Enfrentando a Fera

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Por que estou com água na boca?

Ainda nem vi a mulher direito, mas sinto que estou a quinze segundos de perguntar se ela gostaria de vir saborear meus lábios.

Mas o que estava acontecendo comigo, eu nunca tinha tido esse tipo de experiência, nem na escola. Porque ela me fazia ter esses tipos de pensamentos?

Eu deveria correr. Mas, em vez disso, me aproximo.

– Posso adivinhar? Você estava esperando uma velhota de casaco? – Ela pergunta, abruptamente.

Na verdade, sim. Não esperava que Michael Jauregui tivesse tido Lauren mais velho. Bem mais velho, se ele tem a idade que aparenta nas fotos. Mas é claro que não digo isso. Arrisco dar outro passo para a frente, e noto como ela fica tensa à medida que me aproximo.

Ela é mesmo como um animal ferido, e eu teria pena se não suspeitasse de que está usando o ferimento para justificar o fato de que é uma filha da mãe manipuladora.

Bom, se ela quer jogar...

Minha bolsa Chanel ainda está pendurada no ombro, e eu procuro minha carteira enquanto a observo.

Ela me dá as costas por completo, mas agora está presa entre mim e a mesa, com nada além da escuridão do fim do dia para escondê-la.

Paro e espero. A boa educação manda que ela vire para mim, o que não faz. Vou para o lado, mas ela me acompanha, mantendo as costas voltadas para mim.

Sério? Isso é mais do que infantil.

Vou para o outro lado, mas ela me acompanha de novo.

– Quando terminarmos esse jogo, talvez possamos partir para o Ludo ou Banco Imobiliário. Digo, simpática, ainda olhando para suas costas. – Imaginando que você já atingiu esse nível de maturidade, claro.

– Ótimo. – Ela retruca, no mesmo tom agradável. – Jogos de tabuleiro não exigem duas pernas funcionais.

Sinto uma pontada de pena. Talvez eu esteja sendo dura demais com ela. E preciso me lembrar do motivo pelo qual estou aqui. Ajudá-la é uma maneira de me ajudar também. De provar para mim mesma que não sou um monstro.

Antes que eu perceba, minha mão já está sobre o ombro dela. Sei que ela não estava esperando que eu fosse tocá-la, porque, ainda que seu corpo esteja tenso, consigo virá-la para mim. Não totalmente, mas o bastante. Por pouco não consigo segurar o susto que senti.

Eu sabia que Lauren Jauregui era aleijada. Vim preparada pra isso. Mas, apesar de toda a conversa por e-mail, Michael parece ter esquecido de mencionar as cicatrizes irregulares que cobrem o lado direito do rosto da sua filha.

Agora tudo faz sentido: porque ela se esconde na sombra, porque a hostilidade e a amargura vêm de um modo tão natural.

Lauren tira meu braço com um xingamento, e eu espero que volte a virar de costas. Talvez até que me empurre. Em vez disso, ela me encara, deixando que eu a veja direito, e a forma como seus olhos não revelam nada - nem mesmo cautela -, quase parte meu coração. É quase como se pudesse vê-la bloqueando seu lado humano.

Nós nos olhamos por alguns segundos, aproveitando o último fio de luz do dia que entra pela janela. Os olhos dela, emoldurados por cílios grossos, são de um verde que parecem duas galáxias ardentes. Seu cabelo está preso e é difícil para que eu possa distinguir melhor a cor, mas fica entre o preto e o castanho escuro.

Daí, meus olhos se concentram nas cicatrizes. Agora que estou preparada para elas, não me parecem tão ruins. Três linhas descem pelo lado direito de seu rosto, a mais curta vai da extremidade externa da sobrancelha até a parte de cima da bochecha, como se algo tivesse errado seu olho por pouco. A segunda é mais comprida, indo dos fios de cabelo nas têmporas

A bela e a Fera - Camren - G!POnde histórias criam vida. Descubra agora