É interessante ver quando o Castiel está assim concentrado fazendo o que mais gosta. Eles ficam cantando e misturando sons durante horas. Comem, riem, cantam e ainda fazem pausas para jogar videogame. No final, passei um tempo incrível, me diverti e ainda sinto que fiz mais amizades, principalmente a Leopoldine, que se ofereceu para me mostrar o melhor cabeleireiro de Londres para eu conseguir retocar a minha tinta escura no cabelo.

"Então? Gostou?" O Castiel me pergunta, assim que nos sentamos os dois no sofá. Eu estou bebendo chá e ele uma cerveja.

"Eu adorei. Estou ansiosa por amanhã! Quero ver o desfecho da música que estão compondo." Ele solta uma risada ao me ver falando assim.

"Nunca pensei ver você assim entusiasmada com isto. Mas, a música é uma surpresa para o concerto daqui a três semanas, não quero que a veja acabada antes do tempo." Franzo a sobrancelha.

"Porquê? Sou eu. Eu estou acompanhando vocês, mereço ouvir antes de todo mundo." Resmungo.

"Não fique assim, garotinha. Apenas, quero que ouça quando todos os detalhes estiverem prontos e isso será no concerto. Até lá, não vá espreitar a letra." A mão dele pousa, como instinto, na minha perna. Estremeço com o toque. Ele retira na hora em que percebe o que fez.

"D-Desculpe." A mão dele viaja para a nuca, em sinal de nervosismo.

"Não, tudo bem." Sorrio. Não está tudo bem, se o Nathaniel soubesse disso ele teria um surto. Teria? O Nathaniel que não respondo as suas mensagens e não dá sinal de vida faz meses? Ele realmente se importaria com isso?
Sopro esses pensamentos fora da minha mente.

"Você ficou com o número da Leo?" Ele pergunta. Eu assinto com a cabeça.

"Sim. Vamos no cabeleireiro no final de semana, talvez vá fazer umas compras. Não trouxe roupa para os concertos." Dou de ombros.

"Vejo que está empenhada." Comenta.

"Não sei, parece que gosto mais disso do que pensei. Agora entendo a sua obsessão, é uma adrenalina incrível." Ele se espreguiça e consigo ver um pouco dos seus abdominais. A verdade é que o Castiel está cada vez mais bonito e em forma. Antes ele não treinava, mas soube que desde que acabou a faculdade e ele tem mais tempo livre, arranjou um personal trainer.

"E você ainda só foi a um ensaio. Os concertos são muito melhores, adrenalina é maior e os gritos dos fãs, ter as pessoas cantando as suas músicas é algo mágico." Um brilho nasce nos olhos dele. Não consigo me impedir de sorrir.

"Você não precisa de pessoas que não queiram estar do seu lado, Castiel." Ele arregala os olhos, percebendo que estou falando dos pais dele.

"O seu talento, a paixão que tem pelas coisas, pelas pessoas. Não merecia ter crescido sozinho, você merece ter pessoas que estão ao seu lado no final do dia para ouvirem como correu os ensaios, os concertos. Alguém para partilhar as alegrias e para o ajudar nos dias menos fáceis." Suspiro, ele apenas se limita a beber a sua cerveja, sem tirar os olhos de mim. Como se estivesse me analisando.

"Espero que encontre essa pessoa em mim, sou sua amiga e estou vivendo isso consigo." Sorrio. Um sorriso fraco cresce no rosto dele. Num gesto lento, ele pousa a cerveja na pequena mesa de centro, aproximando-se de mim. Consigo sentir o seu perfume a milímetros.

"Obrigada. Você sempre foi a única pessoa que se importou comigo." Sem dizer mais nada, os seus lábios macios e frescos tocam no meu rosto, demoradamente. A sua mão direita acaricia os meus cabelos e inconscientemente, procuro a sua outra mão, para entrelaçar na minha. Ficamos assim uns minutos, sem dizer nada. Não sei o que se está passando, porque estamos ficando tão confidentes. Mas, ele é a única pessoa que eu tenho aqui e eu a dele.

E assim essa semana passou. De dia trabalhava, de noite ia a ensaios da banda e ficava cada vez mais próxima de todos eles. Até que chegou o final de semana e era altura do primeiro concerto que eu iria aqui em Londres. Combinei com a Leo de me encontrar com ela bem no centro da cidade para irmos caminhando juntas até ao cabeleireiro.

"Ally! Aqui." Ouço a voz dela assim que me aproximo do centro. Quando a vejo, caminho até ela. Para variar, está vestida de fato de treino. Parece outra pessoa quando não está vestindo as roupas do costume. Ela é realmente muito bonita.

"Ainda tenho que me acostumar consigo a me chamar Ally." Ambas rimos.

"É um nome fofo. Nomes compridos como os nossos precisam de uma alcunha que os simplifique." Começamos caminhando em direção ao cabeleireiro. Está um pouco de frio, mas pelo menos não está chovendo.

"Está ansiosa para o concerto hoje à noite?" Ela pergunta.

"Muito. Acho que já não vou desde o último do Castiel lá na nossa cidade." Relembro do dia do meu aniversário.

"Aquele em que ele lhe dedicou a música?" O meu coração salta uma batida. Ela vai tocar nesse assunto, portanto.

"É." Digo.

"Sabe, não a julgo por nada. Não escolhemos quem amamos, não tem culpa de não ser recíproco." Não sei como me sinto em falar disso com ela, mas vou me manter breve.

"Nunca quis ser rude ou algo assim. Só gosto demasiado dele para mentir." Explico. Os seus olhos pousam em mim uns segundos e esboça um pequeno sorriso.

"Tenho pena, sendo sincera. Ele é doido por você, já perdi a conta das vezes em que chamou o seu nome a outras garotas." Ambas rimos ao imaginar a situação. Não fazia ideia de que ele era assim. Fico feliz, no entanto.

Deixamos o assunto do Castiel para trás e entramos no cabeleireiro. É realmente luxuoso e fomos bem tratadas, desde café a bolachas e ainda fizeram a nossa maquiagem de graça. Acabei por não escurecer o cabelo como tinha planeado, a mulher que tratou de mim explicou que no meu tom de pele um castanho avelã seria o mais indicado, acabei confiando nela com um total de zero arrependimentos, ficou perfeito. A Leo retocou algumas das suas madeixas e fez uma hidratação, ela explicou que por conta da fumaça que eles usam no palco para os efeitos, o cabelo dela fica bastante seco então ela precisa tratar dele algumas vezes.

Foi bastante caro, por sinal, mas valeu a pena. Depois disso, fomos comprar alguns vestidos para eu usar aqui em Londres nos concertos. Como ela explicou, é provável que eu apareça em algumas revistas e posts nas redes sociais por ser vista com a banda, então é preferível que eu esteja no meu melhor. Isso me deu saudades da Rosa, o que me lembra que estarei em Londres quando a bebé dela nascer, isso me deixa triste.

"Vocês vão demorar?" Ouço a voz do Castiel do outro lado da linha no celular da Leo. Eles já estão nos bastidores do bar onde vão atuar, apenas falta eu e a Leo chegarmos, mas estamos terminando de nos arranjar, no apartamento do Castiel.

"Estamos quase prontas, a Ally só precisa calçar os sapatos e vamos." Não é mentira, já estamos prontas. Eu decidi usar um dos vestidos novos que comprei. Um vermelho ousado, que realça a cor do meu cabelo. A Leo está usando as roupas que mais gosta quando atua, sem sair do uniforme habitual da banda.

"Não se esqueça que vai ficar no bar, o nosso produtor não gosta de visitas no backstage, mas o Castiel arranjou um lugar para si na frontline." Ainda bem, não gosto da ideia de ficar atrás do palco, assim posso passar por uma pessoa normal que está curtindo o concerto e beber o que eu quiser. Não o que eu quiser, amanhã trabalho.

Fazemos o nosso caminho até ao bar que já está com uma fila que atravessa os dois lados da rua. Como estou com a Leo, furamos a fila e o segurança se certifica de nos fazer entrar o mais rápido possível.

"É aqui que eu me separo de você. Não vamos demorar para começar, fique nessa mesa em frente ao palco e já avisamos o Jack para vigiar você." Olho para o bar para ver o rapaz acenando e sorrindo. A Leo se despede com um sorriso e eu me sento no lugar que ela falou.

Pedi um mojito para começar a noite e estava quase me levantando para ir no banheiro quando o meu celular vibra. A Chani está me ligando.

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