Minha mãe. Minha mãe sempre dizia que eu era sonhadora demais. Sempre sonhando, sempre idealizando, sempre suspirando com os cenários criados mentalmente por mim.

"Você acha que James e eu teremos quantos bebês?" Foi o que eu perguntei para minha mãe enquanto ajeitava meu vestido de frente para o espelho. James iria me buscar para jantar naquela noite.

"Eu acho que você não deveria pensar nisso agora, Deena." Respondeu ríspida atrás de mim, me assistindo através do reflexo do espelho.

"Em breve eu serei sua esposa. A Sra. Harrington." Sorri convencida, erguendo meu queixo. "Sinto que teremos bebês lindos, você não acha?"

"Eu sinto que você precisa acordar pra realidade." Deu dois tapinhas em meu ombro. "Sonhe menos e aja mais, acho que vai te ajudar."

Franzo o cenho vendo uma movimentação estranha. Fico na ponta dos pés tentando enxergar os homens que saem de dentro da casa de Michael e caminham até a área externa, mais precisamente na direção de onde estou.

Eles parecem muito novos, mais ou menos quinze anos, acredito eu. Eles riem de algo enquanto passeiam pelo jardim coberto de neve. Um deles grita algo e agacha, pegando uma bola de neve; os outros ao verem a cena correm e fazem o mesmo até que eles iniciam uma guerra de bola de neve em meio a gritos e risadas.

— Taj, vou fazer você se arrepender de ter nascido. — O mais novo grita correndo até ele.

— TJ, você vai ter que comer muito fermento para colocar medo em alguém. — O mais velho corre de costas, desviado da bola logo depois.

— Ei, me esperem. — Uma voz fina grita ao fundo, chamando a atenção dos meninos. — Me ajudem a descer? Tem muita neve.

Eles olham para o alto, na área onde não consigo enxergar e riem entre si.

— Brandi, isso é brincadeira de menino! — O mais novo grita, mas logo é interrompido por um tapa do mais velho.

— Deixa ela! — Resmunga e logo volta sua atenção para a garotinha que grita do alto do jardim. — Estou indo aí te ajudar a descer.

O mais velho sai, deixando os irmãos mais novos para trás e sobe as escadas, pegando a garotinha no colo e a ajudando a descer as escadas. Meus olhos ficam nos cabelos longos escondidos por uma touca roxa e finalmente a reconheço. É a mesma garotinha que vi Michael ajudar a colocar a estrela no topo da árvore. Brandi, sim, esse era o seu nome.

— Eu posso brincar também, Taj? — Agora em pé, de mãos dadas com o rapaz, ela levantou seu olhar para ele. Meu coração se derreteu com a cena.

— Não, não pode. — O mais novo rebateu. — Depois você se machuca e vai ficar chorando no nosso ouvido.

— Eu não falei com você, eu falei com o Taj. — Ela rebate dando língua para ele. — Taj, eu posso?

Não pude deixar de sorrir com a cena dos sobrinhos de Michael brincando no jardim. Eles são tudo o que eu sempre sonhei. É como se eu estivesse assistindo meu sonho bem na minha frente.

— Sim, você pode. — Ele assentiu para a pequena. — Me conte, o que você ganhou de natal?

— Hmm... — Ela balançou a perna para frente e para trás de forma pensativa. — Eu ganhei uma boneca da mamãe e uma casa de bonecas do tio Mike, você quer ver, Taj?

Chicago 1945 Where stories live. Discover now