XIII. Mito da Caverna

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O resultado foi a morena se colando ainda mais, trazendo-a para si com uma investida ferrenha do seu quadril. Se pudesse, a loira teria soltado um gemido manhoso. Era bastante chegada nessa pegada mais bronca.

Zeca continuava largado e Júnior já de pé, tentava ajudá-lo sem muito sucesso. Atinou para o que era mais fácil: desligar a torneira.

— Mãe! Vai ter volta! — Ele dizia enquanto puxava o outro. — Am.. Zé-Zeca, larga mão de ser abestalhado.

Foi quando a inevitabilidade da separação afetou a todos, cada um a sua maneira: o filho corrigiu seus modos, o amigo deixou de ser bobo, a forasteira travou o maxilar e a viúva se afastou.

— Quanto desperdício! Vocês jovens são impossíveis. — Os quatro estavam inteiramente encharcados e João Gomes ileso pastando há alguns metros dali. — É por isso que ninguém acredita quando se fala em agronegócio sustentável.

— Mas se foi a senhora que começou?! — Soraya olhou para ela indignada e se arrependeu quando conseguiu enxergar não só a marcação do sutiã de Simone, ainda mais evidente ao ter a blusa grudada no colo, mas a cor que se deixava perceber: vinho. A mais nova desejava apenas se embriagar naquele vale.

Tebet se deixou levar pelo que podia ver e por tudo aquilo que a sua imaginação fértil e tesão acumulado lhe faziam pressupor. Os seios arrepiados em contato com o bojo úmido. A fricção do jeans com a coxas torneadas. "Por que ela tem que vestir peças tão justas? E por que diabos, nem assim é suficiente pra matar a minha vontade?" Questionava-se. "Porque enquanto ela não estiver nua rebolando na sua boca, nada vai te bastar." A repercussão daquela resposta degenerada, forjou uma reação imediata.

— Eu só continuei o que você tinha iniciado. — "Parabéns! Culpando a moça pelo que você tem vontade de fazer com ela!" Seu contraditor exclamou. — Vou buscar umas toalhas.

Saiu pisando duro com a cabeça a mil. Se deparou com Joice, que tinha uma cara de quem comeu e não gostou, os braços cruzados numa postura de quem acaba de presenciar uma ocorrência desagradável.

— Acabou de brincar com a juventude? Se divertiu? Nessa idade não achei que você fosse cair nas graças dos millennials. Ou seria geração Z? Ah, tanto faz, eu nunca sei.

Sentiu de imediato o peso da bagagem que carregava consigo. Seus ombros enrijeceram, pudesse se ver de fora, teria reconhecido os modos que denunciavam o constrangimento.

— Já tomou café da manhã? Posso pedir para preparem algo pra você. — Optou por ignorar as reprimendas.

A visitante não precisou de mais do que alguns segundos para captar o que aquilo queria dizer. Já desconfiava, mas a naturalidade da pergunta lhe trouxe a confirmação. E ela decidiu não deixar barato.

— Sabe, Simone, essa garota que você acolheu, diferente das outras, não me parece confiável. Em menos de 24hrs eu já lhe vi atirar para todos os lados, para ela, o que colar, colou. — Abanou as mãos em desdém como se espantasse um inseto. — Conheço a laia.

A guinada de assunto provocou um mal-estar genuíno.

— O que você quer dizer com isso?

— Pra Soraya, o que vier é lucro. Mas acredito que, como toda moça com certa beleza, ela deve preferir o herdeiro. Se o pior acontecer, pelo menos eles fariam filhos bonitos. Você não acha? — A pergunta foi cruel e, apesar da entonação casual, Hasselmann sabia disso. Quando se ressentia de algo ou alguém, agia com insensibilidade.

No fundo, gostaria que aquilo não afetasse a outra. Contudo, por conhecê-la há tantos anos, reparou no transtorno acarretado pelo seu comentário, por mais que a viúva tenha se esforçado em coibir.

A Promessa da Viúva [Simone x Soraya]Onde histórias criam vida. Descubra agora