Outras duas pessoas cujo número sei de cor. Camille, uma amiga britânica que via todo verão no Brasil, e Louise, a minha correspondente inglesa. Encantada, descobri que a comunicação internacional também funcionava. Apesar da distância, a ligação estava impecável.
Eu estava presta a fazer mais algumas ligações mas uma voz familiar me impediu.
- Ho hoo, você estava aí? Estávamos procurando por você em todos os lugares! - Diz Alexia acompanhada de Ítalo que estavam do outro lado da ponte e acenando para mim.
Em um gesto inconsciente, enfiei o celular no bolso da jaqueta e me juntei a eles.
- Estávamos nos perguntando se você não tinha ido para casa. - Aborda Ítalo.
- Não, não queria te incomodar... - respondi sem ânimo.
- Você não está nos incomodando! - Responde Alexia com uma voz sincera.
Como pode ser tão ingênua?
A observei.
Tento ler sobre seu rosto, o que realmente se passava em sua cabeça. Durante meses, meus pensamentos foram ocupados com o belo Ítalo. Um menino do 3º ano B que chegou à classe no final do ano, tímido, mas tão charmoso que me apaixonei por ele à primeira vista.
Eu me abri sobre isso para Alexia, que rapidamente achou Ítalo do seu agrado.
Qual de nós duas seduziria Ítalo? O que era apenas uma brincadeira entre amigas logo se transformou em uma surda rivalidade. Alexia havia ganhado a aposta, logo no início das férias, durante uma noite organizada por amigos.
Eu flagrei eles se beijando no corredor da escola.
Afetada a indiferença, eu engoli meu aborrecimento, mas minhas ferida estava em carne viva. Desde então, eu tive que suportar vê-los andando de mãos dadas, trocando olhares apaixonados ou beijos.
Muito rapidamente, minha decepção se transformou em raiva.
Raiva que eu tinha o cuidado de não expressar em voz alta, mas que me devorava e me fazia odiar um pouco mais a cada dia aquela que considerava minha melhor amiga. Que idiota eu fui, ao aceitar um passeio pelas margens do Porto na companhia deles!
Me pergunto se não sou masoquista? Talvez eu seja.
Depois de dez minutos, eu só tinha uma coisa em mente: fugir deles! Razão pela qual eu havia escapado na direção oposta do Porto. Eles estavam tão preocupados consigo mesmos que nem perceberam minha ausência.
- Garanto que não nos está atrapalhando! - repetiu Alexia.
Ítalo apenas sorriu envergonhado e concordou com a cabeça. Caminhamos pela margem e voltamos para a estrada, num silêncio pesado. Eu pensei que provavelmente aquela seria a última vez que nos três iriam passear.
Quando avistávamos as primeiras casas da cidade, eu apenas me afastei deles, seguindo o rumo de casa. Estava chegando em casa quando vi minha mãe entrar no carro e sair em alta velocidade. Meu pai, muito pálido, estava imóvel em frente do portão.
- O que está acontecendo? - Pergunto alarmada.
- Sua avó acabou de desmaiar, isso aconteceu enquanto ela estava conversando com Sra. Debye que chamou o samu e depois sua mãe. - Respondeu meu pai.
Eu comecei a chorar, meu pai me acolheu em seus braços e disse:
- Não se preocupe, a saúde da vovó é de ferro. Todos deve ser resolvido muito em breve. - tentou me acalmar.
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Eu olhei para o despertador. Era meia-noite e eu não consegui dormir. Uma onda de calafrios me percorreu. Desde o funeral, eu sentia frio, frio o tempo todo. Nada poderia me manter aquecida, nem os suéteres grossos em que me aconchegava ou os cobertores sob os quais me enrolava à noite.