capítulo catorze.

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— Bom… - deixa no ar movimentando os ombros com deboche como se dissesse "eu avisei". 

Encaro o papel mais alguns segundos e imagino então como será minha vida a partir de agora. Muitas coisas podem mudar diante disso. 

— Quanto anos ela tem? - pergunto. 

— Ela faz dois anos daqui a exato um mês. 

Caramba. 

— Onde ela está agora? - pergunto. 

— Na casa da minha mãe. Ela fica lá com frequência quando preciso resolver umas coisas aqui em New Orleans. Mas você sabe, eu me mudei há meses para o Texas. 

— E o que isso significa? - franzo o cenho. - Você vem aqui e cospe na minha cara a presença de uma filha de dois anos que vai morar a centenas de quilômetros de distância de mim? 

— Você quer que eu mude o direcionamento da minha vida toda por você? - debocha prendendo com rapidez seu cabelo ruivo claro em um rabo de cavalo. - Dê um jeito de visitar sua filha e arque com as consequências. 

Olho-a abismado e nego sorrateiramente. Texas fica a centenas de quilômetros daqui, além de que eu sequer sabia meu futuro no exército ainda. 

— Nós não podemos mudar nossa rotina por você. Louise tem uma vida, eu tenho uma vida, temos toda uma história no Texas. 

— Eu quero ser presente na vida dela, April! Você sabe que meu sonho sempre foi ser pai. - esbravejo. 

— E o que te impede disso? 

— Eu tenho um trabalho e… 

Mude-se para o Texas. 

Sua sugestão me faz arregalar os olhos. Nunca foi uma opção mudar para lá. 

— Não, não. Fora de cogitação - nego imediatamente. Mudando para o Texas, até a logística da minha direção no exército mudaria. E isso não significaria uma coisa boa. 

— Bom, há uma opção. 

April me vê perdido balançando a perna freneticamente embaixo da mesa e se debruça sobre o móvel. 

— Registre Louise e a declare como sua dependente.

Franzo a testa ainda tentando entender onde ela quer chegar e bufo baixo percebendo exatamente sua linha de raciocínio. 

April sabe que soldados do exército possuem regalias e ajudas do governo, dentre elas há um auxílio moradia. 

— Registrar Louise não é bem a questão aqui. - esclareço. - Se está tão por dentro assim do que me é oferecido, você sabe que para registrá-la como minha dependente eu preciso passar mais seis meses exercendo a profissão. 

— Sim, eu sei. - ela assente. 

Na verdade, mesmo sem ter de fato uma pessoa como minha dependente, eu ainda recebo o auxílio e mensalmente entrego a minha mãe, que enfrenta uma luta na justiça para retomar a aposentadoria deixada pelo meu pai quando faleceu a alguns anos atrás.

— Eu sei que você dá uma quantia a Pattie. - ela esclarece e eu analiso seu rosto convencido. - Mas você tem direito a uma outra ajuda que interessa nossa filha. Ou melhor, que ajudaria e muito Louise. 

— Que seria…? 

— Assistência médica e hospitalar. 

— Onde exatamente você quer chegar, April? 

Ela se ajeita na cadeira e explica com mansidão. 

— Louise foi diagnosticada com Diabetes Infantil desde o sexto mês de vida. Financeiramente falando, fica inviável me mudar para cá e manter o tratamento médico dela ao mesmo tempo. O plano médico não cobre um por cento do que nós gastamos mensalmente - explica. - Você sabe, nossa casa no Texas é a minha herança. Em New Orleans nós teríamos ainda mais uma despesa. 

Coço a cabeça já sabendo o problema que isso vai gerar. 

— Você concedendo assistência médica para Louise, me dá passe livre para investir o meu dinheiro morando aqui, perto de você. 

— Morando perto de mim? - debocho. - Eu vou estar na puta que pariu. 

Não é como se fosse coisa de outro mundo voltar para o Iraque ou onde quer que me coloquem, na verdade, esse seria o meu destino de fato até então. Mas agora há muitas coisas envolvidas. 

— Eu só precisaria disso, Justin. Eu mal estou conseguindo arcar com as despesas médicas dela. Você sabe o quão miserável é o sistema de saúde daqui. - suplica. - Nós ficaríamos próximas de Pattie e… 

— Caralho, April. Que porra. - xingo com as mãos na cabeça e os cotovelos apoiados na mesa. 

— Ou você pode nos dar o auxílio que destina a…

— Você está sugerindo que eu escolha entre minha mãe e minha filha? - indago abismado. 

— Eu estou te dando opções. - ela diz por fim levantando da mesa. - Faça sua escolha e então me procure quando decidir. 

— April, você não pode… 

— Louise e eu podemos permanecer no Texas se você quiser. - diz de imediato. 

Balanço a cabeça massageando minhas têmporas e permaneço calado por alguns segundos. A ruiva sai do meu apartamento após afirmar que esperaria uma resposta minha e eu permaneço onde estou. Imóvel, sentado na cadeira da mesa de jantar e completamente perdido sobre a situação. 

São muitas informações para absorver, muitas coisas para pensar e uma decisão para tomar. 

Eu preciso lidar com o fato de que agora tenho uma filha, filha essa que precisa de cuidados médicos e de um pai presente, como também tenho uma mãe que precisa de mim e da ajuda que sempre forneci.

E eu não faço ideia de como tomar uma decisão sobre isso. 

X


Pov curtinho do Justin só pra vocês terem uma noção do que ele pensa sobre Brooke e sobre o novo problema com April. O que acharaamm?

Battle ScarsWhere stories live. Discover now