Lennon observou o próprio corpo: braços, pernas, barriga e peito. Havia algo de diferente em seu peito. Uma pequena cicatriz. Nenhuma cicatriz demoraria a desaparecer, quaisquer que fossem. Exceto uma.
-O que você fez, McCartney? –Lançou temeroso, retirando o lençol branco de cima de si.
-Nada. Eu juro. –Levantou as mãos e expressou toda sua calma ali. –Os exames podem mostrar: tá tudo no lugar.
-Se quer que eu confie em você é melhor que fale o que acabou de acontecer aqui. –Lennon rosnou enquanto apontava para o próprio peito.
-Já disse: não foi nada. Eu só acompanhei todos os seus procedimentos e pedi um pequeno favor aos médicos.
-Qual foi o favor, McCartney? –Ele esperou a resposta e não obteve. –Merda, qual foi o favor!? –Bradou impaciente, sentando-se prontamente na cama.
-Eu só pedi para segurar o seu coração. Apenas isso, coisa simples.
-VOCÊ O QUE? –Em um salto da cama Lennon avançou em seu aprendiz, segurando-o fortemente pelo colarinho do terno e erguendo-o da poltrona que estava. Sua cabeça respondeu com uma pontada aguda que o fez retesar quase que instantaneamente. –MERDA! –Deu um passo para trás encontrando a cama novamente. Escorou-se de maneira irregular e passou a mão no lado direito da cabeça.
-Vamos, John. Sente-se. –Arrumou as vestes. –Nada de movimentos bruscos pelas próximas horas.
-Quero muito saber até onde isso vai, McCartney. –Lançou contido enquanto fulminava seu aprendiz com o olhar, e respirou fundo para terminar o que tinha a dizer. –Mas eu tenho que dar o braço a torcer pela originalidade.
-O que eu vi foi tão lindo, John. –Ele inclinou o corpo para melhor contato visual com seu mestre. –Seu coração quente batendo em minhas mãos... –Juntou as palmas em concha. –Esse músculo que te dá vida, pulsando involuntariamente enquanto eu o abraçava com os meus dedos. Eu te segurei por inteiro bem aqui... –Mexeu-as pobremente.
-Que bom que está me contando a sua experiência. Farei o mesmo com você, mas muito bem acordado. –Sorriu cínico em pura ira.
-Qualquer sentença será digna, mestre. –Seus olhos brilharam.
-Sabe o que vai ser? –O mestre então segurou o rosto de seu aprendiz com firmeza. –Quando toda essa merda terminar nós vamos fazer uma troca... Você fica com o meu coração e eu vou ficar com o seu. –Um risinho iluminou o rosto de McCartney. –Parece romântico, não é? Pois é, mas falta uma coisa: eu vou programar os dois para os nossos batimentos se complementarem, de modo que, se eu sofrer qualquer alteração, você vai sentir a dor atravessando a merda do seu corpo inteiro.
-Isso seria ótimo se você não sofresse as mesmas consequências. –Desvencilhou seu rosto das mãos fortes de Lennon.
-Quem disse que não sofrerei? Essa é a parte mais legal! –Seu risinho doentio entrou delicioso pelos ouvidos de McCartney. –Quem vai se divertir mais nesse jogo? Que delícia vai ser tomar alguns choques ou até mesmo prender a respiração! Pode admitir, isso faz da sua roleta russa ser um inocente carrossel, não é?
-Sim, com certeza. –Suas orbes coloridas passearam pela boca pequena à sua frente. –Mas aposto que não teria coragem.
-Paga pra ver. –Lançou de imediato.
E houve um breve brincadeirinha entre eles.
-Então eu tenho que aproveitar antes da minha derrocada. –Aproximou-se mais de seu mestre, deixando com ele um sorriso e um suspiro quente.
-Sugiro que aproveite bem. –Lennon sussurrou, tentando se manter longe do efeito que seu aprendiz lhe causava.
-Você sabe que eu não vou parar, não é? –Sussurrou de volta.
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FIXAÇÃO - Mclennon
RomanceJohn Lennon estava em busca do seu próximo aprendiz pelas ruas de Zerbiek. Ele seria um exímio assassino e conhecedor de todas as artes, ignorando limites e sensibilidades, ultrapassando o extremo de seus antecessores. Paul McCartney foi escolhido p...
O inferno dos reis - Parte 2
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