Primeiro dia de aula

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— Bom dia, turma. — Um homem de terno chapéu bowler, possivelmente na casa dos trinta anos, adentra a sala.

Em uníssono a sala retribui o bom dia, com todos já se sentando e olhando para o professor recém-chegado. Chris coloca a bochecha em sua mão, ainda mantendo a postura confiante.

— Eu sei que todos vocês estão tão animados quanto eu para a aula de hoje. — Diz o professor apontando para o próprio rosto, que só esboçava um rosto cansado e sério. — Mas se acalmem, que hoje temos alguém novo na sala de aula, quem quer que seja, levante-se e se apresente para a turma aqui na frente, tanto faz… — Diz o professor gesticulando com as mãos, como se realmente não estivesse interessado.

Chris já sabia que o homem estava se referindo a ele, então este se levanta e caminha até a frente da lousa em frente à sala com as mãos nos bolsos, o garoto não tinha medo de falar em público então era uma tarefa simples para ele.

— Meu nome é Christopher Lloyd, mas podem me chamar só de Chris mesmo… Sou novo na cidade e espero que possamos ser amigos, se não pudermos… Bem. — Ele tira as mãos dos bolsos e as levanta na altura do ombro, meio que dando de ombros. — Fazer o quê, né? O problema é de vocês.

Não demorou muito para que algumas risadas pudessem ser ouvidas no meio da classe devido ao último comentário ousado do novato. Para completar a apresentação ele faz uma pequena reverência e volta para o lugar em que estava sentado, o professor fica de pé e olha para Chris.

— Ora, ora… Parece que nós temos um piadista aqui, espero que eu não tenha problemas com você, senhor Lloyd. — Diz o professor para o Chris, que faz um sinal de paz com a mão esquerda para ele, o homem só retribui com um levantar de sobrancelha e se vira já começando a escrever algo na lousa.

— Ô professor Brandon! É para copiar? — Pergunta um aluno qualquer no fundão, obviamente estava sendo irônico.

— Meia-noite eu te conto. — Responde o professor com um tom de sarcasmo que aparentemente era natural dele, o que fez algumas risadas ecoarem pelo local por causa da resposta. 

Chris dá um sorriso de canto com isso, pelo que parece o professor é alguém sério, mas que tem senso de humor e sabe brincar, não parecia ser alguém ruim. Mas deixando os pensamentos de lado, ele tira o caderno da mochila e começa a fazer as anotações.

* * *

Passado o tempo de aula o sinal toca para o intervalo e como é de se esperar, todo mundo sai correndo pela porta aos tropeços e empurrões só para ver quem não iria pegar uma fila gigante na cantina, no entanto o novato, vulgo Chris, ficou para trás, não estava com vontade de correr para ser o primeiro da fila, então levantou-se de seu lugar e em passos lentos saiu de sala indo até onde achava que poderia ser a cantina, andando por um tempo encontrou onde ficava então tira o dinheiro do bolso para poder comprar o lanche.

Após ter passado pela fila, ele se senta sozinho e começa a comer, pela primeira vez ele se sentia até que tranquilo ali na cantina, comendo sozinho e sem ninguém o incomodar, sua cabeça estava completamente livre de pensamentos intrusivos. Após ter terminado de comer, o mesmo se retira da cantina e vai para o lado de fora onde tinha a quadra e outros adolescentes interagindo. No entanto, Chris acabou passando direto de um grupo em uma conversa que chamou sua atenção, pois parecia que ele era o assunto da conversa, então ele colocou o capuz sobre sua cabeça e se sentou em um banco próximo, fingindo estar mexendo no celular.

— Ei, vocês não vão acreditar nessa… Vocês se lembram do caso Clockwork? — Diz uma garota de vestido preto, longo e fechado, tinha alguns babados brancos nas mangas e na gola, luvas brancas e sapatos salto alto.

— Sim, o que tem? É mais alguma curiosidade besta sobre casos criminais, Suzane? — Diz um garoto de boina cinza, ele usava roupas casuais que lembravam da era vitoriana, que consistia em um suspensório preto, blusa social branca com as mangas dobradas e botas pretas.

— Não, Travis… O que eu quero dizer, é que aquele garoto novo da sala é o mesmo Christopher que estava envolvido no caso. — Responde a garota com um certo entusiasmo na voz.

— Cacete, por essa eu não esperava… Bem que eu estava achando aquele nome um pouco familiar. — Diz o garoto, cujo nome era Travis, parecendo surpreso com isso. — Então ele estava na nossa sala, huh? Ele não parece tão ruim quanto falam por fóruns da internet. — Comenta Travis se lembrando de ter rido um pouco na sala.

— Opa, opa, calma aí… Pois eu acho que você está um tanto equivocado nessa observação, amigo. — Diz uma voz vindo de cima, Travis olha e vê um garoto sentado nos galhos nus e negros da árvore.

— O que está querendo dizer, Vector? — Questiona Travis com a mão no peito, ele tinha se esquecido da presença do garoto ali, então se assustou.

— Quero dizer que esse tal de Christopher aí, tá meio estranho. — Diz Vector se encostando no tronco da árvore, praticamente se deitando e apoiando os pés no galho mais grosso. — Se é realmente o mesmo garoto que passou por tudo aquilo, por que ele está agindo daquela forma? Sabe… Todo cheio de marra, como se nada do que tivesse acontecido lá no caso Clockwork não existisse? — Diz Vector levantando um ponto novo naquela conversa.

— Talvez ele só queira seguir em frente e deixar o passado para trás. — Diz Suzane apresentando sua visão da razão pelo comportamento de Chris.

— Ou talvez queira causar uma boa impressão? — Diz Travis, complementando a fala de Suzane.

— Bom, dependendo do que vocês acham ou não, eu não confio em uma pessoa que ainda mantém uma postura confiante, mesmo tendo quase morrido e ter sido indiretamente responsável pela morte de algumas pessoas inocentes… Muito inocente achar que se mudando para cá, ninguém irá se lembrar do que aconteceu antes. — Diz Vector nem sequer medindo suas palavras, se sentando novamente e pulando da árvore caindo em pé entre o Travis e a Suzane.

— Vector, isso não é forma de se falar dos outros! — Diz Suzane indignada com a postura adotada por seu amigo.

— Por algum acaso Chris está ouvindo essa conversa? — Diz Vector aguardando alguma resposta, mas acaba não recebendo nenhuma, então ele continua. — Não, né? Então por que se preocupar com essa merda? — Diz Vector de forma ríspida, ajeitando o chapéu e o terno.

— Lá vai vocês de novo, brigando por besteira. — Diz uma garota de roupas mais contemporâneas se levantando do pé da árvore.

— Algum problema, Aliza? — Diz Vector olhando para a garota.

— De forma alguma, não digo nada. — Diz Aliza com um sorriso debochado e dando de ombros.

— Tsk… Só vamos embora e entrar dentro da escola, já estou cansada. — Diz Suzane saindo andando dali deixando os outros para trás.

— Heh… Foi alguma coisa que eu disse? — Diz Travis levantando uma sobrancelha e um sorriso irônico no rosto.

— Sei lá, por que você não se enxerga para descobrir? — Diz Travis na cara de Vector e sai andando logo atrás de Suzane.

— Esse povo vive mal humorado, não aguenta ouvir a opinião dos outros e já ficam bravinhos. — Comenta Travis como forma de deboche e vai seguindo os dois com as mãos nos bolsos.

Aliza ia andar atrás deles, mas a sua atenção estava voltada para alguém sentado no banco próximo, ela estava de olho nele desde o início da conversa, ficou o encarando, mas logo vai embora seguindo o resto do grupo. Chris tinha ouvido a conversa inteira, estava tentando ignorar tudo aquilo, mas as palavras de Vector realmente o incomodaram profundamente, estava apertando a própria coxa de nervoso… "Quem aquele cara pensa que é para ir tirando conclusões idiotas como aquelas?" Ele se perguntava isso.

Chris suspira e se levanta do banco, já caminhando na direção da escola com as mãos nos bolsos. Ele não deixaria aquilo arruinar o dia dele, muito menos desanimar, ele nunca mais teria contato com aquelas pessoas de qualquer forma, então não tinha com o que ficar bravo… No final, ele não precisa dar satisfação do que aconteceu lá atrás para ninguém.

Fim.

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