Guardo a folha em minha pasta, e volto meus olhos para o debate que acontece, sinto o olhar de Soraya em mim. Ajeito-me na poltrona, com o desconforto.

- Algum problema?

- Eu que pergunto, há algo em mim? Digo, para ficar me encarando? - Agora nos encaramos, e ela sorri.

- Nenhum, apenas quero saber o quê tanto escreve. - Seus olhos se voltam para minhas mãos, que então percebo segurar uma folha e uma caneta que rabisca coisas. Encaro a folha, e vejo um nome reconhecível. Guardo a mesma na mesma pasta que guardei a outra.

- Nada de seu interesse. - Digo o mais secamente que consigo. Se ela soubesse o que havia ali, sei que daria tudo errado.

- E como sabe com o quê me interesso? - Novamente um sorriso sarcástico saí de seus lábios, e sinto raiva por ver que tem um domínio em meu estômago, que gira perto dela. Sinto que estou em uma cilada, não vou responder, não posso.

- Apenas...Deixe-me em paz. - Pego minha pasta e começo a ler algumas anotações para o debate, para que ela entenda que não quero falar. E por fim, ela entende, e agradeço mentalmente.

- De nada. - Me assusto com sua resposta, Soraya Thronicke lê pensamentos?! Não esboço nenhuma reação fisicamente, mas externamente estou assustada. Ela é uma onça que lê mentes, pelo menos a minha.

* * *

Após o debate, abraço Soraya, mas não por que gosto dela, mas sim para que não percebam meu ódio por ela. Para  verem, que uma candidata "apoia" a outra. E em meio ao abraço, aspiro seu cheiro, tão doce quanto ela, combinando tanto. Aprecio aqueles braços envolta dos meus, como a tempos eu não sentia.

- Saiba que ainda te odeio. - Sussurro em seu ouvido, e sinto seus braços se firmarem em volta de meu corpo.

- Nossos sentimentos são mútuos. - Soraya sussurra no mesmo tom,  seus braços me soltam deixando uma falta de seu corpo ao meu.

Vejo o motivo de ter me soltado, estava demorando para aquele homem (se posso chamar assim) aparecer. Bolsonaro sorri forçadamente para mim e se volta para Soraya, que fecha a expressão para ele.

- Olá, presidente. - Vejo Soraya fechar as mãos, segurando a raiva. A onça tentando não sair, só de olhar para aquele ser.

- Thronicke, ainda não sei o porquê se candidatou. A União está decaindo cada vez mais. - Ri ironicamente. Sinto a raiva tomar conta de meu corpo, e não sei o por quê.

- Me candidatei pois cansei de ficar vendo o senhor, destruir o Brasil cada vez mais. E quanto ao meu partido, ele está muito melhor que o seu, pois não é corrupto. - Soraya faz o melhor para não avançar nele, vejo isso pois ainda fecha seus punhos com raiva. Ela está com um sorriso forçado, provavelmente querendo matar ele.

- Hahaha. Soraya, você nunca vai ganhar, às pessoas não querem uma traidora como presidenta. Querem um homem de família, como eu. Não uma trambique! - Bolsonaro exibia um sorriso superior e confiante.

Vi Soraya ficar sem palavras. Onde está a onça?! Ela não vai se defender, meu Deus, o que ele fez?!
Vejo ele caminhar para longe, olho para Soraya que ainda está parada, vejo uma tristeza em seus olhos e em sua expressão séria. Com raiva explodindo dentro de mim, não penso duas vezes e vou ao alcance de Jair,  paro e fico em sua frente.

Sinto o olhar confuso de Soraya em cima de mim, e fiz o quê fiz por ela. Para não ver a onça ficar de cabeça baixa para um ser como ele.

Depois de conversar, quase humilhar educadamente e elegantemente o falso Messias, vou em direção ao meu camarim preparar-me para ir embora.

Destino: Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora