11- Sem punições

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A voz doce de Elisa soou enquanto ela descia as escada segurando o corrimão de madeira.

- Ainda não consigo acreditar que fizeram aquela atrocidade com Joana. Como pode uma mãe fazer isso com a própria filha?

A expressão de Edna foi a pior possível, ela se virou para Elisa visivelmente irritada.

- Quem você pensa que é para falar assim? - ela se virou para Manuel - Controle sua esposa, já me basta ter Fernando se envolvendo nos meus assuntos e agora essa aí...

- Chega, Edna!- Fernando gritou interromoendo-a exaltado.

Manuel também entrou na discussão:

- Quem deve se calar é... minha esposa!- falou quase engasgando com o final da frase nitidamente forçada.

- Gostaria de saber como você soube do que houve?- Edna perguntou com ar desconfiado.

Elisa se sentiu pressionada naquele instante, temeu dizer a coisa errada e se complicar, pois esteve a noite a sós com Fernando, então se esforçou ao máximo para parecer tranquila.

- Eu... Acabei de ver Joana no quarto...- mentiu tentando amenizar sua situação.- A menina estava apavorada...

Era nítido o quanto Fernando estava aliviado por Elisa ter se saído bem com aquela justificativa, não desejava deixá-la com problemas.

Edna continuou:

- Você não conhece aquela pestinha, como uma boa mãe preciso ser enérgica ou ela nunca irá ser bem educada.

Elisa riu desacreditada com a forma que Edna falava.

- Como você pode ser tão... fria? Uma boa mãe não deixa uma criança sozinha naquele lugar horrível e sem se quer ser alimentada, apenas por ter brincado com um pouco de terra!

Fernando deu um passo a frente ficando próximo a Edna, estava muito nervoso, atormentado por algumas lembranças sombrias.

- Quando me prendia lá eu sabia que era porque me detestava, afinal eu era filho de seu marido, fruto do outro casamento. Te incomodava o fato de que sempre que eu estava com meu pai, eu fazia com que ele se recordasse do grande amor de sua vida, minha mãe. - Edna ficou ainda mais enfurecida. - Mas Joana é sua filha!

Às palavras de Fernando fizeram Elisa se sentir comovida, havia muita emoção em tudo que ele dizia.

- Não devo explicações a nenhum dos dois! - a voz de Edna era gélida e sem nenhum arrependimento.

A voz de Manuel soou tão fria quanto de sua mãe:

- Pare com todo esse drama, breve estará longe desta casa, então teremos paz.

Fernando respirou fundo e enfrentou os dois mais uma vez.

- Só vou deixar um recado para vocês dois, nem Joana e nem Antônia, nunca mais serão castigadas naquele lugar. Ou eu juro... - a voz de Fernando ficou num tom mais rígido. - Que vocês dois vão se arrepender disso!

Edna olhou para Manuel esperando que ele dissesse algo, mas ele no entanto parecia nem se importar com as ameaças do meio irmão.

Fernando então continuou:

- Eu vou fazer tudo, escutam bem, tudo o que estiver ao meu alcance para desafazer a cláusula desde casamento - falou olhando disfarçadamente para Elisa - aproveitem os momentos de glória que vocês tem, porque será breve!

Então a expressão de Manuel se modificou, ele ficando tensa. Ele se virou para Fernando em tom autoritário:

- Você tem exatamente alguns minutos para sumir desta casa. Enquanto eu for o administrador você não mora mais aqui!

- Não precisa me expulsar, minhas coisas já estão arrumadas, ainda hoje parto para Vargem.

Elisa olhou imediatamente para Fernando sem disfarçar a surpresa.

- Mas do que você está falando?- Manuel perguntou.

- A casa da família de Elisa agora pertence a nossa família, e se você herdou a casa Valença, diante da lei a outra me pertence.

De alguma forma, Elisa se sentiu feliz, acreditava que a fazenda de sua família estaria em boas mãos.

A voz rude de Manuel soou:

- No que depender de mim, você não fica com nada!

Fernando riu.

- Infelizmente maninho, temos o mesmo sangue de nosso pai! Eu já me informei a respeito de todos os meus direitos - Fernando falou se virando de costas vestindo sua cartola e saindo.

Elisa ouviu Manuel urrar de raiva, no entanto ficou parada no mesmo lugar, ela precisou disfarçar um sorriso.

O clima estava tenso e quando Fernando desapareceu da vista de todos, Edna falou para Elisa tentando amenizar o constrangimento por toda situação que ela tinha presenciado:

- Você deverá ir a cidade para encomendar novos vestidos.

Elisa não estava com seus ânimos para compras, mas sabia que não poderia se opor, entretanto, tinha uma ideia que poderia lhe deixar mais animada, sabia que não era ao melhor momento, no entanto arriscou:

- Manuel, me permita levar Antônia como companhia?

Edna ficou surpresa e irritada por que o pedido não foi direcionado a ela.

- Antônia não tem o que fazer na cidade, e se quiser qualquer coisa com minha filha, se dirija a mim.

Manuel se manifestou:

- Ah, mamãe, deixe Elisa em paz. Será bom que ela seja vista na cidade com Antonia.

Era visível que Edna não havia estado satisfeita com aquilo, porém também era notório que eles se beneficiariam com isso.

Então respirou fundo ainda se recompondo de todas as emoções.

- Talvez você tenha razão. Antônia irá com Elisa. Quero que todos falem sobre a nova cunhada de minha filha. - naquele instante o humor de Edna mudou bruscamente. Ela começou a listar os benefícios em tê-la exposta para toda alta sociedade, Elisa ficou quieta pois ao menos teria a companhia de Antônia.

RAZÕES PARA NÃO TE AMAROnde histórias criam vida. Descubra agora