Um

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Olívia

Não consigo esconder a ansiedade que consome o meu corpo. Checo-me no espelho pela milésima vez retocando o batom vermelho cereja em meus lábios. Sei o que essa cor provoca no Marcelo, o quanto o deixa excitado. Quero agradá-lo, afinal, hoje completamos cinco meses de namoro. Um sorriso travesso desabrocha quando imagino a surpresa estampada em seu belo rosto. Ele cairá em seus próprios joelhos com a visão da sua namorada diante da sua porta, trajando apenas um sobretudo preto, escondendo uma

lingerie feita para enlouquecer a mente de um homem. Confesso que foi um desafio preparar essa surpresa, ousada não é minha marca registrada, mas pelo Marcelo vale o risco e sei que a recompensa não decepcionará.

De posse da minha pequena bolsa de mão e chaves do meu carro, dirijo rumo ao seu apartamento. É uma típica noite de sexta-feira, o céu começa a escurecer e me apresso apertando o volante por todo o caminho. Olho de soslaio para a pequena cesta que preparei com algumas coisas para nós, repousando sobre o banco, contendo inclusive seu vinho preferido, que aliás me custou uma nota. Não me arrependo, mesmo que signifique que deixarei algumas contas do mês atrasarem. Não sou de lamentar, e Marcelo sendo o meu chefe não ajuda. Tenho medo que ele interprete que estou com ele por interesse e não é isso. Me apaixonei por ele assim que os nossos olhos se encontraram no meu primeiro dia de entrevista na sua empresa, muito antes de saber que ele seria o meu chefe.

Ao chegar no seu prédio sou interceptada pelo porteiro, o que é estranho pois ele sempre permitiu minha entrada sem pestanejar. Fui obrigada a usar todo o meu charme e mentir, falando que Marcelo havia me telefonado. O homem semicerrou os seus olhos castanhos como se duvidasse, mas mantive a serenidade e um sorriso confiante, que no fim acabou-o soando deliberadamente convincente.

Alcançando as chaves do apartamento dele nas mãos, vagarosamente destranco a porta, pelo horário, ele deve está tirando um cochilo.

Coloco a pequena cesta em cima da bancada da cozinha e caminho em passos silenciosos em direção ao seu quarto. Meu coração erra uma batida quando o vejo de costas, com o cabelo úmido e uma toalha branca enrolada nos quadris estreitos.

Fico no limiar da porta observando-o, faminta, desejando que ele se vire e me tome nos seus braços como faz quando estamos sozinhos em seu escritório.

Não leva um segundo e ele se vira com um sorriso que desaparece lentamente quando ele nota minha presença. Seus olhos verdes se arregalaram e parecem que vão saltar fora.

Seu queixo tremeu levemente e meu nome saiu como um sussurro dos seus lábios atraentes.

— O-lívia?

Merda! O que está fazendo aqui? Não combinamos nada para hoje.

Franzo o cenho com sua rispidez.

Ando até ele e me aproximo do seu corpo cautelosamente. Com os olhos cravados aos seus, abro o sobretudo vagarosamente e vejo seus olhos ondularem e sei bem o que isso significa.

Ele gostou do que viu!

— Vim comemorar, meu amor! — Respondo com um sorriso de canto, deixando a peça escorregar sobre os meus pés.

Marcelo engole em seco e passa as mãos pelo cabelo ainda úmido do pós banho.

Inclino minha cabeça e beijo o canto da sua boca em seguida roço os lábios em seu pescoço, mordendo o lóbulo da sua orelha, ouvindo o seu gemido estrangulado e suas mãos grandes e quentes segurarem com firmeza a minha cintura.

— Hoje completamos cinco meses juntos, e fiz questão de trazer o seu presente.

Afasto-me observando o seu olhar agonizando entre um desejo animalesco e outro sentimento que não sei identificar, talvez medo? Apreensão? Disposta a não deixar isso atrapalhar o nosso momento, mordo o lábio inferior e dou um passo para trás, deixando seus olhos analisarem meu corpo com atenção. O espartilho vermelho acentuando minhas curvas generosas, deixando visíveis o topo dos meus seios fartos, a calcinha de renda minúscula, e a cinta-liga para instigar sua imaginação, além dos saltos.

Coloco um cacho do meu cabelo vermelho atrás da orelha e sorrio.

— Vem! — Faço um gesto com o indicador.

Marcelo parece petrificado no lugar, no entanto suas pupilas escurecem pouco a pouco, observo como o desejo, e o tesão ganha vida em cada poro do seu corpo. Resolvo que serei eu a quebrar a nossa distância e com um sorriso travesso engancho o polegar no seu quadril arrancando sua toalha e pegando o seu mastro rígido em minhas mãos.

— O-li… — Geme, cerrando os dentes.

— Mas que porra é essa?

Afasto-me assim que ouço uma voz feminina gritar.

Abro a boca e fecho quando vejo uma loira de olhos pretos completamente nua sair do banheiro do meu namorado. E tudo piora quando Marcelo abre a boca para falar.

— A-lice, não é nada do que você está pensando, eu posso explicar.

Viro-me para o Marcelo engolindo um nó se formando em minha garganta.

— O- quê? Marcelo, o que está acontecendo aqui? Quem é essa mulher, e porque ela está nua no seu apartamento? — Pergunto e pelo o olhar que ambos trocaram rapidamente não irei gostar da resposta.

— Olívia, por favor. Eu ia te contar tudo, só estava esperando o momento certo.

Instintivamente dou um passo para trás sentindo meu coração comprimir no peito.

Balanço a cabeça negando desesperadamente.

— Fala logo Marcelo, ou eu farei isso.

A loira rosna em sua direção. Impaciente, ela joga a bomba no meu colo.

— Eu sou Alice Russell, noiva do Marcelo, estávamos numa relação aberta antes, e por isso não me importei dele dar uns pegas na sua secretária — Ela me olha de cima a baixo, com um certo divertimento estampado na face.

— Marcelo me pediu em casamento essa tarde com direito a flores e declaração de amor na presença dos meus pais — Faz questão de balançar o exuberante solitário em sua mão esquerda. Uma onda de humilhação me acerta em cheio e ao visualizar o olhar de pena do desgraçado em minha direção faz com que tudo seja ainda mil vezes pior.

Segurando minhas lágrimas de descerem, recolho meu sobretudo do chão e me visto, erguendo o queixo, não deixando que enxerguem o quanto me humilharam.

— Olívia, me perdoa. Espero que não tenha ressentimento da sua parte. Foi bom o que tivemos, mas não era nada demais.

Marcelo diz, colocando uma mão no meu pulso. Esquivo-me do seu toque e viro-me para ele com sangue nos olhos. “ Não era nada demais ”?

Desgraçado!

— Não me toque! — Rosno entredentes.

— Não era nada demais? — Indago com o sangue fervendo nas veias.
Ele se afasta e tento não lembrar que está completamente nu na minha frente.

— Olívia, você é só a minha secretária… — Diz o óbvio e fecho minhas mãos em punho que, em um rompante, encontra o seu estômago em cheio.

Marcelo se curva gemendo de dor.

— Sua louca! — Berra, caindo com as mãos espalmadas no abdômen sobre o sofá da sala. A loira surge observando a cena chocada.

— Seu desgraçado! Quer saber? — Em passos firmes pego minha cesta de volta em cima da bancada e o olho ainda se retorcendo no sofá.

— Eu não sou mais a sua secretária. Eu me demito! — Brado antes de sair e bater a porta com força, controlando-me para não sumcubir a necessidade cruel de chorar. Como fui idiota! Me deixei levar pelo charme daquele infeliz. Agora ficou claro que fui apenas sexo fácil que ele tinha a sua disposição.

Cafajeste!

Só quando consigo chegar no meu carro permito-me chorar. Soluços se rompia da minha garganta de forma assustadora, e então a ficha cai. Além de perder o namorado, fiquei desempregada. Droga de vida!

Com o dorso da mão enxugo minhas lágrimas, alcançando o vinho, dou de ombros. Sem namorado, desempregada… Só me resta beber e esquecer que conheci esse homem um dia.

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