Cris e Kau

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Cris estava exausta daquele dia de trabalho, mas ao chegar em casa e tirar o salto percebeu que seus problemas mal haviam começado. Afinal na semana seguinte o hotel no qual era gerente estaria recebendo uma conferência de artistas nacionais para um evento cultural. Mesmo um pouco acostumada já em ser gerente de uma das redes mais cobiçadas de hotéis, ela ainda sim detestava sediar eventos de nível nacional.

Enquanto tomava um vinho na banheira quente, ela acabou se perdendo nos próprios pensamentos até perceber o celular notificando várias mensagens de trabalho e foi abraçada por uma raiva derivada do estresse. Quis jogá-lo na parede, mas acabou deixando-o em modo avião para não mais lembrar do mundo lá fora. Ela mergulhou novamente na banheira e ficou mais uns minutos ali debaixo da água que agora se equilibrava com a temperatura do próprio corpo.

Na manhã seguinte, Cris só queria voltar para a sua cama, mas sabia que alguém teria que orientar seus funcionários para começarem a receber os artistas que chegariam a cada dia a partir de suas agendas para o evento da semana seguinte. A falta de paciência estampada em seu rosto, mesmo com os óculos de sol, acabou não amedrontando seus assistentes administrativos que nem a deixaram pôr os pés no prédio direito para já lhe avisarem sobre o trabalho que teriam pela frente.

Quatro dias depois, a gerente já estava exausta e não percebia animo algum em sua equipe também. O lado bom de tudo era que no final do mês eles seriam devidamente pagos para tal, com as horas extras e claro, algumas poucas boas folgas. Numa manhã achou cada um dos artistas mais esquisitos que o outro: viu um cantor de punk rock com cabelo verde escoltado por seguranças aguardava na fila para fazer check-in atrás de uma atriz loira de cabelos cumpridos, os contrastes eram inúmeros e a gerente continuava procurando a perfeição no serviço prestado aquelas personalidades.

No meio da tarde daquele sábado, enquanto passava uma planilha para o setor financeiro em seu escritório, Cris recebeu a mensagem de que no 12º andar precisavam de ajuda para socorrer um dos seus funcionários que estava passando mal no corredor. Após acionar os socorristas, ela foi pessoalmente lá ver se podia ajudar com algo. Tentou ser o mais rápida possível, mas o elevador estava demorando um pouco mais do que o necessário e ela continuou apressada e impaciente. Ao descer no 12º lembrou-se que os corredores do hotel podiam ser mais longos que as suas próprias pernas e foi andando rápido até onde tinham lhe avisado que estavam.

Ao contrário da mulher, que andava apressada por um dos corredores, Kau tinha saído de seu quarto de hóspedes completamente despreocupade já que tinha decidido chegar antecipadamente para o evento que aconteceria dali há duas noites. Kau e Cris se cruzaram no corredor e pararam por um breve segundo para dizer "boa tarde" educadamente um ao outre. Mas foi nesse breve momento que seus olhares se conectaram como quem pergunta se pode entrar na vida do outre com a naturalidade de alguém que já conhece a casa. Ela lembrou-se do porquê estava ali e elu continuou andando em direção ao elevador se perguntando se o pessoal do hotel seria tão lindos quanto aquela mulher baixinha. Ao descer para o lobby, Kau encontrou-se com seu agente e começaram a tomar um drink no bar do hotel conversando para a entrevista que elu daria.

Já Cris tentou concentrar-se no socorro prestado ao funcionário que estava já voltando a respirar normalmente quando os socorristas chegaram para levá-lo ao hospital. A gerente então voltou a pensar em Kau, que ao contrário dos artistas que vira não tinha nada de estravagante que gritasse show business de longe.

- Eu nem acredito que elu está nesse andar! – disse um dos funcionários que estava ali com ela após os socorristas saírem.

- Quem? – Cris realmente estava perdida e não se dera ao trabalho de ver quais as celebridades estariam hospedadas ali eram de seu conhecimento.

Madrugadas IIWhere stories live. Discover now