Capítulo - 17

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Ele me olhou longamente, estreitando os olhos como se puxasse alguma coisa de sua memória. Então balançou a cabeça de um lado para o outro.

- Isso não é verdade. Não foi assim que aconteceu. E eu não consigo te entender, Alice. Por que essa revolta toda se nem liga que eu existo?

Cruzei os braços e fui até a janela. Eu estava inconformada como Jorge queria virar o jogo. Acho que eu poderia matá-lo nesse momento. Eu estava com mais ódio do que na hora que o vi com aquela mulher. Parecia que toda a emoção que segurei naquele momento, ressurgia com força maior. Eu devia ter ido lá e a afastado dele, e jogado água em sua cara. Fazer um escândalo. Eu queria machucá-lo como me machucou. Que ele reconhecesse que havia errado, mas eu sabia que errado ou não, ia dá um jeito de sair por cima da situação.

Jorge passou as mãos pelos cabelos, soltando o ar dos pulmões. Era inacreditável como estávamos tendo a pior discussão desde havíamos nos casado. E logo ali, na casa dos meus pais, do outro lado continente. Nossas conversas eram sempre breves e agressivas. Um sempre se retirando primeiro, sem nunca finalizar o assunto. 

Continuamos ali, no meio sala. A bolsa ainda estava em minhas mãos. Continuamos ali, um de frente para o outro. Incrédula, vi mágoa em seus olhos. 

- Vem comigo Alice... precisamos conversar. - ele me estendeu a mão.

- Nossa conversa acaba aqui. - não esperei sua resposta e fui em direção as escadas, deixando-o ali, no mesmo lugar.

Passei os olhos por meu quarto e sacudi os ombros. Nunca me deixava abater, mas dessa vez estava difícil. Não acendi a luz, fui guiada pela claridade que vinha do abajur, me lembrando das últimas palavras que troquei com meu marido. Me livrei do vestido e fui andando para o banheiro. Só agora, diante do espelho na pia, deixo as lágrimas banhar meu rosto. Por que eu ainda o amava?

Voltei para o quarto e me joguei na cama somente de calcinha. Segundos depois eu chorava novamente., baixinho, pois meu quarto era do lado dos meus pais. Olhei para o teto trabalhado querendo, tentando fingir que estava tudo bem, mas não era assim. Eu era completamente louca por ele, mesmo o odiando por tudo que me havia feito passar. Acabei adormecendo agarrada ao travesseiro, pensando no meu amanhã, nos planos que tinha, e nas decisões que iria tomar antes que tudo ficasse pior do que já estava.

Cinco dias depois eu estava na Itália, em meu ateliê, dando os últimos retoque na decoração. Não tinha visto Jorge. No dia seguinte à aquela noite, quando desci, meus pais me contaram que ele havia chegado na minha casa logo após a minha saída com Ricardo. Perguntou aonde eu tinha ido, e mesmo sabendo onde era o restaurante, estranhamente resolveu me esperar. Para mim foi uma surpresa essa tua atitude. A partir daquele momento não tive mais notícias dele. E quando cheguei, Ítalo já me esperava no aeroporto em um carro diferente do habitual. Ele era lindo e novo. Quando viu minha confusão, Ítalo disse que o carro era meu, que Jorge já o tinha compra a um semana. Não pude acreditar. Chegando em casa, procurei por ele e me Nina disse que ele tinha viajado no dia anterior para Roma, pois foi exigido sua presença com urgência em um de seus hotéis. 

- E vocês não se falaram mais depois disso? E o carro?- Kiara foi entrando com alguns tecidos nas mãos.

- Não. Ligação, mensagem... nada mesmo. O carro está lá na garagem., não quero saber de seus presentes.  - Nem meus pais sabiam onde ele estava hospedado. Confesso que achei que ele viria me procurar novamente, pois nossa conversa ficou inacabada.

- Não vou opinar sobre isso. E o que achou de tudo ele falou? - ela se ajoelhou no chão, no meu lado.

- Eu não sei Kiara. Estela disse que eu deveria ter ido com ele, o escutado, ouvi o que ele tinha a me dizer. O que ele tinha mais para falar? isso tudo é uma bagunça. - respondo desanimada.

- E esse não era o momento para vocês esclarecer tudo?

- Tudo o quê, amiga? Você tem noção que não sei nada da vida de Jorge? que anos atrás eu conheci e me envolvi com uma pessoa totalmente diferente? Tola, me apaixonei por um homem que me prometeu o mundo e de repente me jogou em um abismo.

- Alice, eu acho que vocês deviam sim ter um conversa. Precisam esclarecer vários pontos que te confundem.

- Não tem conversa. Você precisava ver como ele negava tudo. Disse que não tem amante nenhuma. É muita cara de pau. Mas não é só isso, não é só esse momento atual, entende? 

- Eu sei.

- Jorge me chantageou, me obrigou a morar aqui na Itália, viver em uma casa onde viveu com a esposa, 

- Pera, isso não procede. Jorge mudou para essa casa a pouco mais de um ano. Quando me casei com Enzo, a dois anos atrás, ele ainda morava na antiga casa., e tinha apenas ficado viúvo.

- Como assim? então ele comprou essa casa recentemente? - olhei para ela interessada.

- Não. Parece que a casa foi herança de um tio. Ele só a reformou. - nesse momento chega uma mensagem em seu celular - É Enzo, preciso ir. Depois a gente se fala.

Minha cabeça estava a mil. As peças do quebra cabeças não se encaixavam. Estava tudo uma confusão. O que Jorge me escondia? O que ele tanto fazia dentro daquela casa? O que tem lá que ninguém pode ver? 

 Analisando bem, as atitudes de Jorge não condiziam com suas emaças.  Cartões, roupas, presentes... E esse carro agora? Já no final da tarde, sem conseguir me concentrar em mais nada, pensando nas coisas que Kiara havia dito, decidi ir para casa e acabar de uma vez por toda com todo esse mistério., começando pelo anexo. Liguei para Ítalo e disse que o estava aguardando.

Quando estacionamos na frente da casa., vejo o carro de Jorge. Se estava ali, quer dizer que ele já tinha chegado, senão estaria no estacionamento do aeroporto. Não entrei., fui direto para os fundos, ao encontro de meu objetivo. E lá com certeza estava ele, pois as luzes estavam acesas. Enraivecida, bati os punhos furiosamente na madeira maciça. 

- Abra essa porta, agora! eu sei que você está aí. 

Ouço passos vindo em minha direção., gira a chave e ela se abre. Os olhos de Jorge não largam os meus enquanto se afasta me dando passagem. Dou um grito de espanto, sem poder acreditar nos que os meus olhos veem. 












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