco na sua extensão. Isso é simplesmente perfeito. Eu...não ganho um presente desde que meu pai morreu. Sinto vontade de chorar, mas engulo em seco e abro um sorriso. Giro os olhos até ele, que parece nervoso, ansioso até...

— Obrigada, Nate. É linda!

— A real é que eu tava puto e acabei pisando na sua garrafa vezes seguidas, depois que você saiu correndo e a abandonou no banheiro. — Diz, cerrando os lábios na sequência. — Sinto muito!

— Não vou dizer que está tudo bem, mas fico feliz por ganhar uma nova garrafa, e minhas balas. Acho que já estava em abstinência de açúcar. — Brinco, enquanto abro a mochila e coloco os presentes dentro dela. — Consigo facilmente imaginá-lo pisando em minha garrafinha. — Penso alto, balançando a cabeça. Assim que me levanto, Nate se afasta um pouco e me encara, parecendo assustado. Trinco as sobrancelhas, observando-o. — O quê?

— Você finalmente disse uma frase longa. Fiquei chocado. E sua voz...ela é muito bonita. Mas já devem ter dito isso muitas vezes, né? — Fala, fitando os meus olhos com algo que posso nomear como "profundidade".

Ele acabou de me elogiar? É nessas horas que mais sinto a falta de ter uma amiga para perguntar se ele flertou comigo, ou apenas está zombando da minha cara.

— E você finalmente está sendo menos assustador. — Revido, estão exalo o ar e dou um sorrisinho tímido, sem exibir os dentes.

— Me desculpe por ter sido um cuzão ontem, Isa. Não foi a melhor maneira de conhecer uma garota bonita. — Nossa! Ele me chamou de Isa? E, Deus, Nate disse que sou bonita! Por que tem uma sensação de calor na minha barriga? Qual a razão de ter algo molhado em minha calcinha? Será que fiquei menstruada? Arregalo os olhos, então rapidamente jogo minha mochila nos braços dele. Não dou atenção a sua careta assustada, enquanto a vasculho em busca de um cardigan rosa. Assim que capturo o tecido, não perco tempo e o amarro ao redor do quadril. — O que foi?

Revolta e Outras Coisas - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora