— Sim! Quer dizer, não! — Passou a mão nos cabelos, um pouco desesperado. — Nossa filha estava chorando. — Apontou para sua casa, e ela ainda bate o pé, olhando para o gigante.

Sedrak é muito alto, seus cabelos longos e loiros e a barba fechada, deixa ele ainda mais assustador, e se for olhar os músculos trabalhado, dá até medo de ser esmagado por ele. Estou satisfeita com meu gigante/menor. Coldex é filho de um humano e uma gigante, por isso seu tamanho bem menor, e fico feliz com isso, porque sou curiosa para saber como essas mulheres conseguem levar esses homens desse tamanho, se sofro com o dote do meu que é mais baixo.

— Os dois são uma piada. — Harley se divertiu assistindo-os caminhar em meio a uma discussão. — Safada, escapou. — Olhamos para o chefe ao mesmo tempo, e ao contrário do Sedrak, ele não parece ter se distraído com uma discussão forjada.

— As três estão de murmúrios pela caverna, e eu conheço quando tem alguma armação sendo feita. — Nos avaliou minuciosamente, parando seu olhar com o da Harley, o que me deixa bem mais aliviada.

— Deixa de ser desconfiado, amor. — Harley quase ronronou para ele, e penso se seria a chance para que possa fugir.

— Tenho meus motivos, minha pequena humana. — Resmunga muito desconfiado.

— Bem que poderíamos aproveitar que as crianças estão brincando no lago, e imos para as banheiras quentes. — Enquanto minha amiga está seduzindo o marido, aproveito e escapo sorrateiramente me distanciando rápido.

Eu gosto de andar por aqui, os gigantes são tímidos e retraídos, mas, estou tentando ao máximo me aproximar e ter um bom convívio. São poucos, apenas três casais de gigante, duas senhoras de idade, um jovem gigante e dois homens que são um casal e estão fazendo uma espécie de excursão, em busca de outros que possam ter sobrevivido a doença.

— Kammy? — Chamo baixo a velha senhora, sentada em seu tapete parecendo está em outra dimensão.

— Entre, Luz. — Liberou me fazendo obedecer.

Sua caverna é diferente das demais. Uma grande estante exibe os mais diversos frascos de medicamentos, e claramente uma mesa com tubos para experimentos também estão dispostos, e por muito entendo o motivo de sempre os pedidos que o Hagar fazia, era sobre esses vidros e outros produtos bem específico.

— Queria conversar um pouco. — Admito sentando-se a sua frente.

— Sua mente parece realmente transbordando. — Sorriu baixo, pegando ao seu lado um bule e servindo um chá para nós duas.

— Queria saber sobre quando aconteceu a doença. — Comento pensando em algumas coisas, que até hoje me bagunça os pensamentos.

— Foi a sete ciclos solares. Quase oito, se minhas observações estiverem exatas. — Eu me engasgo um pouco, meus olhos se arregalando.

— A senhora já era nascida? — Ela assente calma. — Quem mais era?

— Coldex era um bebê, Hagar já era um jovem garoto, um pouco mais velho que Sedrak. Meu filho foi o único dos adultos que nasceu despois da doença. — Eu olho para a senhora, achando realmente que ela não está sabendo a dimensão dessa informação.

— Um ciclo solar, significa entre dez e onze anos. — Sussurro fazendo as contas rápidas. — Coldex tem quase oitenta anos. — Minha mente gira com essa informação.

— Anos humanos não são válidos aqui, Luz. — Sorriu pegando minha mão, e fazendo círculos sobre ela.

— Coldex nunca me disse sobre isso. — Comento inquieta, porque são dez anos de casados, e acho que devia me dizer algo importante como isso.

— Quando um de nós passa a viver fora da caverna, o ambiente humano passa a nós afetar. Envelhecemos mais rápido, do que se estivéssemos no interior da caverna. — Explica me fazendo entender o que aconteceu.

— Coldex aceitou envelhecer mais rápido, apenas para viver comigo na base da montanha? — Minha voz hesita com essa hipótese.

— Você ainda tem dúvidas disso? — Kammy sorriu como se fosse óbvio. — Ele é seu companheiro, e é claro que fará qualquer coisa por você.

— Sim. — Levo o chá aos meus lábios, olhando a mulher mais velha a minha frente.

— Mais vale dias curtos e felizes, que dias longos triste e solitários. — Kammy sorriu calma. — Não brigue com ele por isso. Seu companheiro apenas queria que não se culpasse por algo que ele escolheu e estava feliz com isso.

— Eu estou me culpando. — Admito frustrada. — Fui eu que insisti para vivemos lá.

— Foi um trabalho muito honrado da sua parte, Luz. — A senhora declarou com cuidado. — Ficamos felizes por cuidar por anos, e nos ajudar tanto. A própria deusa se encheu de graças por você, e é alguém que faz parte do nosso coração.

— Meu pai me fez acreditar nesse lugar, sem nunca ter conhecido. — Penso em como continuar, porque não quero esconder algo assim. — A uns vinte anos, ele conseguiu entrar aqui na caverna, e descobriu essa civilização incrível.

— Entrou? — Parece espantada com a notícia, porém, apenas assinto.

— Quando ele retornou, convenceu a mim e ao Caique sobre esse lugar, nos enchendo de ideias e imagens, e por fim, nos fez jurar que cuidaríamos e protegeria a montanha com tudo de nós. — Confesso tudo, deixando a senhora impactada.

Eu não fazia ideia de que Coldex abriu mão de sua longevidade para estar comigo, mas, mais que isso, suspeito que as meninas não sabem sobre essa condição. Kammy me explicou que tudo tem a ver com o oxigênio puro do lugar, tanto quanto uma questão fisiológica dos habitantes e que os humanos também são afetados quando se vive permanentemente na montanha, chegando a viver tanto quanto um gigante. Meu marido é bem jovem, e atualmente não dou mais que trinta anos a ele, sendo que já deve estar entre os setenta e oitenta, o que dará fácil uma vida secular a qualquer um deles. 

[...]

O SEGREDO DA MONTANHA 3 |+18|Onde histórias criam vida. Descubra agora